terça-feira, julho 29, 2008

FESTIVAL VAN DAMME



Depois de mais de dois anos do último "Festival Van Damme" que eu "promovi" aqui no blog, eis que eu retorno com mais quatro filmes do nosso querido belga. E na expectativa de ver o ambicioso projeto auto-biográfico JCVD (2008), agendado para este ano ainda, mas que já teve pré-estréia na França e está marcado para passar no Festival de Toronto, no Canadá, em setembro. O filme promete ser uma virada na carreira do astro, mas isso já pode ser percebido em ATÉ A MORTE (2007), de longe, um dos melhores da carreira do astro e que traz a sua melhor interpretação até agora. Mas não ponhamos os carros na frente dos bois e falemos dos filmes em ordem cronológica.

Interessante que, apesar de eu já ter pagado pra ver filmes do Van Damme no cinema, nunca paguei pra alugar ou comprar um dvd dele, coisa que fiz dessa vez. Dos quatro títulos, o único que eu vi na televisão (na Globo) foi LEÃO BRANCO, O LUTADOR SEM LEI (1990), produzido quando ele ainda estava no auge da popularidade e era sinônimo de bons números nas bilheterias. Naquela época, o cinema não estava tão elitizado como está hoje e ainda existiam alguns poucos cinemas de rua, como o Cine Diogo, que era o lugar onde geralmente passavam os filmes do astro e onde vi seu primeiro filme como protagonista no cinema: O GRANDE DRAGÃO BRANCO (1988), que achei uma merda na época, mas meus amigos, a turma com quem fui assistir, ficaram bem entusiasmados. Na época eu ainda guardava muito preconceito com esse tipo de cinema e torcia o nariz para esse rapaz que se apresentava como um novo Bruce Lee, ainda mais com aquelas propagandas irritantes e exageradas da Paris Filmes, que vendia filmes vagabundos como se fossem superproduções.

LEÃO BRANCO, O LUTADOR SEM LEI (Lionheart)

Embora não seja um filme pra se levar tão a sério, é um dos mais divertidos e bem fluidos trabalhos de Van Damme. Ele interpreta um desertor da Legião Estrangeira que chega aos Estados Unidos como clandestino tentando arrumar um jeito de pagar o tratamento de seu irmão (que havia sofrido sérias queimaduras) e manter financeiramente a cunhada e seu sobrinho. Como não tinha dinheiro, ele aceita participar de lutas clandestinas, já que ele era muito bom de briga. O filme lembra um pouco o ótimo LUTADOR DE RUA, com Charles Bronson, mas, diferente do filme de Walter Hill, mais seco, Sheldon Lettich, o diretor de LEÃO BRANCO, coloca um pouco mais de sacarose nas seqüências envolvendo os parentes do herói, que além de ter que lutar com uns caras fortões, de ser considerado culpado pelo que aconteceu ao irmão pela cunhada, ele ainda é perseguido pelos agentes da Legião Estrangeira que estão em seu encalço.

A COLÔNIA (Double Team)

Filme de uma fase já mais ambiciosa de Van Damme, do ciclo de filmes dirigidos por cineastas chineses. A COLÔNIA (1997) era o filme de Tsui Hark que faltava eu ver, e talvez um dos filmes com mais cara de grande produção do astro, ao lado de TIMECOP, O GUARDIÃO DO FUTURO (1994). Quando se trata de Tsui Hark é garantia de cinema sofisticado, mesmo que o roteiro não ajude nenhum pouco. O filme sofre do mesmo problema de GOLPE FULMINANTE (1998), o filme seguinte de Van Damme, também dirigido por Hark, problema ligado ao roteiro e à montagem. Ainda assim, A COLÔNIA é recheado de boas seqüências de ação e tem momentos surpreendentes, como a própria natureza da Colônia do título nacional, onde ficam os agentes da CIA considerados mortos para o mundo. O "double team" do título original se refere à parceria dele com o personagem do jogador de basquete Dennis Rodman. Fazendo papel de vilão, está um decadente Mickey Rourke. Um dos auges do filme vai acontecer no Coliseu Romano. Primeira vez que aluguei um filme de Van Damme. E não me arrependo, pois como o filme foi fotografado em scope, perder-se-ia muito optar para vê-lo na tevê.

SEGUNDO EM COMANDO (Second in Command)

Depois da fase de trabalho com os diretores chineses (Hark, Ringo Lam, John Woo), Van Damme começou a fazer filmes ainda mais marginais para saírem direto em vídeo. Alguns desses trabalhos, porém, merecem uma conferida, como o já citado aqui VINGANÇA (2004), que contém uma das melhores interpretações da carreira do astro. SEGUNDO EM COMANDO (2006) foi feito sob a batuta de Simon Fellows, cineasta que havia dirigido o terror REENCARNAÇÃO (2004), estrelado por Heather Grahan, disponível em dvd no Brasil e provavelmente muito pouco visto. O fato é que Fellows se sai muito bem nesse thriller de ação onde Van Damme interpreta um oficial americano que, em visita a um país não-identificado do leste europeu, é nomeado Segundo em Comando do embaixador americano do país. O país está sofrendo uma guerra civil e os rebeldes querem a vida do presidente que se refugia na embaixada dos Estados Unidos. Os insurgentes estão bem equipados com armas poderosas e querem o corpo do embaixador a todo custo. O personagem de Van Damme, no entanto, não abre mão e prefere tomar outras medidas para contornar o problema. É um filme muito movimentado e contar corpos e balas é uma tarefa impossível. Não chega a ser um filme tão bom, mas nota-se que também não é um trabalho vagabundo, que há um cuidado maior com a produção. O que não dá pra negar é a influência forte da série 24 HORAS. Foi a primeira vez que eu baixei um filme do Van Damme.

ATÉ A MORTE (Until Death)

Como em time que está ganhando não se mexe, Van Damme escala novamente Simon Fellows para dirigir esse que talvez seja o melhor filme da carreira do astro. Ou pelo menos merece estar entre os cinco melhores. ATÉ A MORTE mostra Van Damme como um policial que um tempo atrás trabalhou no departamento de narcóticos e que acabou viciado em heroína para se infiltrar num bando. O problema é que mesmo depois de finalizada a operação, ele continua viciado e aparece no filme com olheiras e um aspecto bem decadente. E como o próprio Van Damme também teve problemas com drogas pesadas, ele deve saber o que é mexer com vespeiro e dá ao filme uma interpretação inédita. ATÉ A MORTE tem uma reviravolta surpreendente lá pelo meio que o divide em duas partes. O protagonista, além de ser discriminado pelos próprios colegas policiais que o chamam de junkie, ainda sofre com a separação da esposa e a notícia de que ela está grávida de outro. Pra completar, ele tem um envolvimento íntimo com as prostitutas e enche a cara de uísque todo dia. É um retrato de uma vida estilhaçada num filme muito bom, que já começa com uma operação perigosa com drogas, envolvendo o vilão, interpretado por um Stephen Rea bem canastrão e muito acima do tom. Parece que ele não estava levando o filme tão a sério quanto Van Damme. Vale a pena procurar por ATÉ A MORTE nos saldões das Americanas, que foi onde eu comprei.