sábado, março 18, 2023
SERVANT – QUARTA TEMPORADA (Servant – Season Four)
A única série que estive acompanhando neste início de ano chegou ao fim. Não sei se tenho saudades de quando eu conseguia acompanhar de três a quatro séries ao mesmo tempo, mas o fato é que minha ansiedade de poder ver mais filmes (e me frustrar na maioria das vezes, com isso) acabou me afastando mais das séries. Mas desta eu não poderia me afastar, pois foi se tornando uma das mais queridas. A quarta temporada de SERVANT (2023) começa depois de um baita gancho: Leanne (Nell Tiger Free) resolve dar um castigo grande em Dorothy (Lauren Ambrose), fazendo-a cair do alto de uma escada. Ficou no ar, inclusive, a possibilidade de Dorothy ter morrido, mas a nova temporada volta com a personagem se recuperando, mesmo correndo o risco de nunca mais voltar a andar novamente.
Essa Leanne mais malvada foi aparecendo paulatinamente ao longo da série. Quando ela chegou na casa dos Turner, sua intenção era cuidar de Dorothy, tanto que trouxe de volta, com seus poderes mágicos, a criança que havia morrido. Na series finale, Dorothy diz a ela que isso foi a maior prova de amor que alguém já lhe deu. Foi um momento muito bonito da série, aliás, levando em consideração que as duas se tornaram inimigas mortais ao longo dessa longa história de abuso e carência afetiva.
Talvez o episódio final tenha deixado um gostinho de desapontamento, principalmente pelas coisas acontecerem de maneira tão rápida. Mas foi tão bom chegar até aqui nesses quatro/cinco anos de mistério geralmente acontecendo entre quatro paredes. SERVANT foi uma série surgida em 2019, mas meio que antecipou o clima de pandemia, dos espaços fechados, que se tornou regra em várias produções ocorridas em 2020. E M. Night Shyamalan, como o showrunner, soube muito bem criar um material com um cuidado visual muito bom, com uma direção de arte caprichada, com uma fotografia bem pensada.
Alguns cineastas que Shyamalan convidou para dirigirem vários episódios foram jovens diretores talentosos (a dupla Severin Fiala e Veronika Franz, de BOA NOITE, MAMÃE; Kitty Green, de A ASSISTENTE; Julia Docournau, de TITANE; Isabela Eklöf, de HOLIDAY; Carlo Mirabella-Davis, de DEVORAR, entre outros, além da própria filha do cineasta, Ishana Shyamalan, responsável por alguns dos mais estilosos e bonitos episódios). Esse aval a jovens cineastas é também um convite a certos espectadores para que conheçam o trabalho desses realizadores, que podem tanto ser gigantes no futuro (Docournau ganhou até Palma de Ouro), quanto injustamente esquecidos.
Uma das graças de SERVANT é temermos e ao mesmo tempo torcermos por Leanne, por mais que ela transforme a vida dos Turners num inferno e muito provavelmente seja um demônio. Se o final da série parece anticlimático, talvez seja porque o penúltimo episódio foi muito poderoso e tenso, e também muito triste – afinal, é quando acontece, finalmente, o tão aguardado momento da revelação do ocorrido com o filho de Dorothy para ela. Muito se aguardava por isso e Shyamalan foi o diretor do episódio, trazendo ainda mais dramaticidade para a situação, além de encerrar esse episódio (chamado de “Awake”) com aquela proposta sinistra de Leanne a Dorothy, parecendo o diabo oferecendo um pacto difícil de ser recusado.
Não dá para dizer que os criadores não foram coerentes no fim de tudo. E Leanne teve uma saída de cena tão bela quanto merecedora de sua grandeza como personagem tão doce quanto maligna. Por isso é muito bom ver a série encerrando com esse tom de ambiguidade.
