sexta-feira, outubro 01, 2004
O ATALANTE (L'Atalante)
Há tempos tinha curiosidade de ver esse filme, e só decidi ver recentemente, com o lançamento em DVD nacional. O ATALANTE (1934) está presente em várias listas de melhores filmes de todos os tempos. É considerado uma obra-prima por grande parte da crítica mundial. Truffaut, por exemplo, o considerava um dos dez melhores filmes do mundo. Jean Vigo, o diretor do filme, é comparado com freqüência ao poeta maldito Rimbaud: ambos morreram jovens, deixando uma obra curta mas fundamental dentro da cinematografia francesa. Jean Vigo morreu vítima da tuberculose, com apenas 29 anos de idade. Ele estava muito doente quando dirigiu O ATALANTE, que é o seu único longa-metragem. Seus trabalhos anteriores em curta e média metragens também são bastante louvados, especialmente o média ZERO DE CONDUTA (1933). Li num texto que devido ao seu problema de saúde, Vigo chegou a dirigir algumas cenas de ZERO DE CONDUTA numa cama!
A história do filme é simples: jovem moça se casa com um marinheiro e ambos vão morar num barco (o atalante do título), já que esse é o trabalho do rapaz. Os dois se amam e tudo, mas a rotina do barco todos os dias começa a incomodar a garota, que tem uma discussão com o marido e vai embora pra cidade. Ele entra em depressão e começa a se embriagar e a perder o gosto pela vida, por causa da falta que sente da mulher amada.
Até o momento em que ela está no barco, o filme não me disse muita coisa. O ATALANTE só me conquistou a partir do momento do sofrimento do rapaz. A partir daí o filme ganha dimensões dramáticas (antes mais parecia uma comédia) e mostra mais da sua beleza. As imagens capturadas pela câmera de Vigo são especiais. Há sempre uma vontade de inovar, de fazer cinema de maneira diferente, com ângulos diferentes. Não é um filme verborrágico, como muitas das produções francesas. É um filme em que a imagem é mais importante que a fala.
Um detalhe que me chamou a atenção no filme é o gosto dos franceses pelas tais "canções de marinheiro", que eu já tinha visto em CONTO DE VERÃO, de Eric Rohmer. Até mesmo as pessoas mais jovens parecem gostar desse "gênero" de música. A canção que é constantemente cantada no filme, no início me encheu o saco, mas depois passei a simpatizar com a alegria que ela traz.
A Magnus Opus, distribuidora que lançou O ATALANTE em DVD no Brasil, está fazendo um belo trabalho. Lançou recentemente três filmes clássicos japoneses - BOM DIA (Ozu), DUPLO SUICÍDIO EM AMIJIMA (Shinoda) e CEGA OBSESSÃO (Masumura) - e em breve estarão disponíveis LILION, de Fritz Lang, dois filmes do Murnau (TABU e TARTUFO) e HAXAN: A FEITIÇARIA ATRAVÉS DOS TEMPOS, de Benjamin Christensen. Parece que estamos começando a ter mais opções de filmes clássicos nas locadoras com a louvável iniciativa de distribuidoras como a Magnus Opus, a ClassicLine, a Versátil e até mesmo a famigerada Continental, que às vezes até que quebra o galho.
Pra terminar, deixo uma frase que eu gostei muito, que eu vi nos textos do DVD de O ATALANTE:
"A mulher é o ser que projeta a maior sombra ou a maior luz em nossos sonhos"
(André Breton, parafraseando Charles Baudelaire)
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