sábado, fevereiro 19, 2005
SPARTAN
Quando David Mamet começou a dirigir, no final dos anos 80, seus primeiros trabalhos foram bem celebrados pela crítica. Mamet, antes de debutar na direção era um roteirista de primeiro escalão, responsável pelos roteiros de O DESTINO BATE À SUA PORTA (1981), O VEREDITO (1982) e OS INTOCÁVEIS (1987). Sua estréia na direção veio com o elogiado JOGO DE EMOÇÕES (1987) e desde então ele não parou mais. Seja fazendo roteiros para filmes que ele mesmo dirige ou para outros diretores, seu estilo é marcante. Seus filmes são marcados por diálogos primorosos e tramas inteligentes.
Em SPARTAN (2004), seu mais recente filme, Val Killmer é um experiente oficial do exército e especialista em operações secretas que é chamado para resgatar a filha de um político importante dos EUA (o filme nunca diz se o político é candidato a presidente, ou a governador ou algo do tipo), vítima de seqüestro. As investigações vão evoluindo, surpresas vão aparecendo, e o protagonista se vê enredado numa trama comandada pelo próprio governo americano.
Se comparado com O ASSALTO (2001), seu filme anterior, SPARTAN é bem menos cerebral e complicado. Sua história é até simples e o filme é econômico nos diálogos. O estilo aqui é de filme de ação. Mas não um filme de ação como outro qualquer. Aqui, não há espaço para o desnecessário ou o apelativo. Outro diretor teria mostrado a cena em que o personagem de Derek Luke mata o seu colega no teste final para se trabalhar nas operações secretas do exército para mexer com o sangue da platéia. Mamet preferiu usar uma elipse. O que deixa o filme um pouco frio, mas esse é o estilo do diretor.
Mamet parece se preocupar em manter a platéia tão lúcida e sóbria quanto ele. O sentimentalismo é também deixado de lado. Melhor dizendo, o sentimentalismo é posto pra debaixo do tapete, como os sentimentos do personagem de Kilmer, que tem que ser durão como um soldado espartano. Não importa se é preciso ficar sem dormir ou mesmo matar um policial para que seu serviço seja bem sucedido. Lembra um pouco o Jack Bauer da série 24 HORAS.
A fotografia do filme, a cargo do espanhol Juan Ruiz Anchía, que já havia trabalhado com Mamet em seu primeiro filme, é uma atração à parte. O filme talvez seja o que mais privilegia o visual em detrimento dos diálogos dentre os filmes do diretor. A fotografia em scope pede para que o filme seja visto no cinema, principalmente porque a distribuidora é a Europa, que não costuma lançar os DVDs em widescreen. Inclusive, o filme está sendo lançado esse mês nas locadoras.
Na próxima semana, o filme a ser exibido no Cinema de Arte será REFÉM DE UMA VIDA (2004), de Pieter Van Brugge, que também tem como tema o seqüestro. A abordagem é que é um pouco diferente do usual. O filme é mais intimista, privilegiando o relacionamento entre seqüestrador e seqüestrado, e o sofrimento da esposa da vítima.