domingo, maio 19, 2024
BEBÊ RENA (Baby Reindeer)
Dias difíceis. Aliás, semanas. No mês de abril estive doente todos os dias. E passei poucos dias em casa descansando, de modo que não repousei o bastante para que ficasse curado e logo ficava doente novamente de outra virose ou coisa parecida. E, em maio, posso até estar melhor dessas gripes e alergias, mas a conta de não ter me tratado adequadamente chegou sob forma de aumento de irritabilidade, ansiedade e angústia. A quantidade de vezes em que estou tento acessos de raiva durante as aulas tem aumentado e isso tem me deixado preocupado. Porém, acredito que isso pode ser bom para que eu fique atento para me policiar, respirar fundo ou buscar mais ajuda profissional.
No meio desse cenário, opto por ver uma minissérie nada adequada para quem anda tendo (ou já teve) problemas de ansiedade, autoestima ou até algo mais grave, como é o caso da questão central da obra, criada, escrita e protagonizada por Richard Gadd. Ele interpreta a si mesmo, conta sua história dramática de assédio, abuso, profunda inquietação espiritual e insegurança. Enfim, ele se expõe, agora para todo o mundo, depois de se expor para o Reino Unido, tudo aquilo que o assombrou. E, para surpresa dele, e de muitos, BEBÊ RENA (2024) está sendo um sucesso estrondoso.
Graças ao burburinho, ao tanto de exposição e de debate nas redes, acabei não resistindo e finalmente vendo – tenho evitado ver séries, pois fico sempre achando que estou perdendo de ver os filmes. Não é das obras mais agradáveis de ver, do ponto de vista do bem-estar espiritual que traz, mas acho que é justamente por isso (e também por todo um trabalho bem desenhado de roteiro e atuações) que BEBÊ RENA deve ser visto.
Há tempos não vejo algo tão psicologicamente incômodo. E quando o rumo da história parece não trazer algo pior para o protagonista, eis que um poderoso flashback, no antológico quarto episódio, o joga no fundo do poço. Em alguns momentos fiquei pensando se o filme não estaria sendo um pouco gordofóbico ao pintar a personagem de Martha (Jessica Gunning) daquela maneira, mas imagino que não poderia ser diferente, levando em consideração o interesse em torná-la semelhante também fisicamente à verdadeira stalker.
Para quem não sabe, a série conta a história de um barman e aspirante a comediante (na verdade, um comediante fracassado) que começa a ser perseguido por uma mulher com antecedentes criminais por causa de situação semelhante. No começo, ele a vê como uma mulher triste no bar e oferece uma bebida para ela. Em troca, ela retribui com sorriso e muitos elogios àquele homem que se via como alguém desprovido de talento. Mas o mais assustador é o tanto que aquela mulher passou a enviar centenas de mensagens de e-mail para ele todos os dias. E o que poderia ser algo fácil de se encerrar, graças às ações dele, acaba tomando contornos gigantescos e assustadores.
O que mais dói na minissérie é o quanto é uma obra sobre duas pessoas que têm uma autoestima muito baixa, a ponto de se perderem em suas vidas. Depois de terminar de ver, é preciso desintoxicar, buscar algo mais leve. Ou talvez parar para escrever sobre a série, pensando, talvez, até no quanto temos de comum com um daqueles dois personagens. E pensar isso não deixa de ser também perturbador e assunto para muitas sessões de terapia.
+ UMA MINISSÉRIE, UMA TEMPORADA DE SÉRIE E UM ESPECIAL
A QUEDA DA CASA DE USHER (The Fall of the House of Usher)
Uma tristeza para quem é fã do trabalho de Mike Flanagan ver esta minissérie que parece se arrastar sem fim enquanto a vemos (eu passei meses para conseguir acabar). O próprio último capítulo parece interminável. E olha que não é pelo fato de ter muitos diálogos, muito texto. Afinal, MISSA DA MEIA-NOITE (2021), a provável obra-prima maior de Flanagan, também tem. Desde os primeiros capítulos que comecei a achar que o problema de A QUEDA DA CASA DE USHER (2023) é a falta de algo que está muito presente na obra do diretor e roteirista: o amor. Esse sentimento que nutrimos por seus personagens é visto com muita força especialmente em A MALDIÇÃO DA RESIDÊNCIA HILL (2018), mas aqui ele resolve fazer uma obra com personagens odiosos. Até aí não vejo exatamente um problema, estamos acostumados com isso, em outras séries, ou outros filmes. Mas ele não consegue fazer algo bom disso, mesmo aproveitando as várias homenagens a Edgar Allan Poe, que aos poucos acabam ficando irritantes e prolongadas. No fim das contas, a melhor impressão que guardei da série foi a reinvenção de Mark Hammil, como o faz-tudo da família Usher. No mais, claro que desejo boa sorte a Flanagan, que está agora em nova casa, depois de encerrar seu contrato com a Netflix.
LOKI – SEGUNDA TEMPORADA (Loki – Season 2)
Um caso muito especial o de LOKI, uma série feita com tanto cuidado e com tanto carinho que pode até ser vista independente dos filmes e de conexões com os quadrinhos. Se pensarmos no quanto a Marvel tem pisado na bola, então, LOKI, em especial nesta segunda temporada (2023), acaba se destacando mais ainda. É tudo de alto nível. Os atores são incríveis (Tom Hiddleston, Owen Wilson, Sophia Di Martino, Wunmi Mosaku, Jonathan Majors, Gugu Mbatha-Raw), o roteiro é ótimo (inclusive os diálogos), a direção de arte e fotografia são lindas etc. A história é diferente de tudo que já vi: uma sci-fi com abertura para a fantasia sobre livre arbítrio, multiverso e redenção (sacrifício). E todo o carinho com os personagens e com o visual retrô se manifesta dos créditos à música. Confesso que não estou ligando muito para a relação da série com o futuro da Marvel. Mas vai que eles acertam. Até porque Michael Waldron, o criador, roteirista e showrunner de LOKI será roteirista também de alguns projetos importantes do estúdio.
INVENCÍVEL - ATOM EVE (Invicible – Atom Eve)
Nem sabia da existência deste episódio especial de INVENCÍVEL centrado em Samantha, a Eve Atômica, mais especificamente suas origens. E o interessante é que, pelo que pude ver nos primeiros episódios da segunda temporada, que ainda não terminei, a personagem começou a ganhar mais espaço. Apresentar suas origens é uma maneira de nos apresentar ao passado doloroso da personagem, que nasceu de um experimento científico e foi parar na casa de um casal normal. A história de INVENCÍVEL - ATOM EVE (2023) acontece antes de Mark Grayson descobrir seus poderes. Como sendo uma história de adolescente, a questão do sentimento de inadequação se mostra presente, ainda mais sendo Samantha alguém que se vê totalmente sozinha no início de sua jornada pessoal. O estilo do desenho é o mesmo da série, bem simplificado e sem tanto capricho. Não que isso faça tanta diferença. Gosto das cenas de luta perto do final e do quanto elas funcionam para enfatizar o teor dramático da história.
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