domingo, janeiro 29, 2017























Federico Fellini já havia mostrado que a Europa estava muito à frente dos Estados Unidos na condição de mostrar a contracultura no cinema com A DOCE VIDA (1960), este que é um dos melhores filmes do mundo. Foi um filme tão marcante que meio que secou a criatividade de seu criador, que teve que apelar para uma história sobre crise criativa, novamente trazendo Marcello Mastroianni como seu alter-ego, para seguir em frente.

Resultado: com 8½ (1963), Fellini se reinventou, criando uma obra barroca que representaria a virada de sua carreira, o filme cujo adjetivo "felliniano" ganharia não apenas sentido, mas ganharia o mundo. Sair de uma obra como A DOCE VIDA e imaginar que jamais conseguirá fazer algo tão bom é mais do que natural. A grande sacada foi usar a própria angústia e extravasar, criando um trabalho ainda mais moderno do que o seu longa anterior.

Confesso que nesta segunda vez que vi o filme ainda não entrei totalmente em sua viagem (talvez estivesse com o pensamento muito focado nos problemas pessoais), mas gostei bem mais do que da primeira vez que vi em VHS, quando não entendi nada. A longa duração também não ajudou na época. Desta vez, ainda que não conheça todas as atrizes que aparecem no filme como mulheres importantes na vida do cineasta mulherengo Guido Anselmi (Mastroianni), já dá para perceber o quanto elas se destacam pelas suas funções e características especiais.

Claro que fiquei mais encantado com Claudia Cardinale, tão maravilhosamente bela nesta época, mesmo ano de O LEOPARDO, de Luchino Visconti. Por mim, o filme seria só dela. Dela e de Mastroianni. Mas há que se dar também o devido crédito às outras atrizes que brilham no filme, como Anouk Aimée, que já havia aparecido em A DOCE VIDA, e a beleza estranha e toda especial de Barbara Steele, que ainda é mais lembrada por A MALDIÇÃO DO DEMÔNIO, lindo clássico do horror de Mario Bava.

Se Fellini iria fazer ainda um filme que remontasse à sua infância, o tão querido AMARCORD (1973), já em 8½ essas lembranças apareceriam de maneira forte, seja pela lembrança da mãe, seja pela lembrança de uma mulher louca que marcou sua juventude. De cabelos grisalhos, Mastroianni ainda aparece como um homem bastante querido pelas mulheres. E ele gosta muito disso. A fantasia de estar numa banheira, cercado por várias mulheres cuidando de si é bem representativa disso.

Como o seu primeiro filme com uma forte atmosfera de sonho – na verdade, vários sonhos dentro de um filme que já parece um sonho -, 8½ é uma espécie de labirinto em que devemos nos perder e nos encontrar em diversos momentos. Há também muito espaço para o humor. Na verdade, o filme é uma comédia, ainda que uma comédia barroca, cheia de excessos na forma como mostra seus personagens e suas situações.

Ainda devo vê-lo mais uma ou duas vezes, talvez mais, para definitivamente entrar com prazer em sua viagem. Eu chego lá. Não tem pressa. O importante é que filmes como este estão encontrando e reencontrando seu público em cópias remasterizadas e muito bem cuidadas. Parabéns a todos os envolvidos.

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