segunda-feira, dezembro 04, 2017

HISTÓRIAS DE AMOR QUE NÃO PERTENCEM A ESTE MUNDO (Amori Che Non Sanno Stare al Mondo)

Falar com saudade do glorioso cinema italiano de outrora já virou lugar comum sempre que se fala sobre novos exemplares vindos do país da bota. Então, pulemos este clichê e passemos direto ao filme de Francesca Comencini, o sentimental, divertido e comovente HISTÓRIAS DE AMOR QUE NÃO PERTENCEM A ESTE MUNDO (2017), que tem ganhado pouca repercussão, mesmo no circuito alternativo.

Isso é algo que não deveria acontecer, levando em consideração tanta coisa boa que a filha de Luigi Comencini nos presenteia neste seu novo filme. Francesca até já tem uma filmografia relativamente extensa, iniciada nos anos 1980, mas esta comédia romântica estrelada por Lucia Mascino é sua primeira produção a estrear em nosso circuito. Antes tarde do que nunca. Mesmo utilizando do velho expediente de colocar a palavra “amor” como um atrativo para o público.

De todo modo, há amor no título original também e o amor é o grande tema do filme. Acompanhamos a trajetória da professora Claudia (Lucia Mascino), uma mulher que não se conforma com a perda e o distanciamento do grande amor de sua vida, o também professor Flavio (Thomas Trabacchi). Ambos foram apaixonados por um bom período de tempo, mas a insistência de Claudia para ter um filho com Flavio e sua insegurança acabaram por complicar o relacionamento.

O filme é narrado pelo ponto de vista de Claudia e vemos algumas cenas em flashback que flagram alguns dos melhores e dos mais difíceis momentos da relação do casal. O filme não se frustra em mostrar a paixão desesperada da mulher, em detrimento da calma e tranquilidade de Flavio. Para ele, a separação não foi nenhum fim do mundo. Pareceu algo indiferente.

Porém, é interessante notar o quanto o mesmo homem se sente inseguro perto de outra mulher, uma moça bem mais jovem que ele, sua aluna. A bela e jovem garota, por sua vez, se sente segura, enquanto ele procura ser um ás na cama, o que normalmente acontece com homens depois dos 40, que se tornam menos egoístas e mais interessados em dar mais prazer à parceira, ainda que isso possa trazer também uma sensação de poder e contentamento. É até uma pena que o filme se detenha pouco nessa relação de Flavio com a jovem Nina (Valentina Bellè).

O que não quer dizer que não achemos também adorável e engraçada a desesperada protagonista Claudia, em sua insistência em ter esperança de que o homem que ama ainda voltará para ela. Sentimos um pouco de sua dor nessa dificuldade de virar a página. Só em conseguir isso já podemos louvar o trabalho de Francesca Comencini, que ainda conta com aspectos técnicos belíssimos. A fotografia e a direção de arte valorizam tanto os interiores quanto as lindas paisagens, e a trilha sonora e as canções são belas o suficiente para enternecer o espectador.

O diálogo final de Claudia com Flavio está entre os mais belos e agridoces do cinema recente. Mas é preciso passar pela confusão inicial da narrativa e, posteriormente, pelo apego com os personagens para entender aquele momento pelo caminho do coração. Até porque muitas pessoas poderão se identificar com um ou outro personagem ou com determinado momento de sua vida.

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