segunda-feira, janeiro 25, 2016

CINCO GRAÇAS (Mustang)



Vivemos em um tempo em que as minorias estão reivindicando cada vez mais os seus direitos, a sua própria voz. Mulheres, gays, negros e outras minorias que se sentem marginalizados ou têm sua voz calada estão tendo a chance de usar a arte para exercitar esse direito, um direito que não lhes era concedido. CINCO GRAÇAS (2015), da cineasta turca radicada na França Deniz Gamze Ergüven, é um exemplo bem representativo de um cinema feminista, embora, pelo fato de se passar em um vilarejo na Turquia, seja também um filme de combate contra certas tradições culturais e religiosas extremamente machistas e desumanas.

E muitas vezes é preciso que certas atitudes sejam tomadas para que a sociedade assuma seu erro, mesmo que essas atitudes sejam bem extremistas. Um filme que dialoga bem com CINCO GRAÇAS é o brasileiro S. BERNARDO, de Leon Hirszman, que traz uma mulher forte em luta contra a opressão de um coronel do sertão, o seu próprio marido. No filme franco-turco, porém, essa mulher é multiplicada em cinco garotas de idades diferentes, cinco irmãs que querem ser felizes, mas tudo o que encontram são imposições, barreiras, grades.

A mais esperta das cinco é a mais velha, que até consegue fugir de casa para transar com o namorado e ainda usa métodos anticoncepcionais ousados para evitar perder a virgindade ou engravidar. Mas é a mais nova, uma criança ainda, que narra o filme, e é pelos seus olhos que vemos a história se desenrolar. Olhos que já começam o filme chorando, ao se despedir da professora, no final do ano letivo.

A história é contada com muita simplicidade, até para atingir com mais eficácia, como um soco no estômago, o conservadorismo reinante, principalmente o vivenciado em países em que a religião mulçumana é dominante. Se bem que a história poderia se passar em qualquer lugar ermo do interior do Brasil, que seria comprada como verdadeira.

CINCO GRAÇAS lida muito bem com a beleza dos corpos das moças, descobrindo-se, mas também descobrindo o quanto o mundo em que habitam é cheio de maldade. Uma maldade não necessariamente deliberada, mas herdeira de anos e anos de dominação do patriarcado e de uma cultura religiosa já bastante velha para uma sociedade que convive tão perto da modernidade.

A natureza as chama para os prazeres do amor e do sexo, e por isso mesmo a família precisa tomar atitudes rápidas quanto a isso, providenciando casamentos de conveniência, para que elas possam sair de casa sem envergonhar o tio ou a avó, que são aqueles que cuidam delas. E CINCO GRAÇAS vai mostrando a desarticulação das meninas, à medida que os primeiros casamentos vão surgindo, mas, como a trajetória de cada uma delas é singular, a história é rica em surpresas e momentos comoventes, assim como também funciona como um excelente filme de fuga de prisão.

CINCO GRAÇAS concorre ao Oscar na categoria de melhor filme em língua estrangeira pela França.

Nenhum comentário: