terça-feira, abril 16, 2013

FAZIL























Convenciona-se dizer que o melhor filme da fase muda de Howard Hawks é A GIRL IN EVERY PORT (1928). E talvez seja mesmo. Mas confesso que fui pego de surpresa com FAZIL (1928), que ele fez logo em seguida, e que é uma espécie de filme de transição entre a fase muda e a falada. Já havia música própria e som sincronizado em algumas partes do filme, o que torna o resultado bem interessante. Até porque a trilha sonora solene é de uma beleza impressionante.

Agora, é um filme que destoa bastante do tom menos carregados dos trabalhos de Hawks, que nunca foi de chorumelas nem em seus filmes mais dramáticos. Ainda assim, FAZIL é como se fosse o outro lado da mesma moeda de PAID TO LOVE (1927), embora esses filmes sejam de gêneros opostos. No lugar de uma comédia romântica, uma tragédia romântica. O que há de comum no filme dentro da filmografia de Hawks é a figura feminina, independente, não importando as circunstâncias.

E no caso de FAZIL as circunstâncias são bem complicadas. Afinal, ele, o príncipe Fazil, é um árabe mulçumano com costumes bem distintos de uma parisiense dos loucos anos 1920, quando a Europa vivia um momento todo especial, de vanguardas e novas liberdades, inclusive para as mulheres. E Fabienne (Greta Nissen) era uma típica mulher daquela época. E, assim como o príncipe de PAID TO LOVE, o príncipe Fazil também não tinha interesse por nenhuma mulher de sua região. Até conhecer uma moça bem especial, em uma viagem de negócios que faz a Veneza.

Aliás, que cena linda aquela do primeiro beijo dos dois, na gôndola. A fotografia escura, acentuada pela cópia ruim, esconde o primeiro contato dos lábios dos dois,que fica totalmente na penumbra, para depois um pouco da luz da lua nos revelar. E é uma cena incrivelmente sentimental, com a música veneziana ao fundo. É até possível sentir as pulsações dos corações dos dois. E como é natural nos filmes de Hawks, as coisas acontecem muito rapidamente – não à toa ele tem um filme chamado VIVAMOS HOJE (1933). Os dois logo se casam, mas a diferença cultural torna tudo muito difícil.

Curioso notar que, mesmo nesse filme tão pesado e solene, Hawks ainda faz uma piada, dessa vez de humor negro: trata-se da cena em que um dos homens de Fazil é pego por ter fugido do exército. Quando o carrasco pega a lâmina para lhe decepar a cabeça, tudo para, pois é o momento de orar, ajoelhado de frente para Meca. Esse momento destoa do tom geral do filme, mas não atrapalha, até por ser uma das primeiras cenas.

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