segunda-feira, outubro 30, 2017

MINDHUNTER - PRIMEIRA TEMPORADA (Mindhunter - Season One)

Não esperava que este ano ainda reservasse uma surpresa tão boa quanto MINDHUNTER (2017), a série que inicialmente chama a atenção por ter produção executiva de David Fincher, que ainda dirige quatro dos dez episódios desta primeira temporada. Eis uma série que conquista o espectador mais exigente logo em seus primeiros minutos e que consegue ficar cada vez mais envolvente à medida que vai se aproximando de seu final. Que não é bem um final (ainda bem), mas vale dizer que a season finale é de dar taquicardia.

MINDHUNTER é baseado no livro Mindhunter - O Primeiro Caçador de Serial Killers Americano, de John E. Douglas e Mark Olshaker. Pelo que andei escutando por aí, a primeira temporada dá conta da primeira metade do livro, que funcionaria como um ótimo complemento para a série criada por Joe Penhall, que tinha como produção mais expressiva até então o roteiro do drama pós-apocalíptico A ESTRADA (2009), de John Hillcoat.

Ao contrário do que muitos podem pensar de início, MINDHUNTER não tem cenas de violência ou de perseguição ou coisa parecida. É investigação e psicologia, basicamente. E um texto tão bem trabalhado que é de dar gosto. Os personagens são tão ou mais envolventes do que a história, que trata do início dos trabalhos do FBI com o estudo dos casos de assassinos em série.

A série é baseada na vida de John E. Douglas e em seus encontros e entrevistas com assassinos famosos, como Ed Kemper, o sujeito que matou a própria mãe e fez sexo com sua cabeça decepada, e Jerry Brudos, o assassino do fetiche de sapatos. Vale destacar também que a interpretação dos atores para esses dois criminosos é admirável. A atmosfera de medo e tensão nas conversas com esses dois, em especial, é de deixar o espectador prendendo a respiração. Mas há outros casos resolvidos pelo próprio protagonista e seu parceiro que empolgam e instigam. Há também uma psicóloga estudiosa do caso que integra o trio.

O grupo é formado aos poucos no seu tempo dentro da narrativa. Antes da união de Holden Ford (Jonathan Groff) e Bill Tench (Holt McCallany), acompanhamos o certinho Ford conhecendo a ousada Debbie (Hannah Gross), a mulher que o iniciará no caminho do sexo oral e de outras maneiras de melhor se viver. Além de tudo, ela ainda ouve as preocupações que ele faz questão de compartilhar de sua profissão. Mais à frente, Bill se une a Holden para darem aula sobre assassinos seriais em diversas cidades dos Estados Unidos. A presença de Wendy Carr (Anna Torv, de FRINGE) chega para enriquecer ainda mais o grupo.

O fato de a série também nos apresentar à vida privada de seus personagens principais ajuda bastante a nos aproximamos deles. Faz com que nos importemos com esses personagens, faz com que o que eles sentem e temem seja verdadeiro. Um dos melhores exemplos aparece no episódio de número oito, que é o que trata de um diretor de escola infantil que tem o costume de dar cócegas nos alunos.

O que parecia um episódio pouco brilhante diante dos demais acaba sendo um dos mais marcantes pelo mal estar com que passamos a carregar, junto com Holden, das responsabilidades e das decisões que ele resolve tomar, seguindo seus instintos, mas também com muitas dúvidas. Este oitavo episódio é tão marcante que é o único que termina sem música nos créditos finais.

Outro destaque da série é a direção de arte linda, que nos leva aos anos 1970 e a elegância das roupas, dos carros, dos prédios e casas. Há também detalhes importantes no modo como a fotografia é tratada em diferentes momentos, seja para passar uma sensação de bem estar em cenas diurnas com um belo dia de sol, seja para acentuar cenas tensas nos interiores. Na verdade, há tantas qualidades em MINDHUNTER que fica difícil destacar seus problemas. De longe, a melhor produção da Netflix até o momento.

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