quinta-feira, julho 31, 2008

IRINA PALM



Não vou negar. O que provavelmente me atraiu em IRINA PALM (2007) foi mesmo a presença de Marianne Faithfull. Acho que ainda tinha guardado em minha memória a juventude e a beleza da cantora, na época em que ela era conhecida como a namorada dos Rolling Stones, Lembro especialmente de sua aparição em THE ROLLING STONES - ROCK AND ROLL CIRCUS, o lendário especial de televisão que reuniu a banda e mais uma série de convidados ilustres numa celebração um tanto satânica. Mas como boa capricorniana que é, Marianne, apesar de ter perdido parte daquele encanto e beleza da juventude que se vai com o passar dos anos, ela parece estar bastante à vontade com a velhice. Ainda se perceba nos belos olhos dessa agora senhora cinquentona um pouco de seu encanto sedutor. E Marianne acaba por ser mesmo o grande trunfo do filme, que não chega a ser grande cinema mas que está bem acima da média do cinema produzido na Inglaterra. E falando em cinema inglês, é impressionante como vários exemplares do cinema da ilha têm se mostrado triste e cheio de autocomiseração – lembro especialmente dos melodramas de Mike Leigh.

IRINA PALM, no entanto, tem também o humor a seu favor. Marianne Faithfull interpreta uma senhora que já fez de tudo para tratar da saúde frágil de seu neto – chegando, inclusive, a vender a própria casa para pagar o tratamento do garoto. Acometido de uma doença rara e que leva à morte, o menino tem como alternativa ser tratado na Austrália. Um tratamento gratuito, mas os pais do garoto precisam de dinheiro para custear as despesas de viagem, hospedagem e alimentação durante a estadia no país. E, preocupada, Irina sai secretamente em busca de emprego, numa sociedade que não tem respeito pelos mais velhos no mercado de trabalho. Em geral, passou de cinqüenta anos, fica bastante difícil uma pessoa conseguir emprego - isso não é um problema exclusivo do Brasil. Maggie, a personagem de Marianne, no desespero, resolve, então, aceitar o emprego num clube erótico chamado "Sex World". O trabalho consiste em masturbar homens que colocam seus pênis num buraco e esperam um serviço bem feito de uma profissional anônima. Se no começo, o trabalho era nojento, asqueroso, chocante até, aos poucos, com a rotina, Maggie, que ganha o nome de guerra de Irina Palm, se transforma na melhor punheteira do clube, formando longas filas de homens ávidos para experimentar o seu toque mágico, e com o tempo ela começa a se sentir até orgulhosa de suas mãos e de seu sucesso com os clientes, chegando a ganhar até o coração do gerente do estabelecimento.

O filme só tem a ganhar com o humor, que se sobrepõe ao melodrama vulgar que o filme aparentemente parecia sucumbir no início, e Marianne, com suas demonstrações de versatilidade na interpretação – ela vai da tristeza ao asco, da vergonha à rotina, dorgulho a uma certa malícia, que é quando ela parece mais natural e seus olhos parecem brilhar mais. O filme foi dirigido pelo alemão Sam Garbarski, de O TANGO DE RASHEVSKI (2003), e é uma co-produção entre Reino Unido, Bélgica, Luxemburgo, Alemanha e França. Curiosamente, Garbarski é um desses diretores que começaram a carreira de cineasta já tarde, tendo em vista já ter sessenta anos e esse é apenas o seu segundo longa. Talvez ele queira provar que, assim como ele próprio e a personagem de Marianne Faithfull, nunca é tarde para começar a fazer sucesso.

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