sábado, dezembro 22, 2012

AS AVENTURAS DE PI (Life of Pi)























O ano está pertinho de chegar ao fim, mas grandes filmes ainda entram em cartaz. É o caso de AS AVENTURAS DE PI (2012), uma experiência como nunca se viu antes no cinema. Principalmente se visto em 3D. O trabalho de Ang Lee é admirável. Lembremos que o cineasta é famoso por seus dramas ao mesmo tempo delicados e intensos, mas que ele também teve uma experiência curiosa com o uso da computação gráfica em HULK (2003). Agora que Hollywood chegou num estágio mais avançado do uso da CG, ele pôde fazer milagres, criando animais tão reais quanto o próprio ator que interpreta Pi (Suraj Sharma). É tudo tão orgânico que você esquece que aqueles animais só existem no filme.

Na trama, Pi Patel é um jovem indiano que professa três religiões: ele nasceu hindu, mas aconteceu de conhecer também o Cristianismo e o Islamismo. Assim, alguns momentos são bem divertidos, como quando ele agradece a Krishna por ele tê-lo apresentado a Jesus. Devido a problemas de ordem política e econômica, a família se vê obrigada a deixar a Índia e decide partir para o Canadá, levando todos os animais num cargueiro. Durante uma grande tempestade, o cargueiro afunda e Pi se vê sozinho com quatro bichos no mesmo barco: uma zebra, uma hiena, um orangotango e um tigre de bengala.

A cena dos quatro animais dentro do barco salva-vidas é tão intensa que o espectador fica com os braços agarrados à poltrona de tanta tensão. Por outro lado, a sensação de maravilhamento vez ou outra pega o espectador em cheio, graças à beleza exuberante das imagens criadas artificialmente. Nem sempre o filme tenta ser realista, formando lindos painéis do céu e do mar, que se juntam como se fossem um só. O primeiro efeito do nascer do sol é igualmente lindo e isso contrasta com a agonia e dor do protagonista, que, graças à sua fé, muitas vezes se sente agradecido por pequenas coisas que lhe são dadas pela providência divina, como um peixe, que ele é obrigado a matar para saciar a sua fome, por exemplo. Para quem é, além de vegetariano, muito religioso, isso chega a ser um pecado terrível. Mesmo assim ele agradece a Deus por aquele presente. Mas o que é especialmente bonito mesmo é a sua relação com Richard Parker, o tigre, a quem ele lhe deve a vida.

AS AVENTURAS DE PI só comete alguns vacilos perto de sua conclusão. É o caso de tentativa de ser fiel à história do livro que não foi muito feliz. Ainda assim, o ator que faz o Pi mais velho (Irrfan Khan) empresta credibilidade ao personagem, o que ajuda a tornar a conclusão mais próxima da religiosidade e da filosofia almejadas. E ainda entra em questão o próprio ato de se contar histórias, que é algo que faz parte da essência do homem e que tem há uns cem anos o cinema como aliado.

Outro problema do filme reside na trilha sonora, que em algumas sequências mais dramáticas tenta puxar a emoção à força, chegando a incomodar. A trilha ficou a cargo de Michael Danna, que fez trabalhos pouco memoráveis em filmes como CAPOTE e PEQUENA MISS SUNSHINE. Nem parece o trabalho excepcional de Gustavo Santaolalla, que em O SEGREDO DE BROKEBACK MOUNTAIN (2005) emocionou com sutileza. Porém, esses problemas são pequenos detalhes de um filme que já se mostra lindo desde os créditos iniciais.

AS AVENTURAS DE PI recebeu três indicações ao Globo de Ouro 2013: melhor filme (drama), melhor diretor e melhor trilha sonora original. 

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