terça-feira, agosto 04, 2009

A GAROTA IDEAL (Lars and the Real Girl)





















Nestes últimos dias, através de conversas mais intimistas e de pequenos flashes que chegam do meu arquivo de memórias, venho lembrando de algumas situações que, por pura imaturidade e timidez, ocorreram na minha adolescência. A primeira declaração de amor dita frente a frente a gente nunca esquece. E lembrei da pureza daquela menina que, durante uma noite de visitas a outras congregações (eu estava na igreja na época), foi confessar que estava apaixonada por mim. Ela se desnudou linda e corajosamente. Mas eu não estava preparado ainda e a timidez me deixou paralisado, com cara de idiota. Foi aos poucos que fui me interessando por ela. Meses depois, numa brincadeira de pura provocação nos muros da igreja, ela testemunhou o que seria o meu primeiro beijo (em outra garota), mas nunca chegamos a ficar juntos. Pensei em outros dois casos do passado, que podem revelar de mim um lado um pouco mais perverso ou arrogante, mas esse momento de maior inocência me pareceu mais apropriado comentar agora. Pode servir de ligação com o filme em questão.

A GAROTA IDEAL (2007), de Craig Gillespie, conta a história de um sujeito tímido que não consegue nem mesmo ser tocado pelas pessoas e que compra uma boneca com a anatomia muito semelhante a das mulheres para ser a sua namorada. Como se não bastasse, Lars (Ryan Gosling) ainda fantasia que ela é de verdade, que veio do Brasil (!) e que anda de cadeira de rodas. Seu irmão fica logo assustado, já que Lars estava mais doido do que nunca e, como se não bastasse, a psicóloga (Patricia Clarkson) ainda diz que não se deve contrariá-lo; deve-se deixá-lo sair por conta próprio de seus delírios. Assim, não apenas o irmão e a cunhada passam a apoiar a loucura de Lars, mas toda a cidadezinha onde ele mora, que acolhe a boneca Bianca como se fosse uma nova e querida moradora.

Talvez o problema de A GAROTA IDEAL seja esticar demais a piada, ainda que o tom não seja necessariamente de humor explícito. Há aquele jeitão tipicamente esquisito de filmes independentes americanos. O público ri das situações, mas aos poucos o filme vai ganhando um ar mais sério, com a evolução da situação de Lars. E não deixa de ser interessante a solução final, que mostra o processo de racionalização que um ser humano faz a ponto de chegar mais tranquilamente a um ponto importante de sua vida. Com naturalidade e sem traumas. Ou traumas inventados por pura conveniência. No fim das contas, o filme funciona como um pequeno conto sobre a negação da vida real e o despertar da consciência do ser humano.

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