sexta-feira, abril 17, 2009

MA MÈRE























Christophe Honoré tem apenas seis longas no currículo e já é aclamado como um dos maiores nomes da rica cinematografia francesa. Ainda que esteja de alguma maneira vinculado ao estilo de certos diretores da Nouvelle Vague, Honoré capta o espírito do novo século como poucos, o que o torna um cineasta do nosso tempo. Como se ele tivesse uma antena que o mantivesse em sintonia com o espírito de nossa época, desse tempo estranho e sombrio em que vivemos. Sabe-se que o tema do relacionamento incestuoso entre mãe e filho é tão antigo quanto a humanidade e que o mito de Édipo já se tornou parte inerente da nossa civilização e do inconsciente coletivo. Por isso, MA MÈRE (2004) está longe de ser o primeiro filme a tratar do assunto. Até acho que o recente PECADOS INOCENTES (2007), de Tom Kalin, é mais bem resolvido em seu aspecto trágico, mas Honoré, com sua ligação com os cineastas franceses que fizeram história nos anos 60, faz questão de nos lembrar vez ou outra que o que estamos vendo é um filme. Ainda assim, fica no ar um sentimento incômodo no relacionamento entre os personagens de Isabelle Huppert e Louis Garrel, o ator-fetiche do cineasta. Eles são Hélène e Pierre. Ela trabalha como prostituta e exerce um poderoso fascínio no filho católico.

MA MÈRE é bem ousado nas cenas de sexo. Em que outro filme vemos uma mulher se divertindo em meter o dedo no orifício anal de um rapaz? E isso é apenas o começo do processo de entrada de Pierre no mundo do sexo "livre" e do sadomasoquismo, já familiar à mãe. O filme é adaptação de uma obra póstuma de Georges Bataille, um escritor que tem uma história trágica de vida, tendo seu pai morrido cego e paralítico quando ele era ainda adolescente e a mãe tendo tentado o suicídio. Como não li o romance (nem nada do escritor), não sei o quanto foi mantido no filme na adaptação, mas pelo que eu pude ver na entrevista do diretor apresentada como extra do DVD americano, há um respeito muito grande em relação à obra literária. Quanto ao filme em si, uma das coisas que mais impressiona é a forte presença de Isabelle Huppert. Talvez a maior atriz do cinema francês da atualidade. Ela não aparece em cerca de um terço do filme e ainda assim a sombra de sua personagem permanece presente.

Na trama, Hélène resolve iniciar o filho nos prazeres da carne, acreditando que isso deve ajudá-lo na formação masculina. Seria mais ou menos o que um pai faria, não uma mãe. Ela o leva para o encontro com uma amiga bem desinibida (Joana Preiss, presente em papel de destaque no trabalho seguinte do diretor, EM PARIS, 2006). Mas aquela que estará mais presente na vida do rapaz será outra das garotas de programa, interpretada pela bela Emma de Caunes. Ela tem uma ternura e um jeito sutil de abordar o rapaz que faz com que logo criemos facilmente uma simpatia por ela. Sem falar que ela tem um corpo perfeito e em determinada cena é até possível imaginar que ela estava realmente excitada, o que só aumenta a força sensual do filme. O final é especialmente surpreendente e inusitado. O DVD importado, além de conter entrevistas com o diretor e parte do elenco, conta com o final alternativo, que não é muito diferente do oficial. No mais, o filme é também mais uma amostra da forte presença de cena de Louis Garrel, que tem se mostrado bem versátil. Basta ver a sua evolução nos próprios filmes de Honoré.

Agradecimentos especiais a Eduardo Carlos pela aquisição.

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