quarta-feira, maio 05, 2010

DO MUNDO NADA SE LEVA (You Can't Take It with You)



Hoje, ao acordar, com aquela chuva forte me convidando a ficar em casa e uma falta de coragem imensa de sair pra trabalhar, lembrei-me do personagem de Lionel Barrymore em DO MUNDO NADA SE LEVA (1938), um senhor cuja filosofia de vida é: se você não está satisfeito com o seu trabalho, se você não gosta do que faz, pra que fazê-lo? Qual o sentido de estar fazendo algo que você não gosta por anos e anos? Mesmo sabendo que nem sempre é possível se dar ao luxo de fazer só o que se gosta, fiquei com essa mensagem na cabeça, até por estar já há um tempão insatisfeito com os meus empregos/remunerações. Mas no fim das contas, a necessidade financeira fala mais alto e a gente acaba se sujeitando a trabalhar pelo dinheiro. Sendo que, na maioria das vezes, nem é o suficiente para se ficar numa situação mais confortável, mas apenas para pagar as dívidas. O que não significa que esse cenário não possa ser mudado.

Em DO MUNDO NADA SE LEVA, Frank Capra, o cineasta que ficou conhecido por lidar com a ética no cinema e propor melhores maneiras de se viver, traça o perfil de uma família chefiada por um simpático senhor, o vovô Martin Vanderhof (Barrymore), que chega a convidar pessoas que queiram fazer o que gostam para morar com ele em sua casa. Sua neta, Alice (Jean Arthur), trabalha como secretária de Tony Kirby (James Stewart), um executivo filho de um grande milionário da cidade. A família milionária é conhecida por não admitir pessoas que não sejam da mesma classe social e uma das primeiras cenas do filme mostra Tony demonstrando afeto a Alice em seu gabinete. Ele é flagrado pela mãe, que não gosta nada do que vê. Mas os dois se amam e tentam vencer esse obstáculo. Tão ou mais importante que o romance dos dois é a rotina na casa de Vanderhof, cheia de tipos esquisitos fazendo coisas meio loucas, que só se acha engraçado num filme mesmo. Na vida real, quem é que gostaria de viver numa casa tão barulhenta e caótica?

Alguns momentos engraçados do filme são herdeiros das screwball comedies, se é que o filme também não se inclui nessa categoria. Inclusive, a cena do restaurante, com o casal tentando esconder algo que está escrito na parte de trás do vestido de Alice me fez lembrar muito LEVADA DA BRECA, de Howard Hawks, que tinha uma cena ainda melhor - Katharine Hepburn com o vestido rasgado e Cary Grant procurando um jeito de disfarçar. O detalhe é que os dois filmes são do mesmo ano. Talvez nenhum dos dois tenha copiado a ideia do outro. Vai ver esse tipo de situação fosse comum nas comédias da época, seja no teatro, seja no cinema.

O filme, apesar de bastante agradável desde os momentos iniciais, só emociona de fato lá perto do final, que é quando Capra mostra o seu gênio em criar histórias de mensagens positivas. No caso, vemos a humildade vencendo a arrogância. Por mais simplista e até careta que isso possa parecer, no filme isso até ganha um ar subversivo, já que há um questionamento do próprio sistema capitalista americano, da vontade de querer acumular mais e mais riquezas. Sem falar na brincadeira em torno da Revolução Russa de 1917, que numa produção da era do macarthismo seria provavelmente banida. Difícil não terminar o filme com um sorriso no rosto e uma lágrima furtiva descendo pelo canto.

DO MUNDO NADA SE LEVA foi vencedor dos Oscar de filme e direção.

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