quarta-feira, novembro 18, 2009

HOTEL ATLÂNTICO























Muito curiosa a trajetória de Suzana Amaral. Com apenas três filmes no currículo, a diretora até que tem uma obra bastante consistente e interessante. Filma como se não tivesse pressa, como se a vida fosse longa. Mas, provavelmente, se dependesse de sua vontade ela filmaria mais. Aqui no Brasil tudo é mais difícil. E levando em consideração o longo hiato entre A HORA DA ESTRELA (1985) e UMA VIDA EM SEGREDO (2001), até que ela não levou tanto tempo assim para nos apresentar o seu novo filme, HOTEL ATLÂNTICO (2009), baseado num romance de João Gilberto Noll, o mesmo autor que inspirou NUNCA FOMOS TÃO FELIZES, de Murilo Salles, e HARMADA, de Maurice Capovilla.

Foi a primeira vez que assisti um filme no cinema com legendas em inglês. É assim a cópia digital disponibilizada pela Rain, já pronta para o mercado internacional. E para quem é estudante de tradução, não deixa de ser curioso acompanhar o filme vendo as escolhas dos tradutores para os diálogos em inglês. E até que a cópia não está ruim.

HOTEL ATLÂNTICO guarda semelhança com o cinema europeu. No exterior, quando foi exibido em festivais, algumas publicações compararam o estilo e a atmofera do filme com David Lynch e Michelangelo Antonioni, mas eu senti mais influências de Pasolini e Buñuel. Nas cenas em que o protagonista se hospeda na casa do padre de uma cidadezinha é como se os dois autores se fundissem. Há o aspecto surreal e transgressor em torno da religião, que podemos ver na obra desses dois cineastas.

A morte é uma constante no filme. Julio Andrade (de CÃO SEM DONO) é o protagonista. Um ator desempregado que perambula sem rumo para diversos lugares. Não sabemos o seu nome, nem o seu rumo, nem as suas motivações. E isso é interessante. Dá ao filme um ar de pesadelo, de desorientação. Assim que ele entra no hotel do título, um corpo vítima de assassinato está sendo encaminhado para o IML. Na sequência em que ele conhece uma estrangeira no ônibus, eu estava esperando que os dois dissessem seus nomes, mas isso não ocorre.

HOTEL ATLÂNTICO é uma espécie de road movie onde, ao longo de sua trajetória, o protagonista conhece uma série de pessoas que de uma forma ou de outra trazem algo de mórbido e perturbador. Há a moça que ele conhece no ônibus (Lorena Lobato), os rapazes que lhe oferecem uma carona, o sacristão que o hospeda (Gero Camilo), a empregada doméstica que parece saída de filmes do Fellini, a filha do prefeito (Mariana Ximenes) e o enfermeiro vivido por João Miguel. Como momento mais engraçado, há as cenas em que Julio Andrade passeia pela cidade com a batina do padre morto. Já o momento mais trágico ou perturbador não dá para dizer sob risco de estragar as surpresas.

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