quarta-feira, fevereiro 16, 2005

MAR ADENTRO

 

Confesso que quando soube que Alejandro Amenábar iria enveredar pelo drama, depois de nos presentear com três filmes do gênero terror/suspense, fiquei um pouco decepcionado. É que eu estava acompanhando o seu aperfeiçoamento ascendente com os filmes TESIS / MORTE AO VIVO (1995), O PRISIONEIRO DA ESCURIDÃO / ABRA OS OLHOS (1997) e OS OUTROS (2001) e esperava que ele continuasse a nos pregar sustos com filmes tão bem realizados. Sinto falta de novos diretores especializados em terror, como John Carpenter, George Romero, Dario Argento, Wes Craven. 

Mas depois de ver MAR ADENTRO (2004), vi que essa minha preocupação não tinha razão de ser. Amenábar mostra um domínio da arte cinematográfica que vai além daquilo que ele já tinha demonstrado muito bem em seus thrillers. Entrando para o território do drama, ele tem a oportunidade de trabalhar com sentimentos e com personagens mais complexos do que os geralmente mostrados nos filmes de terror. 

MAR ADENTRO conta a história real de Ramón Sampedro, brilhantemente interpretado por Javier Bardem, que fica preso a uma cama há 28 anos por causa de um acidente que o deixou tetraplégico. Para ele, viver daquela forma não é digno. Ele fica tão revoltado com a situação que o seu principal objetivo de vida é conseguir alguém que lhe pratique a eutanásia. Como ninguém de sua família tem coragem de fazer isso, ele tenta conseguir junto aos tribunais uma decisão judicial que possibilite a alguém tirar-lhe a vida. 

A trama do filme se inicia quando surge uma advogada disposta a defender no tribunal a causa de Ramón. Ela ficou interessada pelo caso por ter se identificado com o seu drama: ela sofre de uma doença degenerativa, que já estava lhe afetando as pernas. O relacionamento de Ramón com ela, bem como sua relação com Rosa, uma mulher que mora em seu povoado, é das coisas mais belas do filme. O surgimento dessas duas mulheres devolve um pouco a alegria que faltava na vida daquele sofrido homem. Tanto que chegamos a pensar que ele talvez até desista da idéia da eutanásia, já que encontraria no amor um novo sentido para viver. 

São vários os momentos belos do filme. Várias vezes MAR ADENTRO nos leva às lágrimas. Há uma seqüência que é excepcional. Nela, o protagonista, ouvindo uma música clássica no toca-discos, usa sua imaginação para se levantar da cama e em seguida voar até a praia e se imaginar nos braços de uma de suas amadas. Uma cena tão viajante que faz com que a gente se sinta voando também. É uma sensação muito boa. 

Vi MAR ADENTRO num sessão pré-estréia. Ele deve estar entrando em circuito normal a partir de sexta. O filme até que não tem despertado tantas polêmicas como se imaginava, por causa de seu tema espinhoso. Quanto a Javier Bardem, aguarda-se nos cinemas KILLING PABLO, de Joe Carnahan, em que Bardem interpreta o chefão das drogas Pablo Escobar. 

MAR ADENTRO concorre a dois Oscar: melhor filme estrangeiro e maquiagem. Uma injustiça não terem indicado Bardem.

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