quinta-feira, novembro 27, 2014

O SÉTIMO SELO (Det Sjunde Inseglet)























Muito boa a oportunidade que tive de rever O SÉTIMO SELO (1957), filme tão reverenciado por tantos cinéfilos e estudiosos do cinema, mas que não cheguei a apreciar de verdade quando o vi em VHS. No cinema e, ainda mais em película bem conservada e boa projeção, é outra coisa. É como se eu voltasse a ficar de bem com Bergman de novo, que durante algum tempo foi sempre aquele diretor que eu deixava pra ver depois, com calma, até por ele ter uma filmografia bem extensa.

O filme foi lançado na Europa logo após SORRISOS DE UMA NOITE DE AMOR (1955), obra que o consagrou e que, assim como O SÉTIMO SELO, teve passagem por Cannes. Hoje muitos acham injusto Bergman ter perdido a Palma de Ouro para SUBLIME TENTAÇÃO, de William Wyler, mas premiações têm dessas coisas. O que mais importa é o quanto o filme sobreviveu sem deixar de ser relevante e sem perder a sua força.

O SÉTIMO SELO só seria lançado nos cinemas brasileiros em 1974 e aí vemos o quanto temos sorte atualmente de ter em fácil acesso, nos sites de compartilhamento da vida e em ótima qualidade, toda a filmografia do cineasta à disposição. Basta querer. Sem falar no caminho legal, que é o das ótimas versões em DVD e BluRay da maioria de seus filmes à venda em lojas nacionais e estrangeiras.

Diferente de MORANGOS SILVESTRES (1957), que tem uma melancolia mais constante e muito presente, O SÉTIMO SELO equilibra o aspecto sombrio da presença da morte e da peste negra de uma Suécia medieval com momentos de humor, de leveza, em especial as cenas envolvendo a trupe de saltimbancos. Mas apesar da beleza de Bibi Andersson que faz uma personagem nessa trupe, o que mais chama a atenção mesmo é o drama de Antonius Block (Max Von Sydow), o cavaleiro que volta das cruzadas totalmente desiludido, após ter lutado em vão por uma religião cheia de falhas, enganações e outras atrocidades.

Diante da morte iminente, personificada por Bengt Ekelund, que lhe concede um tempo para uma partida de xadrez, ele procura o sentido da vida e a existência de Deus, já que sobre isso nem a morte sabia. Assim, não deixa de ser tocante o momento em que ele encontra uma jovem acusada de bruxaria e prestes a ser queimada na fogueira, para saber se ela teve contato com o diabo, de modo que ele pelo menos tivesse algum intermediário para encontrar Deus. Nem mesmo isso. Apenas o nada absoluto. Aliás, a cena da jovem queimando na fogueira lembra um pouco a da obra-prima DIAS DE IRA, do dinamarquês Carl Th. Dreyer, ainda que menos intensa.

Não só Antonius, mas praticamente todos os personagens de O SÉTIMO SELO estão destinados a sucumbir diante da morte, sendo poupados apenas um casal e o bebê da trupe, que representam o que há de puro na humanidade, uma amostra do humanismo do cineasta. O amor de Bergman pelo teatro também pode ter interferido na escolha e no carinho pelo casal, já que ambos são atores itinerantes de um circo.

E foi assim que eu fiz as pazes com O SÉTIMO SELO – ninguém merecia aquela cópia tosca em VHS da Continental – e fico na torcida para que arrange um tempo para me dedicar um dia à obra desse cineasta que influenciou de maneira forte a obra de dois dos meus diretores favoritos, Woody Allen e Walter Hugo Khouri. Não posso renegar o mestre e reverenciar tanto os discípulos.

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