segunda-feira, março 15, 2010

ILHA DO MEDO (Shutter Island)























Sempre que um cineasta de primeiro escalão resolve dirigir um filme de horror, o resultado é carente de sustos quase na mesma proporção que é rico em sofisticação visual. Pense em O ILUMINADO, de Stanley Kubrick, DRÁCULA DE BRAM STOKER, de Francis Ford Coppola, ou mesmo DESAFIO DO ALÉM, de Robert Wise. Com ILHA DO MEDO (2010), chega a vez de Martin Scorsese experimentar o gênero. Ainda que ele já tenha dirigido um thriller com resultado ainda mais impactante - CABO DO MEDO (1991) -, é a primeira vez que o diretor abraça um horror sobrenatural num longa para cinema. Na televisão, Scorsese chegou a dirigir um episódio de horror para a série AMAZING STORIES - HISTÓRIAS MARAVILHOSAS chamado "Mirror, mirror" (1986).

Há quem diga que ILHA DO MEDO é um falso terror, um veículo para que o diretor exponha mais uma vez o seu elogio à loucura, visto de maneira genial em O AVIADOR (2004). Para isso, o diretor se utiliza dos variados clichês do gênero, tomando o cuidado para não banalizá-los. Na verdade, há poucos momentos de sustos no filme. Scorsese aposta mais na atmosfera. A fotografia de Robert Richardson é de encher os olhos. Ajuda a tornar o ato de ver o filme agradável desde os primeiros fotogramas, que mostram um cenário nebuloso, onde vemos um barco e uma ilha. No barco, o detetive vivido por Leonardo DiCaprio vomita por causa dos enjoos causados pelo balanço do mar. Ele está acompanhado de um novo parceiro (Mark Ruffalo). O destino: Shutter Island, uma ilha-presídio-hospício que abriga criminosos perigosos e com sérios problemas mentais. O caso a ser resolvido envolve o desaparecimento de uma paciente.

O clima de pesadelo crescente vai se instalando aos poucos, quando o personagem de DiCaprio passa a questionar a própria sanidade. Seria culpa das pílulas para enxaqueca que o diretor do hospital (Ben Kingsley) lhe deu? Alguns momentos são especialmente memoráveis, como a sequência dos rochedos, onde Scorsese homenageia filmes de horror do passado, como no momento em que o protagonista se vê cercado de ratos. Aliás, passado e sonho são duas palavras valiosas para o cinema de Scorsese. Quase como uma forma de negar o presente, de negar a realidade. A busca pela fuga da verdade dolorosa, tão comum em filmes de horror de temática espiritualista, é recebida com um forte abraço por Scorsese.

Os problemas do filme se devem mais ao excesso de diálogos e explicações e a uma trama que parece um pouco banal e que se estende além do necessário, provocando sonolência a certa altura. O trabalho de interpretação do elenco também é um pouco problemático, mas isso se deve mais às amarras do gênero. Nos momentos em que o filme se entrega totalmente ao clima de total desapego com a realidade e finca os pés quase em definitivo no delírio, difícil não lembrar de alguns momentos não muito felizes de LOST, até porque ambas as obras se passam numa ilha e possuem um clima de mistério. A diferença é que Scorsese parece saber muito bem aonde quer chegar. Ou aonde não quer chegar.

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