
Na melhor tradição do chamado "filme de professor", que já nos deu exemplares comoventes como SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS, ENTRE OS MUROS DA ESCOLA, O QUE TRAZ BOAS NOVAS, O SUBSTITUTO, MR. HOLLAND - ADORÁVEL PROFESSOR, entre outros, entra em cartaz nos próximos dias um exemplar brasileiro que dignifica o subgênero: TUDO QUE APRENDEMOS JUNTOS (2015), que conta a história real da formação da Orquestra Sinfônica Heliópolis, bem-sucedido trabalho de jovens da periferia de São Paulo que contou com a ajuda de um músico exigente.
Dirigido por Sérgio Machado (CIDADE BAIXA, 2005), o filme enfatiza o drama de Laerte (Lázaro Ramos), um jovem e dedicado violinista baiano que está em na capital paulista com fins mais ambiciosos, como entrar para a Osesp - Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. Logo no começo do filme, vemos o seu estado de completo nervosismo e travamento na hora de se apresentar em uma audição.
Vencido pelo medo e frustrado por também não estar conseguindo dinheiro para se manter adequadamente e ainda ajudar a família na Bahia, Laerte aceita trabalhar como professor de uma pequena orquestra bem desafinada de uma escola da periferia. Demora um pouco para ele perceber as dificuldades e os dramas daqueles jovens, bem como habituar-se ao encontro nada agradável com os traficantes do local, mas aos poucos aquela missão passa a se tornar tão nobre para ele do que o seu sonho de entrar na Osesp.
TUDO QUE APRENDEMOS JUNTOS carrega um bocado no melodrama, e isso pode ser visto tanto como um defeito quanto como uma qualidade. Depende de quem o vê. Como a intenção do filme é de natureza mais popular, acaba sendo necessário que ele dialogue com um público maior e se afaste mais de hermetismos. Não que CIDADE BAIXA seja hermético, se formos comparar com outro trabalho de Machado, mas certamente se trata de uma obra mais sofisticada em sua dramaturgia e direção. Por outro lado, há um registro quase documental da briga de duas alunas no primeiro dia de aula com Laerte. Quem é professor de escola pública certamente vai se sentir tristemente familiarizado com aquela cena.
O filme protagonizado por Lázaro Ramos bebe na fonte da cartilha tradicional do melodrama americano de histórias de superação e relacionamento de amizade e respeito entre professor e aluno, mas de maneira bem eficiente. A música, especialmente a erudita, de Bach e Vivaldi, ajuda bastante a tornar a experiência de ver o filme em algo tocante. Vale destacar também o trabalho de Lázaro Ramos, ainda que apenas correto, mas principalmente de alguns jovens atores que compõem a orquestra da escola, seja o rapaz que tem uma sensibilidade especial para a música, seja o garoto-problema que alcança a superação depois de uma tragédia. E é nele que o filme mais ganha em emoção.
TUDO QUE APRENDEMOS JUNTOS teve sua primeira exibição no Festival de Locarno, na Suíça, e teve uma exibição bem especial e calorosa no Festival do Rio. Agora é a vez de encarar o nosso circuito. Como se trata de um filme do bem, torcemos pelo seu sucesso.