segunda-feira, dezembro 26, 2005

DUELO AO SOL (Duel in the Sun)



David O. Selznick foi um dos produtores mais poderosos da era de ouro de Hollywood. Só mesmo Hitchcock pra conseguir dobrar o homem e fazer os filmes do jeito que queria. Normalmente, em grandes produções, era comum haver briga entre Selznick e os diretores contratados. O caso mais notório é o de E O VENTO LEVOU (1939), que teve vários diretores além de Victor Fleming atrás das câmeras. Com DUELO AO SOL (1946) não foi muito diferente. É um filme de múltiplos diretores, embora a direção seja atribuída somente a King Vidor. Na época em que foi produzido, era o filme mais caro já realizado até então. O dinheiro que se gastou com publicidade foi quase tão alto quanto o valor gasto com a produção. Assim como E O VENTO LEVOU, DUELO AO SOL é carregado de tons épicos e possui um belo uso da fotografia em technicolor - o vermelho do céu contribui para acentuar o sentimento de paixão. Se bem que o colorido do filme funciona melhor com as paisagens do que com a cor da pele do elenco.

Na trama, Jennifer Jones é Pearl, uma jovem mestiça nascida de um homem branco e uma índia. Depois que seu pai é enforcado por ter matado a mãe e o amante em ato de adultério, ela é enviada para os familiares ricos do pai. Lá, ela é bem tratada pela senhora (interpretada pela estrela do cinema mudo Lillian Gish), mas é maltratada pelo preconceituoso Senador (Lionel Barrymoore), um poderoso barão do gado do estado do Texas. Mas quem mexe mesmo com o coração de Pearl são os dois jovens irmãos interpretados por Joseph Cotten e Gregory Peck. Cotten é o irmão bondoso, educado, que estuda para ser advogado; Peck faz o irmão malvado, indisciplinado e mestre em domar cavalos e administrar o gado. Para ele, a garota mestiça é semelhante a um cavalo a ser domado. Por isso, ele não se importa em levar alguns tabefes, se o objetivo é conquistar a jovem.

Acho que esse é apenas o segundo filme que vejo que possui um prólogo contendo apenas uma música instrumental para criar expectativa no expectador. (O primeiro havia sido SPARTACUS, de Stanley Kubrick). No caso de DUELO AO SOL, o prólogo dura mais de dez minutos. Depois, entra a voz grave de Orson Welles nos apresentando a história a ser contada, que tem o valor de uma lenda. 

Curiosamente, DUELO AO SOL foi um dos primeiros filmes que Martin Scorsese assistiu quando criança. Ele ficou extremamente impressionado com a seqüência final - o tal duelo do título, nas montanhas. O amor e o ódio se misturando e se confundindo. Imagino o quanto deve ter sido prazeroso para ele ter tido a chance de trabalhar com Gregory Peck anos depois, em CABO DO MEDO. 

Filme visto no DVD da ClassicLine, que está com boa qualidade de imagem. 

P.S.: 30 dos melhores momentos do cinema em 2005. Nova coluna no CCR.

Nenhum comentário: