quarta-feira, maio 09, 2012

SANGUE ARDENTE (Hot Blood)



Um trabalho menor de Nicholas Ray, SANGUE ARDENTE (1956) sofreu problemas por pressão da Columbia, que queria que o filme ficasse pronto antes que o cineasta tivesse finalizado por completo o seu roteiro. Inclusive, havia também uma intenção por parte de Ray de transformar o filme num musical, algo que pode ser percebido em algumas tristes tentativas – a melhor delas acaba sendo a sequência em que Jane Russell canta uma canção de amor para o marido que a rejeita. Mas o que se aproveita do filme são mesmo os curiosos hábitos dos ciganos (que não se sabe quão fiéis são à realidade, tendo em vista o costume de o cinema americano tratar assuntos estrangeiros de maneira equivocada) e principalmente o belo uso do technicolor, que já havia sido muito bem utilizado em JOHNNY GUITAR (1954) e em JUVENTUDE TRANSVIADA (1955). Em SANGUE ARDENTE, as cores beiram ao delírio, com muita ênfase no vermelho.

O começo do filme já parece assinalar um pouco de preconceito para com os ciganos, que são mostrados como assumidamente trapaceiros. Mas logo o filme vai revelando mais detalhes da vida daquela família e vemos a dignidade, especialmente de Marco (Luther Adler), o rei da tribo cigana que quer passar o cetro para o irmão mais novo Stephano (Cornel Wilde), arranjando-lhe um casamento com uma moça cigana de uma tribo de Chicago, Anne (Jane Russell). Isso porque ele descobre que está com uma doença grave e que não tem muito tempo de vida. Stephano, porém, rejeita os costumes ciganos e o casamento arranjado, embora ache a noiva bela. Ela o engana dizendo que na hora do casamento vai engasgar e ele poderá cancelar a cerimônia, coisa que não faz, deixando Stephano indignado.

O filme é tão leve que nem parece uma obra de Nicholas Ray. Todos os elementos que poderiam ser tratados de forma mais dramática, como a doença de Marco e o complicado relacionamento entre Stephano e Annie, são vistos de maneira suave, como numa comédia. O que não deveria ser um problema, mas que resulta num filme sem força. Ray não estava totalmente recobrado de JUVENTUDE TRANSVIADA, Jane Russell chegava cansada das filmagens de OS HOMENS PREFEREM AS LOIRAS, de Howard Hawks, e o produtor do filme era inexperiente. Essas informações, contidas no livro "The Films of Nicholas Ray" são adicionais, mas ajudam a entender o que foi esse projeto que não deu certo nem como drama, nem como comédia e muito menos como um resquício de musical. Ainda assim, SANGUE ARDENTE não é um filme que aborrece, sem falar que é muito bonito de ver pelo uso das cores, da decoração, da direção de arte e dos figurinos. Apenas não é bom o suficiente dentro da filmografia de Nicholas Ray.

P.S.: Está no ar a terceira parte de "Livros Essenciais de Cinema", que escrevi para o blog do Diário do Nordeste. Confiram quais foram os selecionados da vez AQUI.