sábado, novembro 18, 2006
JOHN FORD EM DOIS FILMES
Estou tendo a oportunidade - graças ao empurrãozinho do livro "John Ford - A Filmografia Completa", editado pela Taschen - de conhecer facetas diferentes de John Ford, cineasta que eu sempre associei ao western e quase sempre ligado à personalidade forte de John Wayne. Lendo o livro, deu vontade de conhecer alguns filmes mudos do diretor, que são bem difíceis de encontrar hoje. O autor do livro destacou, entre os trabalhos de Ford no cinema mudo, O CAVALO DE FERRO (1924) e TRÊS HOMENS MAUS (1926). Mas como já é tarefa difícil encontrar trabalhos da década de 30 do cineasta, que dirá dos anos 20. De qualquer maneira, ficarei de olho para uma possível chance de que isso ocorra algum dia. E declaro iniciada, com este post, a peregrinação à obra desse gigante do cinema. Os dois títulos abaixo são filmes estranhos ao que eu estou acostumado a ver de Ford. Pertencem a uma fase diferente de sua carreira, que ainda estou tentando entender. Independente de aprofundar-se ou não na sua obra, ver os seus filmes é sempre um prazer.
A PATRULA PERDIDA (The Lost Patrol)
Encontrei o DVD de A PATRULHA PERDIDA (1934) enquanto passava de bobeira em frente a uma banca de revista. Apareceu nas bancas como um lançamento de uma tal Ocean Pictures do Brasil, ainda que, por dentro, tenha o slogan da ClassicLine apresentando o filme. Como o preço era bem convidativo, adquiri o DVD com um sorriso no rosto. A qualidade da imagem está boa. A PATRULHA PERDIDA foi o primeiro dos dois filmes de Ford em parceria com Merian C. Cooper, da RKO, um dos diretores do KING KONG original. Trata-se de um filme bem simples e que dá pra perceber a economia de recursos. Em alguns momentos, até parece adaptado de uma peça de teatro, principalmente pelo fato de os personagens ficarem muito tempo no mesmo lugar, um oásis no meio do deserto. Na trama, durante a Primeira Guerra Mundial, uma patrulha da cavalaria britânica está em missão nos desertos da Mesopotâmia, quando o seu comandante é assassinado por um atirador de elite árabe, deixando os soldados perdidos sem saber o que fazer e para onde ir no meio daquele deserto. Com sede e cansados, eles avistam um oásis e se alegram por algum tempo, desfrutando de sombra e água fresca. Mas os atiradores de elite árabes, que nunca aparecem, vão dando cabo de cada um deles. Um dos méritos do filme é ser simples, curto (65 minutos) e eficiente na construção do suspense e da tensão. No elenco, há a presença de Boris Karloff no papel de um fanático religioso. Para a RKO, Ford ainda faria o elogiado O DELATOR (1935), que daria o primeiro Oscar de direção ao cineasta.
O FURACÃO (The Hurricane)
Depois do Oscar ganhado por O DELATOR e de mais cinco produções menores, John Ford trabalha num filme de orçamento maior, com direito até a efeitos especiais que ainda hoje impressionam. O FURACÃO (1937) é um misto de disaster movie com estória de amor e estória de prisão. A trama se passa num ilha que logo no começo do filme sabemos já não existir mais. O filme começa com um narrador passando de navio por essa ilha e contando a uma pessoa o que aconteceu com aquele paraíso tropical. Assim, conhecemos a fictícia ilha de Manikoora, colonizada pelos franceses. O personagem principal é Terangi, um jovem amado pela comunidade e que, indo a trabalho ao Tahiti, esmurra um homem que lhe importunava e por isso é condenado a passar seis meses na prisão. Como o rapaz não nasceu pra ficar preso, ele vai tentando diversas vezes sair da prisão e isso vai aumentando cada vez mais a sua pena. É uma estória comovente e que nos deixa indignados. Curiosamente, um filme de mesmo nome - aquele com o Denzel Washington - também tem esse poder de indignação. Mas O FURACÃO de Ford é um filme diferente. O último ato consegue ser ainda melhor, mostrando os estragos que um grande furacão faz naquele pedaço de terra cercado de água. Os efeitos especiais são caprichadíssimos. Fiquei bastante surpreso com esse filme de Ford, que peguei achando que era apenas um trabalho sem grandes pretensões e o que eu vi foi uma obra de mestre.
Devo pegar pra rever, numa próxima ida à locadora, NO TEMPO DAS DILIGÊNCIAS (1939), filme que marcaria a história do cinema. Pena que só existe a cópia da Continental.
P.S.: Fiquei triste com o fim do Blog da Desforra, do amigo Heráclito Maia. Espero que ele retorne à blogosfera em breve. Sei que, como eu, muitos são admiradores do seu trabalho e de sua simpatia.
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