segunda-feira, setembro 25, 2017

COLUMBUS



Uma das vantagens de ver COLUMBUS (2017) no cinema é que é o mais próximo que podemos chegar de visualizar as belas construções arquitetônicas da cidade-título em dimensões próximas das reais. E mais: quem não liga muito para arquitetura pode ficar também interessado no filme mesmo assim, já que o que o diretor Kogonada faz em seu longa de estreia é aproveitar a cidade que ama, Columbus, no estado de Indiana, para usá-la como elemento primordial da direção de arte.

Claro que não se trata apenas de pegar as construções e mostrá-las ao fundo enquanto os protagonistas desfilam e falam de seus problemas, mas há todo um cuidado com os ângulos, o modo como é mostrado cada edifício, seja ele um banco ou uma igreja, uma escola ou um hospital. Isso parece frio, mas é justamente o contrário: afinal, arquitetura também não é arte? Logo, um filme que se passa em uma cidade que é famosa por sua arquitetura moderna e que enfatiza isso intensamente, não deixa de passar muitos sentimentos, embora evite fincar os pés no melodrama ou numa história de amor tradicional.

Vemos a paixão e do entusiasmo da personagem Casey (Haley Lu Richardson, em performance memorável, depois de ter papéis de coadjuvantes mais ou menos superficiais em filmes importantes como QUASE 18, de Kelly Fremon Craig, e FRAGMENTADO, de M. Night Shyamalan) pela história da arquitetura de sua cidade. Em COLUMBUS a atriz tem a chance de mostrar melhor o seu talento dramático, no papel de uma garota que mora com a mãe que já teve problemas com drogas e que conhece Jin (John Cho), um sul-coreano que está passando uns tempos na cidade, por causa do estado de saúde de seu pai - no início do filme ele sofre um derrame.

Filmes que unem estranhos são sempre interessantes, mesmo aqueles que procuram sair do caminho da história de amor entre os protagonistas, como se pode ver também em obras como APENAS UMA VEZ e MESMO SE NADA DER CERTO, ambos de John Carney. Em ambos os filmes de Carney há uma tensão sexual entre os personagens e a possibilidade de haver uma relação mais íntima, mas essa intimidade chega mais na profundidade de contar ao outro o que sente em COLUMBUS. Em alguns momentos o filme de Kogonada lembra um pouco o ANTES DO AMANHECER, de Richard Linklater, mas não há a intenção aqui de trabalhar com afinco um romantismo. Seria, no máximo, uma espécie de versão negativa do clássico de Linklater.

Sobre os personagens principais, se por um lado Casey é muito sensível e muito apegada à mãe - motivo de ela não sair da cidade para estudar ou fazer aquilo que mais lhe interessa, algo relacionado a arquitetura -, o que Jin sente pelo pai prestes a morerr é quase nada. Só não é nada pois podemos ver que se trata também de um sentimento de ressentimento por ter sido ignorado pelo pai durante tantos anos. Por que ele teria que ficar adiando a sua vida por alguém que ele nem nutre afeto? Devido à tradição coreana, ele é obrigado a passar por uma espécie de luto forçado. Quem não faz isso é considerado maldito pela tradição do lugar.

COLUMBUS procura ir fundo nos diálogos e nos sentimentos de seus personagens, tornando-os sempre interessantes (ela angustiada e agitada, ele calmo e com ar de desiludido), mas o grande barato do filme é que as imagens conseguem se sobrepor a tudo. Como se, além de bombardeados pela aflição e pela angústia daqueles jovens, ainda tenhamos que nos sentir pequenos diante daquelas construções imponentes. E sem saber direito o que sentir diante de tudo isso, numa espécie de borrão de emoções muito bem-vindo. Nota-se um cineasta promissor em Kogonada. Fiquemos de olhos nos próximos trabalhos.

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