segunda-feira, fevereiro 18, 2019

O QUE VOCÊS FIZERAM COM SOLANGE? (Cosa Avete Fatto a Solange?)


Acabei esbarrando neste giallo porque no box da Versátil que eu comprei tem uma espécie de continuação do filme. Aí resolvi ver primeiro este aqui. Qual não foi minha surpresa quando me deparo com o melhor exemplar do gênero que eu já vi. Talvez melhor até que os filmes do Argento e do Bava, mas teria que rever vários para ter certeza.

É o tipo de filme que conquista o espectador desde a cena inicial, com o professor e a aula em um rio, namorando, quando acontece um assassinato. Depois disso, há todo um mistério em torno de mais mortes que surgem. O filme tem um visual lindo, um andamento narrativo de dar gosto, um pouco de sexo e violência e muitos elementos clássicos dos gialli - o assasino de luvas pretas, o seu ponto de vista.

O diretor é Massimo Dallamano, que tem um currículo maior como diretor de fotografia e assumiu a carreira de cineasta já na virada dos anos 50 para 60, tendo feito tanto spaghetti westerns quanto dramas eróticos, filmes de horror e comédias. Mas o que marcou mesmo sua carreira foram os gialli, sendo O QUE VOCÊS FIZERAM COM SOLANGE? (1972) o seu trabalho mais festejado, presente em várias listas de melhores filmes do gênero de todos os tempos.

Eu confesso que não sabia da fama desta obra e estava um tanto afastado do cinema de gênero italiano. Nem sei dizer o motivo. O fato é que atualmente estou passando por uma fase de revalorização das obras italianas que possuem um toque pulp – tanto é que estou adorando os fumetti de Dylan Dog e sentindo mais vontade de ler mais coisas parecidas também.

Os italianos têm (e nas décadas de 60 e 70 eram especialmente ótimos nisso) uma capacidade impressionante de pegar criações de outros países e transformar em algo diferente e envolvente, ainda que com um leve toque de imitação. No caso dos filmes policiais, a atração que eles têm por países de língua inglesa é algo que já deve ter sido objeto de estudo por muitos acadêmicos. Afinal, por que motivo a história teria que se passar na Inglaterra e não na Itália? De todo modo, eles tinham um fino faro para negócios e sabiam que o mercado era mais receptivo para obras de gênero saídas dos Estados Unidos e da Inglaterra. Por isso, as dublagens em inglês eram tão populares no mercado internacional.

Hoje em dia, porém, há uma preferência pelo áudio em italiano pelos aficionados pelos gialli e filmes de horror produzidos na Itália. Há um encanto todo particular que essas produções provocam. No caso de O QUE VOCÊS FIZERAM COM SOLANGE?, temos uma narrativa envolvente do início ao fim. O que é admirável, levando em consideração os caminhos que a obra percorre, dando a imaginar que alguma coisa vai sair muito errado no filme a qualquer momento, levando em consideração a trama em que não se sabe quem é o assassino de luvas pretas que mata as mulheres com uma facada na genitália.

Para nossa alegria, Massimo Dallamano conduz de maneira magistral a narrativa, brincando com as expectativas do espectador, tanto em relação a Elizabeth, personagem vivida pela bela e jovem espanhola Cristina Galbó, quanto pela introdução da personagem Solange, do título. Há que se destacar também a força do protagonista, vivido pelo italiano Fabio Testi. Ele faz o papel do professor de Educação Física casado que tem um caso com uma de suas alunas. A personagem da esposa, interpretada pela alemã Karin Baal, também tem uma importância fundamental no enredo, e há uma reviravolta interessante na personagem.

O QUE VOCÊS FIZERAM COM SOLANGE faz parte de uma trilogia inacabada de Dallamano sobre jovens estudantes em perigo. O segundo filme foi O QUE ELES FIZERAM A SUAS FILHAS? (1974), também presente em um dos boxes da Versátil. Infelizmente, o diretor morreu em 1976, antes de completar a trilogia.

+ TRÊS FILMES

ESCAPE ROOM

Um filme que tem os seus méritos, principalmente antes de chegar à sua conclusão. Até então funciona como boa distração. Mas depois bate até saudade de O ALBERGUE e JOGOS MORTAIS, já que segue-se a mesma linha, só que sem o gore e os excessos, que se tornaram coisa de mau gosto nos dias atuais. Mas até que eu me divertia. Foi bom também para rever Deborah Ann Woll, a melhor personagem de TRUE BLOOD. Direção: Adam Robitel. Ano: 2019.

O TERCEIRO ASSASSINATO (Sandome No Satsujin)

Hirokazu Koreeda se sai muito melhor quando trata de dramas familiares. Aqui ele trata de uma investigação sobre um assassinato. Em alguns momentos do filme eu fiquei um tanto desinteressado ou pensando em outras coisas. O que eu vejo como um problema (meu em relação ao filme, ao menos). Mas há uma discussão interessante sobre sentir-se impotente diante do que o destino nos reserva e também sobre justiça. Ano: 2017.

MUSEU (Museo)

O grande barato de MUSEU é procurar fugir dos clichês de filmes de roubo. Principalmente na cena do roubo, por mais tensa que ela seja. Depois vemos que não é exatamente um filme de roubo, talvez seja mais sobre frustrações e tentativas toscas de seguir um caminho grandioso, no caso, conseguindo dinheiro "fácil" com um roubo inédito. Destaque também para várias tomadas atípicas. Só achei que podia ser um pouco mais curto. Direção: Alonso Ruizpalacios. Ano: 2018.

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