quinta-feira, março 01, 2018

QUATRO TÍTULOS INDICADOS AO OSCAR DE FILME ESTRANGEIRO

É uma sorte quando o circuito exibidor dá espaço a todos os títulos indicados à categoria de filme em língua estrangeira no Oscar, como aconteceu neste ano. Mas essa sorte está associada, principalmente, ao fato de esses filmes terem sido vencedores nos principais festivais internacionais (Cannes, Berlim, Veneza). Seria este um fenômeno novo esse? Que eu me lembre, antes os indicados a esta categoria não estavam tão associados assim aos prêmios dos festivais. Pode ser positivo isso, embora os festivais não tenham acertado muito bem em suas escolhas.

THE SQUARE – A ARTE DA DISCÓRDIA (The Square)

O diretor Ruben Östlund ficou lembrado por um vídeo que ele, com muito bom humor, disponibilizou de sua revolta ao não ter sido indicado ao Oscar por FORÇA MAIOR (2014), um filme com ambições menores, mas bem melhor resolvido que este THE SQUARE – A ARTE DA DISCÓRDIA (2017), vencedor da Palma de Ouro em Cannes e representante da Suécia no Oscar. O novo trabalho de Östlund é gostoso de ver, tem uma beleza plástica agradável aos olhos, mas parece superficial por atirar para todos os lados. É ao mesmo tempo uma crítica à arte considerada nobre e também quer ser humanista, ao colocar seus personagens em posição de vergonha por seus atos. Apesar de relativamente longo em sua duração, a narrativa é bem conduzida, especialmente nas cenas envolvendo o assalto. Já a presença de Elisabeth Moss, embora sempre bem-vinda, pareceu desperdiçada em um papel pequeno. Mas gosto da cena da camisinha.

CORPO E ALMA (Teströl és lélekröl)

O filme da diretora Ildikó Enyedi conquistou o Urso de Ouro em Berlim e indicação ao Oscar pela Hungria. CORPO E ALMA (2017) chama a atenção por ser uma variação muito boa de uma história de amor entre pessoas com algum grau de deficiência. A história se passa em um matadouro, e confesso que foi um alívio ver que só há apenas uma cena de matança de animais (simulada). Não aguentaria se houvesse mais. O filme se concentra nessa relação entre um homem com um braço paralisado e uma mulher, sua chefe, autista. A relação dos dois se dá quando eles descobrem que compartilham o mesmo sonho. No sonho, eles são dois cervos que fazem sexo. Saber disso passa a ser essencial para uma aproximação mais íntima dos dois, por mais difícil que seja. Uma das cenas finais é perturbadoramente bela.

O INSULTO (L'Insulte / Qadiat Raqm 23)

Uma pena que O INSULTO comece tão bem, até lembrando um pouco o trabalho do iraniano Asghar Farhadi, mas que tenha uma conclusão pouco satisfatória, denunciando o quão quadrado é seu roteiro e suas intenções. A primeira hora é bem boa, centrando na trama da discussão boba entre dois homens de diferentes etnias no Líbano: um deles é palestino; o outro é libanês. A briga chega a situações bem pesadas e vai parar no tribunal, quando O INSULTO ganha ares de filme de tribunal tradicional. O diretor Ziad Doueiri, de LILA DIZ (2004), não tinha até então nenhum filme exibido na cidade. O INSULTO foi vencedor do Leão de Ouro em Veneza e é representante do Líbano no Oscar.

SEM AMOR (Nelyubov)

O novo filme de Andrei Zvyagintsev é uma bela surpresa. Surpreende principalmente por ser muito mais acessível do que o anterior, LEVIATÃ (2014), uma obra muito mais complexa e lenta. SEM AMOR (2017, foto) poderia muito bem passar em uma sala de circuito mais comercial sem nenhum medo de espantar um público maior. Na trama, marido e esposa vivem um divorcio litigioso e no meio do fogo cruzado o filho dos dois, um garotinho, se sente rejeitado e desaparece. A vida dos dois passa a girar em torno da busca pelo menino. Enquanto isso, o filme vai fazendo um estudo sobre os graus de frieza e egoísmo dos personagens. A fotografia é de uma lindeza impressionante. SEM AMOR ganhou o Prêmio do Júri em Cannes 2017 e é representante da Rússia no Oscar 2017. Em minha opinião, é melhor do que THE SQUARE.

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