
Engraçado como minha memória me trai. Não lembrava que já tinha visto este UM GOLPE DO DESTINO (1991) na televisão anos atrás. Na verdade, acho que nem cheguei a ver todo, mas vendo o filme lembrei de ter chorado em uma das sequências finais. Infelizmente, na revisão, o filme não teve o mesmo impacto em mim. Vai ver eu estou mais insensível. Ou talvez por já ter visto muitos bons episódios de HOUSE, que lidam com doenças. Talvez também por ter lido o emocionante livro "Por um Fio", de Drauzio Varella, que conta de forma sensível a experiência do médico com pacientes com doenças terminais. Que eu me lembre, nenhum outro livro me pegou com tanta força no território das emoções. E nem é um livro de um grande escritor.
Quanto a UM GOLPE DO DESTINO, não deixa de ser um belo filme. William Hurt é um cirurgião que não tem contato de proximidade com os pacientes. Meio como o dr. House, mas sem ser tão "filho da puta". Além do mais, o filme não tem tanto tempo como a série para aprofundar melhor o personagem. Mas a duração é suficiente para contar a história de forma competente. O médico tem uns pigarros e descobre que está com um tumor nas cordas vocais. O medo dele é de perder a voz. Ou talvez morrer.
Ficar sem falar é uma barra, mas é fichinha perto de outros problemas muito mais traumatizantes que a gente está mais ou menos acostumado a ver, tanto nos filmes quanto na vida real. O triste caso do crítico de cinema Roger Ebert, por exemplo, é coisa para um filme de doenças épico. Por isso, talvez eu não tenha dessa vez me comovido tanto com o drama do médico. E a subtrama da moça que ele conhece e que está com câncer no cérebro também não me pareceu tão comovente. Mas é interessante o filme ter mostrado o quanto o médico muda depois de passar por tudo isso, não apenas no que se refere à doença, mas à maneira fria como é tratado no consultório.
Lembrei agora de um ex-diretor da empresa onde trabalho. Ele estava com um tumor "benigno" detrás do globo ocular. O tumor já tinha retirado a visão de um de seus olhos. Ele teria que fazer a cirurgia imediatamente se não quisesse perder a visão do outro olho. Para a retirada do tumor tiveram que abrir a cabeça dele. Um dos médicos que trabalhava na empresa na época tinha dito para ele mesmo que as possibilidades de ele morrer eram enormes. Mas ele sobreviveu. E é impressionante como ele se tornou uma pessoa melhor. Mais atenciosa, mais amável. Antes era um sujeito arrogante que fazia questão de humilhar as pessoas, como chegou a me humilhar uma vez. Quando deixou a empresa, aposentado, se despediu de todos numa boa, me elogiou, dizendo que eu era um rapaz esforçado e inteligente. Não deixou de ser emocionante para mim.
Agradecimentos ao amigo Zezão pela cópia. Não por acaso, Zezão é médico.