segunda-feira, julho 27, 2009

INIMIGOS PÚBLICOS (Public Enemies)























Michael Mann já se tornou um cineasta de que muito se espera. Seus filmes tornaram-se acontecimentos para ver na telona, apesar de ele seguir preferindo usar câmera digital desde COLATERAL (2004). Junto com outro dos gigantes do cinema americano da atualidade, David Lynch, Mann se rendeu à nova bitola, que, tudo indica, será usada por todos no futuro, com a iminente aposentadoria da película. Porém, se em COLATERAL e em MIAMI VICE (2006) não havia tanta diferença de qualidade de imagem, com a mudança de diretor de fotografia - Dante Spinotti, que já havia trabalhado com Mann em FOGO CONTRA FOGO (1995) e O INFORMANTE (1999) -, a coisa muda um pouco de figura no que se refere à textura da imagem. Que se mostrou mais escura e com menos nitidez. Provavelmente foi proposital, se a intenção é recriar a fotografia um pouco mais esmaecida de alguns dos filmes produzidos na década de 30, aliado ao imediatismo dos vídeos de baixa resolução encontrados na internet, para assim dar ao filme um tom semidocumental. Mas confesso que fiquei um pouco incomodado. Assim como também me incomodou a montagem excessivamente picotada, dificultando a visualização da ação, principalmente no início do filme.

INIMIGOS PÚBLICOS (2009) cresce mais a partir da primeira aparição da personagem de Marion Cotillard, a jovem atendente de loja de roupas que conquista o coração do famoso assaltante de bancos John Dillinger (Johnny Depp). Quando um de seus parceiros de crime diz que colocar mulher na história só atrapalha, ele diz que sem mulher é como estar na prisão. E como sua vida é arriscada, tudo tem que ser muito rápido. Por isso, ele não tem muito tempo a perder quando aborda a moça. Ele já a toma para si e já estipula as regras. Ela nem tem tempo para pensar e aceita as condições, até por achá-lo atraente. Dillinger é bem diferente de seu nêmesis, o policial Melvin Purves, vivido por um contido Christian Bale. Até por ser do tipo romântico e impulsivo, torna-se bem mais fácil para a audiência simpatizar com o fora-da-lei. Tornamo-nos cúmplices de Dillinger, ao passo que apenas compreendemos o ponto de vista de Purves.

Ainda no aspecto técnico, o trabalho de som chama a atenção, como já se mostrava muito bem elaborado em MIAMI VICE. O som dos tiros, em especial daquelas armas que parecem ter o poder de arrancar fora a cabeça de suas vítimas, é um dos pontos fortes. E por isso, INIMIGOS PÚBLICOS deve ser visto numa sala de cinema que tenha uma boa aparelhagem de som. E o som dos tiros é de importância crucial para o filme, que conta com uma sequência de tiroteio onde mal dá pra se ver o que está acontecendo, mas que não deixa de ser impressionante.

Outro problema do filme talvez seja o excesso de personagens para uma duração de 130 minutos. O modo como é costurada a trama prejudica um pouco o andamento, dando a impressão de que a ação é narrada com atropelos. Quem sabe uma possível "edição do diretor" atenue esse problema. E continuando a falar de algo que pode incomodar, não chega a ser problema da produção do filme, mas a forma feia e anti-romântica como fica a tradução para o português de "blackbird" para "graúna" chega a fazer com que parte do público até ria no final do filme. O termo é usado numa canção que toca enquanto os personagens de Johnny Depp e Marion Cotillard dançam.

A homenagem aos filmes de gângster dos anos 30 é um elemento feliz e com certeza é vista com simpatia pelos cinéfilos. Inclusive, James Cagney é citado explicitamente. Um dos coadjuvantes tenta imitá-lo, o que dá pra notar o quanto a figura dos gângsters era vista com bons olhos pela sociedade, que estava quebrada e ainda vivendo as consequências do crash da bolsa de 1929. Para as pessoas, um sujeito ousado como Dillinger era alguém que podia estar se vingando por eles, ao atacar as instituições financeiras com tanta força e eficiência. E Dillinger era um assaltante de bancos que adorava cinema. E utilizou essa informação na rápida e divertida frase de "apresentação" para sua amada.

Com tudo isso, com certeza, INIMIGOS PÚBLICOS é um filme que precisa ser maturado e revisto para ser melhor apreciado e para que alguns pontos fiquem mais claros. Enquanto isso, deixo registrada minha primeira impressão. E a título de curiosidade e comparação, muitos – eu, inclusive -, devem recorrer ao DILLINGER – INIMIGO PÚBLICO Nº 1 (1973), filme de John Millius que também abordou o embate entre Dilliger e o detetive de polícia Melvin Purves, bem como seu romance com Billie Frenchette.

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