quinta-feira, março 30, 2017

ARIELLA























Talvez não seja necessário dizer, mas vai que alguém não sabe: alguns filmes da chamada pornochanchada brasileira, mesmo aqueles da primeira metade dos anos 1980, que são os de maior intensidade erótica, fogem um pouco da intenção de serem simplesmente espaços de excitação física para animar as plateias masculinas daquela época ainda não atingida pela febre dos filmes de sexo explícito, que acabou pondo fim ao cinema da Boca do Lixo.

Não que obras de mestres da excitação como Cláudio Cunha, Antonio Meliande e Ody Fraga não possuam seu devido valor artístico. Tem, e muito. A questão é que em filmes como ARIELLA (1980), de John Herbert, a sensualidade é colocada mais como um elemento necessário para a história, além de o filme possuir uma elegância no trato visual que o torna admirável. Assim como também é admirável ele não ser tão conhecido de um público maior.

John Herbert é bastante conhecido como ator, tendo feito muito cinema e também televisão. Começou a carreira de ator na década de 1950, nos estúdios da Vera Cruz, mas é possível destacar a sua curta carreira de cineasta. ARIELLA foi o seu primeiro longa-metragem solo como diretor. Antes disso, ele havia contribuído com segmentos em dois filmes com conteúdo erótico leve. Em ARIELLA, ele revelou ao mundo o talento e a beleza de Nicole Puzzi, na época com apenas 20 e poucos anos, mas bastante convincente em um papel de ninfeta.

O filme é baseado em A Paranoica, um dos vários best-sellers eróticos de Cassandra Rios, uma das primeiras escritoras brasileiras a tratar do tema da homossexualidade feminina de forma bem aberta. No filme, há cenas sensuais de Nicole Puzzi com Christiane Torloni, na época começando a ficar famosa nacionalmente, com a telenovela global CHEGA MAIS. E não custa lembrar que ambas as atrizes estariam no ano seguinte numa das grandes obras-primas de Walter Hugo Khouri, EROS – O DEUS DO AMOR.

Mas falemos de ARIELLA, este filme que já começa com a beleza do corpo de Nicole Puzzi, dormindo na cama, enquanto é vigiada pelo suposto irmão (Herson Capri), que a enxerga com desejo, um desejo que ela também nutre por ele. Mas há um segredo na vida dos dois, na vida de Ariella, que é uma menina que cresce em uma casa de pessoas ricas, mas que não se sente confortável ou pertencente àquele ambiente. Ela costuma passar um pouco de suas frustrações para um diário, que no começo do filme funciona como uma narrativa em voice-over da personagem, e uma bela maneira de nos colocar um pouco na mente dela.

Aos poucos, vamos descobrindo que ARIELLA é um filme de vingança. Um filme de vingança com sexo, em que a personagem principal sabe que a sua maior arma é a sua beleza e sua sensualidade. Quando descobre isso, passa a deixar de lado a timidez, principalmente quando descobre a verdade sobre sua família. Sua missão passa a ser se vingar daquelas pessoas que causaram a morte de seus verdadeiros pais.

Um dos problemas do filme também pode ser considerado um acerto: Lúcia Veríssimo, que aqui é creditada ainda com outro nome, Lúcia Buxy, uma das mulheres mais lindas a passar pelo cinema brasileiro está deslumbrante. Em ARIELLA seu papel é bem pequeno, como a noiva de um dos irmãos adotivos da protagonista. Imagina só se dessem mais espaço para ela. Podia complicar e prejudicar os holofotes, que deviam mesmo ser apontados para Nicole Puzzi.

Mas não dá para negar o quanto a câmera namora Nicole, aqui vista nua em pelo. Mas tudo de maneira muito elegante, já que o filme de Herbert não tem o erotismo como base do enredo. Ele é importante para dar poder à Ariella em sua trajetória de vingança. Assim como também é importante um filme que apresenta duas personagens femininas que se juntam não apenas para chegarem a um objetivo em comum, mas por que se gostam e sentem atração uma pela outra. Provavelmente há outros exemplares parecidos produzidos na época (como GISELLE), mas não há tantos. E não dessa maneira tão despida de culpa.

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