quinta-feira, novembro 13, 2008
SARGENTO YORK (Sergeant York)
O filme mais caro e mais premiado de Howard Hawks é talvez o que menos tem a cara de seu diretor. SARGENTO YORK (1941), apesar de ser emocionante e importante dentro do contexto histórico - servindo para levantar a moral e elevar o senso patriótico do povo americano em tempos de guerra –, não me pareceu uma obra tipicamente hawksiana. Isto é, não há no filme os arquétipos e a metade da graça que fazem a alegria dos fãs do diretor. Analisado como um filme isolado, é um trabalho brilhante, mas acho que Hawks não tinha uma veia tão patriota quanto John Ford, que fez filmes com elevado grau de patriotismo sem parecerem bobos, como A MOCIDADE DE LINCOLN, AO RUFAR DOS TAMBORES e FOMOS OS SACRIFICADOS, que deixavam o espectador contagiado. Sem falar que FOMOS OS SACRIFICADOS era sobre a guerra em questão, ainda quentinha na memória dos americanos e que o próprio diretor havia vivenciado, enquanto que SARGENTO YORK é sobre a 1ª Guerra Mundial, baseado numa história real de um homem caipira das montanhas do Tenessee que se torna um herói de guerra, muito bem interpretado por Gary Cooper.
Acontece que depois de GLÓRIA FEITA DE SANGUE, de Stanley Kubrick, qualquer cena que mostre os flancos, a guerra contra os alemães nas trincheiras, fica parecendo ensaio. Mas deixando de lado a comparação com a obra-prima de Kubrick, as cenas de SARGENTO YORK são bem boas, ainda que em certo momento eu tenha achado absurdas algumas situações, por mais próxima do real que ela tenha se inspirado. Alvin York, um homem religioso e que não queria entrar na guerra por acreditar na Bíblia, pois é contra a lei de Deus matar qualquer ser humano, demora um pouco para criar gosto para matar pessoas como se estivesse matando perus com o seu velho rifle na montanha. Mas ainda bem que o filme mostra isso, embora tudo seja muito suavizado e York, com o seu jeito todo inocente, faz com que o cenário da guerra, que acabou com a rendição de dezenas de alemães por apenas sete soldados americanos, se torne apenas divertido e não cruel e violento, como deveria ser. Mas, novamente, é preciso levar em consideração a época e a situação. Provavelmente os pais dos soldados que partiram para a sacrificar suas vidas na Europa não quisessem ver algo muito violento para não ficarem impressionados. Sem falar que o aspecto familiar é muito valorizado, sendo a personagem da mãe de York um dos mais ternos do filme.
O meu problema com o filme, além do fato de não ser um Hawks típico, embora tenha alguns elementos de sua obra, é que soa estranho demais para um filme do diretor, que sempre optou por ser mais pessimista e cruel com seus personagens. Ele mesmo já havia feito um filme sobre a 1ª Guerra – CAMINHO DA GLÓRIA (1936), que tinha muito mais a cara dele, embora não seja tão bom quanto. Como SARGENTO YORK é uma superprodução, com muito dinheiro envolvido, e é feito com o objetivo de elevar os ânimos do povo americano, passa a impressão de que Hawks pensou duas vezes antes de fazer qualquer cena mais forte ou que provocasse um pouco de desencanto no povo. O final feliz é tão estranho quanto ver Zé do Caixão se convertendo ao Cristianismo na conclusão imposta pela censura de ESTA NOITE ENCARNAREI NO TEU CADÁVER.
No mais, é um belo filme, mas que eu não colocaria entre os meus favoritos do diretor. O filme foi indicado a onze Oscar, incluindo melhor filme e melhor diretor, perdendo os dois prêmios para COMO ERA VERDE O MEU VALE, do amigo John Ford. Mas naquele ano a premiação estava concorridíssima. Havia entre os concorrentes CIDADÃO KANE, de Orson Welles, SUSPEITA, de Alfred Hitchcock e O FALCÃO MALTÊS, de John Huston. Aliás, Huston foi o verdadeiro roteirista de SARGENTO YORK. Nos créditos aparecem quatro nomes, mas segundo Hawks, Huston fez todo o trabalho. No fim, o filme ganhou os prêmios de melhor ator para Cooper e de melhor edição para William Holmes. Walter Brennan quase ganha o seu segundo Oscar num filme de Hawks. Mas Hawks não ligava muito pra esse negócio de Oscar. Em suas próprias palavras: "acho que alguns dos filmes premiados não são grande coisa, por isso, acho que o Oscar não significa muito para mim. Vi muitos filmes dos quais não gostei, mas eles foram indicados e receberam o Oscar.".
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