segunda-feira, outubro 17, 2005

O SENHOR DAS ARMAS (Lord of War)

 

Em O SENHOR DAS ARMAS (2005), Nicolas Cage é um negociante de armas de família ucraniana, mas morando nos EUA, que adquire uma fixação por armas de fogo depois de testemunhar um tiroteio no bairro onde mora. Depois disso, ele bota na cabeça que quer fazer negócios com armas. O negócio começa a ir de vento em popa quando ele descobre o filão do comércio internacional. Ele faz negócios tanto na época da Guerra Fria, quanto depois, com o esfacelamento da União Soviética, quando ele aproveita pra comprar o enorme arsenal soviético e vender para países em guerra. 

O filme já impressiona desde os créditos iniciais, mostrando da fabricação da bala até a sua finalidade final, isto é, atingindo a cabeça de uma criança africana. Cage tem nesse filme o seu melhor papel em muitos anos. Vale destacar também a performance do jovem Jared Leto, como o irmão do personagem de Cage, meio que retomando o papel de junkie que o celebrou em RÉQUIEM PARA UM SONHO, de Darren Aronofsky. O filme também tem no elenco Ethan Hawke, como o policial que não sai do pé de Cage; Ian Holm, como o negociante rival; e a pouco conhecida Bridget Moynahan, como a esposa. 

Muitas seqüências do filme vão ficar guardadas na memória por muito tempo, como aquela em que Cage é obrigado a experimentar o brown-brown, que é a mistura de cocaína com pólvora, que os soldados tomam nas guerrilhas para aumentar a coragem. Uma verdadeira viagem ao inferno. A fotografia e a música tem um papel fundamental nessa hora. 

Andrew Niccol pode estar finalmente entrando no primeiro escalão de Hollywood. Trata-se de uma das melhores surpresas do ano. Filme corajoso e que chega ao Brasil num momento bem oportuno: o do referendo que vai decidir sobre a proibição ou não do comércio de armas de fogo no país. Também é importante notar que O SENHOR DAS ARMAS estreou no país no mesmo dia que O JARDINEIRO FIEL. Ambos os filmes passam uma visão nada feliz da África. A maior parte do continente africano está tomada pelo vírus da AIDS, mas o pior é que isso nem é a principal preocupação deles. 

Numa cena de O SENHOR DAS ARMAS, Nicolas Cage está num hotel e duas prostitutas tentam convencê-lo a transar com elas sem camisinha. Segundo uma delas, por que se preocupar com algo que vai te matar em dez anos, se as chances de você ser morto antes disso, por uma bala ou mesmo pela fome, são muito maiores? É, meus amigos. Ver a triste situação da África faz com que a gente veja o Brasil como um pequeno paraíso. Os nossos problemas ficam até pequenos perto dos deles. E filmes como esse são importantes para que quem mora nos países ricos, e não sabe dos podres de seus governantes, tenha conhecimento de quem é que está botando as armas nas mãos do povo. Se bem que não é por falta de arma de fogo que o povo vai deixar de matar, como pôde ser visto no filme HOTEL RUANDA, que mostra um genocídio a base de facões. Mas é verdade que essas armas facilitam muito mais a matança. 

P.S.: No ar, no Cinema com Rapadura, nova coluna, dessa vez sobre os selos que estão trazendo os clássicos para as locadoras.

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