segunda-feira, novembro 18, 2013

FINSTERWORLD























Dos quatro filmes que vi no Panorama Alemão, atualmente em cartaz no Cinema do Dragão, em Fortaleza, até o dia 21, o que mais apreciei foi este FINSTERWORLD (2013), que, apesar de ter algumas fragilidades no roteiro, é uma obra que mexe com a própria culpa alemã. Há um diálogo especialmente interessante, dentro de um carro, de um jovem e um casal que ele encontra pelo caminho, em que ele cita o quanto a Alemanha não tem um ícone a ser lembrado, como os Estados Unidos têm, como o Mickey Mouse. Enquanto isso, o maior ícone alemão é Adolf Hitler. O próprio casal, anteriormente, ao escolher um carro para aluguel, faz questão que não seja um carro alemão, chamando-os de nazis.

Outro momento interessante: um professor leva um grupo de estudantes para visitar um campo de concentração e fala para eles do absurdo daquilo, de como um povo não tem o direito de fazer aquilo com outro etc. Aí ele pede que alguém externe o sentimento em relação àquilo e todo mundo fica calado. O silêncio pode representar muita coisa ou não representar coisa nenhuma, já que havia ali alunos de todos os tipos.

Trata-se de um "filme coral", com tramas aparentemente independentes, mas que eventualmente se encontram. Assim, há o sujeito que é pedicure e que tem um estranho hábito; a velhinha que é abandonada pela família em uma casa de repouso; um guarda de trânsito que gosta de se fantasiar de urso; um grupo de estudantes que se dividem em jovens neonazistas e um casal que se veste como se fosse da Alemanha Oriental (segundo palavra dos outros jovens); uma cineasta frustrada; um homem que vive sozinho na floresta; e o casal rico do carro.

O filme, estreia da diretora Frauke Finsterwalder, tem como título um trecho do nome de sua criadora, o que não deixa de curioso para alguém que está ainda começando a carreira – Finsterwalder vem de dois documentários e de um episódio de uma série alemã. É como se ela já estivesse anunciando um estilo bem definido para toda sua carreira. Seu trabalho lida com questões muito interessantes e que são um tabu para o povo alemão, além da questão da solidão e da dificuldade de pertencimento.

Ainda que algumas das conclusões para as subtramas sejam frágeis, como o fato de o professor se permitir ser preso, isso pode ser visto tanto como uma aceitação da culpa (que seria coletiva e também pertencente a esta nova geração), como para corroborar o tom de fábula que FINSTERWORLD abraça.

Torço para que o filme encontre distribuidor brasileiro. Mais pessoas deveriam conferir este trabalho, que além de tudo tem uma beleza plástica de dar gosto. As ótimas cópias em DCP oferecidas pelo German Films e a boa aparelhagem da sala contribuem para uma melhor apreciação.

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