No mais, vale lembrar que a temporada também contou com episódios memoráveis, como “Séance”, aquele da sessão espírita, quando uma das cuidadoras de Dorothy chama a atenção para um bebê; “Boo”, o da festa de Halloween, em que Leanne se veste de forma muito bonita para a festa e acaba enfrentando heroicamente os membros do culto; e “Tunnels”, quando Sean (Toby Kebell) e Julian (Rupert Grint) tomam a decisão de apoiar Dorothy e tirar Leanne de suas vidas. Daria para citar mais, mas o espaço não cabe. No mais, vale lembrar que SERVANT é a segunda incursão de Shyamalan pela televisão, depois da ótima primeira temporada de WAYWARD PINES (2015-2016), infelizmente uma série pouco lembrada.
+ TRÊS FILMES
AS DUAS VIDAS DE AUDREY ROSE (Audrey Rose)
Uma das coisas mais interessantes deste filme de Robert Wise, cineasta prestigiado em Hollywood e que gostava de dirigir filmes de gênero também (horror, sci-fi, musical, western), é que AS DUAS VIDAS DE AUDREY ROSE (1977) é uma obra que fica no meio do caminho entre o terror e o drama, já que a questão da reencarnação não é necessariamente algo para dar medo. Agora, há sim um momento de tensão muito forte, que é a cena da hipnose da menina, lá perto de seu final. Na trama, Anthony Hopkins é um homem que se aproxima de uma família para dizer que a filha do casal é na verdade a reencarnação de sua filha, morta num acidente de automóvel. Entre a aceitação e o ataque, o filme ainda apresenta um interessante momento de drama de tribunal. Ainda assim, fiquei um pouco confuso com esse negócio de dois espíritos num único corpo. (Ou ao menos é isso que aparenta, quase como se fosse uma possessão.) O pessoal do espiritismo vê com bons olhos esse filme? Filme visto no box Obras-Primas do Terror Vol. 20.
O ÚNICO SOBREVIVENTE (Sole Survivor)
Precursor da franquia PREMONIÇÃO (2000-2011), este filme de baixíssimo orçamento conta a história de uma jovem mulher que é a única sobrevivente de um acidente aéreo. Logo que ela sai do hospital ela passa a ser perseguida por pessoas que estão aparentemente mortas - ou no mínimo muito estranhas. Engraçado que O ÚNICO SOBREVIVENTE (1984) tem os seus momentos e sinto um esforço de parte do elenco de dar o seu melhor, mas a direção pouco inspirada (do mesmo Thom Eberhardt de A NOITE DO COMETA, 1984) não compensa a falta de uma história melhor pensada. Ou seja, um monte de coisas não faz sentido, mas o problema nem é exatamente esse. De todo modo, acredito que é uma obra que pode encontrar o seu público. Filme visto no box Obras-Primas do Terror - Anos 80.
A SOMBRA DO GATO (The Shadow of the Cat)
Esta produção da Hammer dirigida por John Gilling, que curiosamente não se apresenta como sendo da Hammer nos créditos, é bem divertida. E fico me perguntando se algumas cenas engraçadas nasceram de fato para serem engraçadas. A princípio achei que não fosse me divertir com essa história aparentemente muito simples sobre uma gata que se vinga dos responsáveis pelo assassinato de sua tutora. A gata é uma graça e a gente torce por ela e pela morte dos tais vilões. Barbara Shelley (A ALDEIA DOS AMALDIÇOADOS) está bem como a moça que não sabe do ocorrido e é o mais próximo de uma heroína para a trama, mesmo com sua passividade. Fico imaginando como deve ter sido difícil de fazer as cenas com o gato, mas até que eles se saíram bem, com uso de campo-contracampo, efeitos de câmera especiais para o ponto de vista do felino e a tentativa de manter a iluminação sem oscilação em cenas mais escuras. Como se trata de um suspense gótico, a maioria das cenas de A SOMBRA DO GATO (1961) é noturna ou dentro do casarão. Visto no box Obras-Primas do Terror 19.
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