sábado, dezembro 13, 2003

AS INVASÕES BÁRBARAS (Les Invasions Barbares)



Woody Allen começa ANNIE HALL contando a seguinte piada:

Duas mulheres estão num restaurante e uma diz para a outra:
- A comida desse restaurante é horrível, não?
- Sim, e as porções são tão pequenas.

Segundo ele, é assim que é a vida: não é lá essas coisas, mas nós achamos pouco o tempo que vivemos aqui. Queremos viver mais por mais doloroso que isso possa ser.

AS INVASÕES BÁRBARAS, o novo filme de Denys Arcand, é até um pouco mais otimista com relação à vida. E sair do cinema depois de ver esse filme serve justamente pra gente pensar e acreditar o quanto é bom viver. Tem tanta coisa boa aqui no mundo. A comida, o cinema, as mulheres, os livros, a música, os lugares. E ainda tem quem não consiga se divertir no mundo, quem não consiga encontrar caminhos para o seu prazer e alegria.

No final do ano passado, por exemplo, dois filmes me deram uma sensação maravilhosa de estar vivo pra ter podido assistí-los: os espanhóis FALE COM ELA, de Pedro Almodóvar, e LÚCIA E O SEXO, de Julio Medem. Talvez o filme de Arcand não chegue a tanto em termos de carinho que eu sinto por filmes, mas ele faz a gente pensar justamente nisso: na vida, no prazer que é vivenciá-la e que ela é quase sempre imprevisível.

Porém Arcand não faz um simples melodrama sobre um homem (Rémy Girard) que está com câncer. Ele faz questão de alfinetar a Igreja Católica, expor suas ideologias, mostrar a crescente morte da especial geração que passou a juventude nos anos 60, além de mostrar um belo quadro de família e amigos.

No começo do filme, Arcand mostra cenas curtinhas, um cinema minimalista que me fez lembrar de ESTRANHOS NO PARAÍSO (1983), de Jim Jarmusch, cheio de “fades in black” ligando uma cena à outra. Mas depois o filme ganha cenas um pouquinho mais longas. Assim, fica mais fácil a gente simpatizar mais com os personagens e derramar lágrimas nos momentos mais bonitos. Entre os meus personagens favoritos destaco a bela junkie interpretada lindamente por Marie-Josée Croze. Aliás, ela levou o prêmio de melhor atriz em Cannes e o filme levou o prêmio de melhor roteiro. Legal.

Em 1993, Arcand fez AMOR E RESTOS HUMANOS, um filme que trata de relacionamentos tanto hetero como homossexuais. No meio de tudo, ele jogou uma trama de suspense envolvendo um serial killer. Teve quem não gostou do mix. Eu achei excelente. Em AS INVASÕES BÁRBARAS ele fez novamente uma mistura: melodrama + filme de ideologias. É um filme que valoriza a intelectualidade. Não é difícil como um Godard (que é citado no filme); é um filme mais acessível ao grande público. O que eu considero de certa forma uma qualidade. Taí um filme que vai estar no meu Top 10 de 2003. Ah, e o que é aquela canção que toca no final do filme, hein?? Puxa....

Agora eu quero ver o filme O DECLÍNIO DO IMPÉRIO AMERICANO, que tem os mesmo personagens desse filme 15 anos atrás.

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