terça-feira, abril 14, 2015

CINCO CURTAS BRASILEIROS



Alguns vistos no ano passado, outros vistos neste ano. O fato é que eu andei vendo curtas demais em 2014 e não tive o devido cuidado de escrever minhas impressões sobre eles. Assim, tive que rever estes cinco para poder escrever pelo menos um pequeno parágrafo sobre cada uma dessas pequenas e belas obras de nossa cinematografia.

ESTÁTUA!

Gabriela Amaral Almeida conquistou seu espaço no cinema fantástico brasileiro com seu ótimo curta A MÃO QUE AFAGA (2012), que flertava com o horror, mas não tanto quanto este ESTÁTUA! (2014, foto), um autêntico filme do gênero, que lida com o medo, a maternidade e quão más as crianças podem ser (pelo menos na cabeça da protagonista). Neste novo filme, Maeve Jinkings é uma mulher grávida de três meses que aceita a tarefa de ficar cuidando por alguns dias de uma menina de comportamento esquisito. O que parecia ser apenas algo estranho começa a se transformar em terror na vida da mulher. Muito da força do filme está nos enquadramentos, no modo como a diretora brinca com o campo e o extracampo, de modo a mostrar ou esconder a menina.

SE ESSA LUA FOSSE MINHA

Interessante o modo recorrente como alguns novos cineastas têm misturado a ficção científica com o documentário. No campo dos longas-metragens mais recentes, o melhor exemplo disso é BRANCO SAI, PRETO FICA, de Adirley Queirós, mas em SE ESSA LUA FOSSE MINHA (2013), Larissa Lewandoski faz algo simples e também bem interessante, ao brincar com a escassez de recursos, usando papel alumínio para confeccionar capacetes de astronautas, mas principalmente ao fazer perguntas a pessoas simples da rua, algumas delas um pouco alteradas pelo álcool, outras um tanto mais sóbrias no sentido amplo do termo. As respostas nem sempre precisam ser do jeito que a diretora quer, mas do jeito que sai, o que torna o seu trabalho mais poético e estranho.

BATCHAN

Dá pra sentir o carinho com que Gabriel Carneiro fez seu BATCHAN (2013), explicitamente uma homenagem ao cinema de Yasujiro Ozu, com direito a discussões familiares que muito lembram a situação de ERA UMA VEZ EM TÓQUIO. Na breve história, Noriko é uma senhora idosa que mora sozinha e recebe a família um tanto numerosa para almoçar. Vemos as distâncias entre as gerações através de comportamentos e conversas, mas há também todo um cuidado com os enquadramentos, de modo a emular Ozu. Excepcionalmente lindo o plano final, um dos poucos em que há de fato uma movimentação da câmera.

LA LLAMADA

Eis um filme que melhora bastante na revisão. LA LLAMADA (2014), de Gustavo Vinagre, nos pega pela estranheza. Não dá de mãos beijadas as informações para o espectador, que inicialmente fica sem saber que país é aquele, qual a situação do protagonista Lázaro, um vendedor de frutas e legumes, com o filho, que ele afirma no início da entrevista não ter. Essa situação com o filho e a questão de um telefone que será instalado em seu estabelecimento será de fundamental importância para a cena mais emocionante. Há também um jogo muito bonito entre documentário e ficção, já que o diretor conduz a situação e a montagem de modo que até mesmo aquilo que acontece ao acaso se torne parte do enredo. É também um filme muitíssimo agradável de ver, em seus quase 20 minutos de duração.

A ERA DE OURO

Mais um filme que melhora bastante na revisão. E é admirável o crescimento na direção do jovem Leonardo Mouramateus, de FUI À GUERRA E NÃO TE CHAMEI (2011), MAURO EM CAIENA (2012) e LIÇÃO DE ESQUI (2013). A ERA DE OURO (2014), feito em parceria com Miguel Antunes Ramos, representa uma nova etapa na carreira de Mouramateus, e funciona também como uma transição, já que seus protagonistas são dois cearenses em São Paulo. Ela (Ana Luiza Rios) trabalha já há dois anos em uma empresa de investimentos; ele (Arthur Abe) é o sujeito que quer levá-la de volta, que quer reatar o relacionamento que tiveram no passado. As coisas ficam um tanto tensas durante uma festa na empresa em que ela trabalha. O impressionante de A ERA DE OURO é a maturidade na direção de Ramos e Mouramateus, no modo como os diálogos são recitados (seja de maneira naturalista, seja mais performáticos) e as diferentes posições da câmera em uma simples conversa numa mesa entre quatro pessoas.

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