quinta-feira, junho 08, 2017

BEIJO NA BOCA


Um dos maiores méritos desses filmes brasileiros produzidos no início da década de 1980 é que eles estão mais inundados de uma voltagem erótica e uma maior nudez gráfica que permitem que sejam até hoje muito mais excitantes do que a grande maioria dos filmes pornográficos e com a vantagem de que isso não atrapalhe o andamento e o interesse da trama. É possível dizer isso pegando como exemplo um filme apenas mediano como BEIJO NA BOCA (1982), de Paulo Sérgio de Almeida.

Essas produções realizadas no Rio de Janeiro ainda tinham a vantagem de contarem com grandes nomes da teledramaturgia brasileira, como é o caso aqui do casal vivido por Cláudia Ohana e Mário Gomes, para citar apenas os protagonistas. Ambos funcionam muito bem nos papéis de dois jovens que querem viver uma vida fácil e dedicada principalmente ao prazer, mais especificamente ao sexo, sem qualquer preocupação com trabalho ou coisa do tipo. No entanto, há um preço a se pagar por isso e o filme mostra isso sem parecer moralista. De qualquer maneira, nem é preciso sair por aí dizendo que não se deve matar os ex-namorados da mulher que ama.

Aliás, o interessante do filme está mais em sua primeira metade, que explora a relação dos dois, que, principalmente na primeira cena, no motel, traz uma cena erótica bastante convincente e cheia de sensualidade. O modo como Cláudio Ohana se despe para subir tirando a roupa em cima do corpo de Mário Gomes passa uma vontade, um desejo, que transpira sexo. As demais cenas sensuais não serão tão boas ou convincentes, mas essa compensa as demais.

"Você não sabe o que passa pela cabeça de uma mulher com 21 anos de idade", diz Joana Fomm, no papel da mãe de Celeste, personagem de Ohana, ao marido, um militar linha-dura vivido por Milton Moraes. Esta frase, junto com a apresentação da personagem logo no início, tomando banho em casa depois de um quentíssimo sol de verão na praia, ajudam a dar o tom do calor da personagem e do modo como ela está disposta a entrar de cabeça nas relações físicas.

E é quando ela conhece um sujeito meio malandro em um planetário. Mário, personagem de Mário Gomes, não precisa se esforçar muito para ganhar uma nova namorada. E o modo como ele ama Celeste é de natureza bem carnal. Mário não diz que está apaixonado por ela, ele diz que está completamente tarado por ela. A paixão sobe à cabeça, assim como o ciúme, e Celeste acaba entregando algumas coisas do seu passado, sem saber do potencial de psicopata de Mário.

É quando o filme começa a desandar, embora seja bastante incômoda a cena na praia, em que Mário encontra um ex de Celeste. A cena é violenta e um tanto perturbadora. Nesse sentido, por mais chulo que a obra pareça no desenvolvimento dessa parte criminal, tem como mérito esse sentimento de mal estar provocado por essa cena em particular.

Pode-se dizer que o principal autor do filme é Euclydes Marinho, o roteirista que assinou a minissérie A VIDA COMO ELA É... (1996) e os longas para cinema PRIMO BASÍLIO (2007) e SE EU FOSSE VOCÊ 2 (2009), todas obras dirigidas por Daniel Filho. Enquanto isso, o diretor Paulo Sérgio de Almeida amargaria um fim de carreira triste com alguns horrorosos filmes da Xuxa.

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