terça-feira, julho 21, 2009

À L'AVENTURE























Depois dos excelentes e sensuais COISAS SECRETAS (2002) e OS ANJOS EXTERMINADORES (2006), Jean-Claude Brisseau está de volta com mais um filme que explora a sexualidade e apresenta belas mulheres em situações excitantes. No terreno da sexualidade, porém, podemos dizer que À L’AVENTURE (2009) dá um passo atrás, sendo uma evolução, portanto, do filme anterior, que já lidava com a espiritualidade, com o extracorpóreo. Quer dizer, ao mesmo tempo em que o cineasta ainda demonstra sua obsessão pelo sexo e pelo corpo, em especial a anatomia feminina, sua vontade de ir além torna o filme um pouco decepcionante para quem vai com sede, levando em consideração a exploração de fantasias sexuais nos dois trabalhos anteriores. Se em OS ANJOS EXTERMINADORES havia uma inspiração autobiográfica adicionada a um elemento sobrenatural, apresentado de modo a dar ao filme um aspecto surreal à Buñuel - o título não nega a homenagem -, em À L’AVENTURE é o próprio sentido da vida terrena que é levado em consideração.

Assim, vemos a jovem e bela Sandrine (Carole Brana), uma mulher insatisfeita sexualmente, que questiona a sua própria rotina de vida e decide abandonar tudo, emprego e namorado, e sair em busca de novas aventuras, algo que dê sentido à sua vida. Quando o namorado não a deixa satisfeita, ela vai para a sala e se masturba no sofá. Sentada num banco de praça com uma colega de trabalho, Sandrine tem um olhar fixo para o nada que dá a ela um aspecto de loucura. Como se já estivesse totalmente desinteressada das coisas do mundo, ou pelo menos das coisas mais comuns da vida. Num café, ela seduz um jovem psicólogo, com quem trava um interessante diálogo com ênfase na hipnose.

E é através da hipnose que o filme desenvolve as cenas mais tórridas - antes disso, há uma sequência de sadomasoquismo bem interessante. E é também com a hipnose que o filme transcende a matéria. Ou pelo menos trata de ligar a matéria à espiritualidade, já que o orgasmo, em especial o feminino, que é mais misterioso e intenso, pode se aproximar de uma espécie de êxtase religioso. E vendo o filme, dá para refletir sobre a natureza mais terrena da mulher, em comparação com o homem. Não à toa que as religiões pagãs da antiguidade adoravam uma deusa da terra, da fertilidade. É uma espiritualidade com ligações com o mundo e não com sua negação. Daí vem esse mistério do chamado êxtase religioso, que é ignorado pelas igrejas protestantes, mais puritanas, mas que curiosamente é estudado na surdina por alguns estudiosos do Catolicismo. Mas Brisseau vai além dos rótulos religiosos ao apresentar o seu trabalho, que não parece ter o mesmo brilhantismo dos dois anteriores, mas que contribui para fazer dele um dos cineastas mais interessantes da atualidade. Quem me dera poder ver um de seus filmes no cinema. Deve ser uma experiência e tanto.

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