NA CAPTURA DOS FRIEDMANS (Capturing the Friedmans)
O melhor filme que vi no último fim de semana, com certeza, foi esse premiado documentário de Andrew Jarecki. Não me entusiasmou tanto quanto TIROS EM COLUMBINE, de Michael Moore, ou EDIFÍCIO MASTER, de Eduardo Coutinho, pra citar dois recentes e ótimos documentários, mas é, certamente, um filme especial e que pode provocar reflexões acerca da natureza da verdade, do papel da mídia, da histeria coletiva, do valor da família na sociedade, sem falar em coisas mais óbvias como a prostituição infantil e a pedofilia.
Apesar de eu já ter lido matérias a respeito do filme desde a época da Mostra Internacional de Cinema, no ano passado, o filme ainda me surpreendeu com alguns depoimentos chocantes, como o de um dos jovens que se diz abusado por Arnold e Jessie Friedman. Ele fala que uma das diversões de Arnold era uma brincadeira que consistia em deixar o garoto de bunda pra cima enquanto os Friedmans introduziam os seus pênis no ânus do garoto, em revezamento.
O filme deixa na dúvida se as acusações são mesmo verdadeiras, fazendo com que o espectador tire suas próprias conclusões (ou não). Eu, por exemplo, acredito que houve realmente os abusos sexuais aos meninos, mas acredito também que algumas das outras acusações eram falsas e geradas pela histeria. É mais ou menos comparado com o que está acontecendo com o Michael Jackson. Tem gente aí ganhando dinheiro em cima do "coitado", acusando-o de pedofilia. Mas será que ele realmente é culpado de tudo o que dizem?
Voltando ao filme, será que os outros dois filhos de Arnold que não foram acusados também não participavam dos incidentes, no caso de eles realmente existirem? Pergunto isso porque havia uma cumplicidade muito grande entre os rapazes e o pai, enquanto que a mãe era deixada de lado, não participando da "gangue". Sem falar que David, o filho mais velho e que comprou a câmera para flagrar, dava depoimentos meio suspeitos para a própria câmera, como se ele também fosse no mínimo cúmplice do que acontecia no porão da casa.
Vale dizer que as melhores e mais impactantes cenas são as filmadas pela câmera de David. A cena que mostra a última vez que a família toda se reúne, na Páscoa, um dia antes da ida de Arnold para a prisão, é perturbadora. Como também é a cena de Jesse dançando na rua, momentos antes de seu julgamento, como se estivesse alheio ao seu destino. A cena final envolvendo Jesse e sua mãe fecha com chave de ouro esse brilhante documentário.
O Cinema de Arte daqui de Fortaleza acertou em trazer esse filme.
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