quinta-feira, julho 19, 2012

L'APOLLONIDE – OS AMORES DA CASA DE TOLERÂNCIA (L'Apollonide (Souvenirs de la Maison Close))



Quanta beleza se vê neste L'APOLLONIDE – OS AMORES DA CASA DE TOLERÂNCIA (2011), de Bertrand Bonello. E, ao mesmo tempo, quanta crueldade e quanta dor compartilhamos com as meninas do Apollonide, o bordel de luxo parisiense da virada do século XIX para o século XX, onde elas vivem e fazem comércio – termo citado em algumas cenas – e, por que não dizer também, amor. Uma delas é apaixonada por um cliente. Justo a que contrai sífilis. A princípio me incomodei um pouco com o fato de o filme não dar conta, em sua metragem, da dúzia de personagens da casa, mas aos poucos a gente percebe que o foco é dado apenas às mais importantes: a mulher do rosto desfigurado, a jovem caloura, a dona do estabelecimento, entre outras que ficam em segundo plano por causa do pouco tempo para se explorar os seus dramas.

Do mesmo diretor de O PORNÓGRAFO (2001) e TIRESIA (2003), L'APOLLONIDE – OS AMORES DA CASA DE TOLERÂNCIA apresenta o bordel como local de lazer para homens ricos e/ou carentes. Essas mulheres representam mais do que simples diversão para boa parte deles, que se mostram felizes na sala de estar. E também satisfeitos ao poder contar com as garotas que podem satisfazer suas fantasias sexuais mais bizarras, como a da boneca ou a da gueixa. E uma tão bizarra quanto extremamente cruel e horrível: cortar a boca de uma mulher, enquanto ela está amarrada e indefesa.

Madeleine, "a mulher que ri", é a personagem mais complexa do filme, que explora aos poucos o sonho recorrente que ela tem, assim como as lembranças de seu passado recente e traumático. E algumas vezes a trilha sonora, do próprio Bonello, utiliza um registro de tensão, dando ao filme mais dramaticidade e uma expectativa de que algo pior pode acontecer. Mas a canção que abre o filme, nos créditos, a ótima "Bad Girl", de Lee Moses, apesar de ser um rock sessentista, que pode destoar com a época do filme, a Belle Époque, funciona que é uma beleza para apresentar o elenco.

Em certo momento, um homem que trata muito bem as mulheres pede para que uma delas lhe mostre bem sua genitália, dizendo: "os homens nunca olham o bastante para o sexo das mulheres". Como não é apenas uma vez que ele fala isso, essa frase deve ser levada em consideração como uma das mais importantes do filme. Um filme que, embora também tenha muitos diálogos, se sustenta mais nas belas imagens, quase pinturas; na direção de arte e nos figurinos caprichados; e nos belos corpos nus ou seminus daquelas jovens mulheres.

A cópia em digital pode não fazer jus à beleza do que seria ver o filme em glorioso 35 mm, mas vê-lo no cinema é quase um dever para quem gosta de cinema. Especialmente de um cinema cada vez mais raro nestes tempos em que obras que fogem da mesmice, mesmo as que possuem apelo erótico, são relegadas a guetos alternativos.

P.S.: No Blog de Cinema do Diário do Nordeste tem a lista dos filmes selecionados para o 45º Festival de Cinema Brasileiro de Brasília. Confira AQUI.