sábado, fevereiro 25, 2017

ESTRELAS ALÉM DO TEMPO (Hidden Figures)























A polêmica do “Oscar so white” do ano passado rendeu uma boa discussão que acabou repercutindo fortemente na edição deste ano, que conta com três filmes que abordam a temática racial na disputa da categoria principal. Se alguns desses filmes estão aí apenas para cumprir cota e não por seus próprios méritos, é outra história. Além do mais, o Oscar é uma premiação política mesmo. E o que há de tão diferente a indicação de ESTRELAS ALÉM DO TEMPO (2016) com a de O JOGO DA IMITAÇÃO, da edição de 2015? Ambos os filmes não oferecem novidade do ponto de vista formal, mas trazem à tona figuras que foram importantes ou essenciais para o desenvolvimento da ciência em tempos de guerra, seja ela de quente ou fria.

Claro, ESTRELAS ALÉM DO TEMPO, de Theodore Melfi, propõe uma discussão também sobre a invisibilidade e os maus tratos que os negros, principalmente as mulheres negras, sofreram durante determinado período da História americana. No caso, início dos anos 1960, com a chamada corrida espacial. Assim, somos apresentados a Katharine G. Johnson (Taraji P. Henson), Dorothy Vaughan (Octavia Spencer) e Mary Jackson (Janelle Monáe), que trabalharam na NASA por serem gênios da Matemática.

O filme também tem o mérito de não mostrá-las como coitadinhas, mas como guerreiras em um mundo dominado pelos brancos que as tratava como seres inferiores. Há até bastante espaço para humor na narrativa. Como se trata de uma obra de ficção, ainda que baseada em fatos, algumas situações são enfatizadas ou inseridas, a fim de oferecer ao espectador um melhor retrato daquela época, como é o caso das cenas das idas ao banheiro da personagem de Taraji P. Henson. Naquele tempo, havia banheiros para negros e para brancos, assim como os transportes coletivos tinham também esse tipo de divisão.

De todo modo, essa década foi um divisor de águas na conquista de um lugar de respeito dos negros na sociedade americana, com o ativismo político inicialmente do Reverendo Martin Luther King. Mas o filme escolhe focar nas vidas daquelas três mulheres e amigas e no que elas representaram para o avanço científico de seu país, de modo que os americanos ganhassem a corrida espacial na disputa contra os soviéticos.

ESTRELAS ALÉM DO TEMPO tem a interessante função de nos apresentar a figuras escondidas, como bem diz o título original, e só por isso já merece nossa atenção, por mais que a narrativa tenha cara de sessão da tarde. Sobre o título original, uma das cenas mais emblemáticas dessa situação acontece quando um dos chefes da NASA chega para visitar e conhecer os funcionários daquela estação, e vemos a disposição dos empregados no grupo, com os negros todos de um lado, como se prontos para ficarem de fora de uma foto. Em pleno 2017, mesmo com tantas conquistas atingidas, o preconceito ainda existe e a luta continua.

ESTRELAS ALÉM DO TEMPO foi indicado a três Oscar: filme, atriz coadjuvante (Octavia Spencer) e roteiro adaptado.

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