sexta-feira, julho 10, 2009

BUDAPESTE























Que Walter Carvalho é um dos melhores e mais renomados diretores de fotografia do cinema brasileiro, disso não resta dúvida. Eu nunca vou me esquecer do prazer que tive ao ver os seus belos quadros em filmes como TERRA ESTRANGEIRA, LAVOURA ARCAICA, O CÉU DE SUELY, BAIXIO DAS BESTAS, CLEÓPATRA e mais uma porção de grandes filmes. BUDAPESTE (2009) marca sua estreia solo na direção de longas-metragens de ficção. E não é um mau filme. Eu diria que é muito mais interessante e com cheiro de novo do que muita coisa feita por aí, que agrada facilmente a audiência, mas sai rapidinho da memória. Mas é, sem dúvida, um filme bem irregular. (Será uma maldição das adaptações cinematográficas das obras de Chico Buarque?)

A primeira parte do filme é bem fraca, quando o protagonista (Leonardo Medeiros) ainda está no Brasil. A melhor coisa dessa parte é a cena de nudez de Giovanna Antonelli. Mas ela mesma parece deslocada. Tanto que o filme cresce quando o ghost writer vivido por Medeiros parte de vez para Budapeste, a fim de esquecer a dor, causada pelo fim de seu relacionamento com a esposa. E a grande vantagem de ter um cineasta com uma grande experiência como diretor de fotografia é poder ver a beleza de uma cidade como Budapeste pelas lentes de Carvalho. A cidade, com toda a estranheza como ela é pintada no filme, chega a ser fascinante. E o filme trabalha muito bem algo que deve ser mérito do livro de Chico Buarque, que é essa coisa enigmática da língua húngara.

O filme é também um estudo sobre a necessidade de se massagear o ego. É como aquela piada do sujeito na ilha deserta com a Sharon Stone (que hoje pode ser substituída por outra atriz gostosa qualquer): de que adianta você estar pegando a mulher mais linda do mundo se não vai poder contar pra ninguém? E no que se refere à literatura, o ego também está fortemente presente. Como será ver alguém recebendo a glória de uma obra que é sua? BUDAPESTE nos coloca no inferno que é a mente perturbada do protagonista, o que aliás, parece ser algo recorrente na obra de Chico Buarque, se pensarmos em BENJAMIN e ESTORVO. Só estou um pouco cansado de ver Leonardo Medeiros nas telas. Quem sabe outro ator não tornaria o filme mais interessante? No mais, gostei bastante da atriz que faz par com Medeiros em Budapeste, a húngara Gabriella Hámori. E fiquei bem curioso pra ver como o livro termina, já que o filme fecha com uma brincadeira metalinguística envolvendo o cinema. Será que há algo equivalente na obra literária?

Nenhum comentário: