sábado, dezembro 28, 2019

TOP 20 2019 E O BALANÇO DO ANO



1. LONGA JORNADA NOITE ADENTRO, de Bi Gan
2. DOR E GLÓRIA, de Pedro Almodóvar
3. O IRLANDÊS, de Martin Scorsese
4. O FIM DA VIAGEM, O COMEÇO DE TUDO, de Kiyoshi Kurosawa

5. ERA UMA VEZ EM... HOLLYWOOD, de Quentin Tarantino
6. DESLEMBRO, de Flavia Castro
7. A NOSSA ESPERA, de Guillaume Senez
8. SYNONYMES, de Nadav Lapid

9. 3 FACES, de Jafar Panahi
10. MEMÓRIAS DA DOR, de Emmanuel Finkiel
11. INFILTRADO NA KLAN, de Spike Lee
12. TODOS JÁ SABEM, de Asghar Farhadi


13. BACURAU, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles
14. FORA DE SÉRIE, de Olivia Wilde
15. UM AMOR IMPOSSÍVEL, de Catherine Corsini
16. O CLUBE DOS CANIBAIS, de Guto Parente

17. VINGADORES - ULTIMATO, de Anthony e Joe Russo
18. PARASITA, de Boon Joon-ho
19. O MAL NÃO ESPERA A NOITE - MIDSOMMAR, de Ari Aster
20. UM DIA DE CHUVA EM NOVA YORK, de Woody Allen

Menções honrosas 

21. UM HOMEM FIEL, de Louis Garrel
22. ASSUNTO DE FAMÍLIA, de Hirokazu Koreeda
23. VARDA POR AGNÈS, de Agnès Varda
24. A VIDA INVISÍVEL, de Karim Aïnouz
25. LEMBRO MAIS DOS CORVOS, de Gustavo Vinagre
26. GUERRA FRIA, de Pawel Pawlikowski
27. UM ELEFANTE SENTADO QUIETO, de Bo Hu
28. O CHALÉ É UMA ILHA BATIDA DE VENTO E CHUVA, de Letícia Simões
29. VERMELHO SOL, de Benjamín Naishtat
30. A FAVORITA, de Yorgos Lanthimos

Já virou até um clichê todo final de ano dizermos que não foi um ano fácil. Mas 2019 foi, no mínimo, bem diferente. As circunstâncias políticas no Brasil e no mundo fizeram toda a diferença e, inclusive, refletiu em alguns dos filmes mais representativos deste ano, que trataram de expor a questão da luta de classes. Os filmes que mais lidam com esse assunto, dentre os 20, são o brasileiro BACURAU, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, e o sul-coreano PARASITA, de Boon Joon-ho. Os dois passaram no Festival de Cannes e foram ambos premiados. Cada um a sua maneira trata de meter o dedo na ferida da má distribuição de renda. No caso de BACURAU, a má intenção dos poderosos é tema. 

O cinema cearense também tratou da luta de classes em um filme de horror, o ótimo O CLUBE DOS CANIBAIS, de Guto Parente, que apresenta ricos, literalmente, comendo os pobres e invisíveis. SYNONYMES, de Nadav Lapid, também trata com sensibilidade da questão do abismo social, o caso dos imigrantes em países desenvolvidos. 

Assim, ao longo do ano, fomos cada vez mais vendo que o cinema, assim como outras formas de arte, estava revestido de um gesto político. É por isso que um filme como INFILTRADO NA KLAN, de Spike Lee, que expõe, com muito bom humor mas com uma raiva represada também, a questão do racismo nos Estados Unidos, é tão urgente, tão importante, em pleno século XXI. É que certas coisas óbvias parece que deixaram de ser tão óbvias. Por isso é sempre bom lembrar também dos anos de chumbo da ditadura no Brasil, e DESLEMBRO, de Flavia Castro, faz isso de maneira encantadora. 

Temos também as questões do machismo e da violência sexual, presentes de maneira impactante em UM AMOR IMPOSSÍVEL, de Catherine Corsini, que conta a história de uma mulher que se deixa levar, pela paixão, pelo homem que acredita ser o amor de sua vida e que é pai de sua filha, mas que, no entanto, vai se tornando cada vez mais ausente. 

Falando em ausência, como não lembrar da tristeza imensa que MEMÓRIAS DA DOR, de Emmanuel Finkiel, é capaz de traduzir em imagens e sons? Temos aqui o caso de uma mulher que aguarda notícias do marido, preso durante a Segunda Guerra Mundial, durante a ocupação alemã na França. Provavelmente ele estaria em um campo de concentração, mas não saber se ele está vivo ou morto é mais angustiante do que saber de sua morte. Temos uma das melhores interpretações femininas do ano aqui, a de Mélanie Thierry. 

Falando em grandes interpretações dentro de grandes filmes, o que foram os novos trabalhos de Pedro Almodóvar e Martin Scorsese, hein? Esses dois realizadores trouxeram novas obras-primas para seus currículos, DOR E GLÓRIA e O IRLANDÊS, trabalhos que representam momentos particularmente maduros de suas carreiras. Como grandes autores que são, suas vidas são espelhadas em suas obras. No caso de Almodóvar, mais ainda, já que o personagem de Antonio Banderas vive seu alter-ego, cheio de problemas de doenças e questões afetivas pendentes. Já Scorsese realizou um projeto de longa data, reunindo uma trupe dos mais brilhantes atores da Nova Hollywood, todos na sua faixa de idade, para repensar o mundo da máfia sob nova luz e trazer à tona mais uma vez a culpa, um dos temas mais frequentes na obra do cineasta americano. 

Outro cineasta americano da Nova Hollywood que compareceu também nos cinemas, mas com um filme que estava, até então, embargado por causa de problemas legais envolvendo a Amazon, a produtora e distribuidora e uma acusação não comprovada de abuso sexual. UM DIA DE CHUVA EM NOVA YORK parece um filme como qualquer outro de Woody Allen, mas a distância de dois anos fez com que a saudade de ver suas obras no cinema fizesse uma falta tremenda. E ele aqui traz um filme novamente com dois jovens personagens vivendo situações desafiadoras diferentes em suas vidas. E aprendendo com isso. 

Quem também soube lidar com as questões da juventude foi a estreante Olivia Wilde, que com seu FORA DE SÉRIE, narrou os dramas e as angústias de duas meninas CDF de uma escola, que resolvem tirar um dia para tirar o atraso do tempo que deixaram de curtir em festas etc., como seus colegas "normais". É também um lindo filme sobre amizade e sororidade. Possivelmente o mais bonito. Além de ser também muito engraçado. 

Quanto ao amor romântico, o melhor exemplar exibido no ano não foi uma comédia romântica fácil de ver, mas um pesado drama noir sobre a busca de um homem por uma mulher. Temos em LONGA JORNADA NOITE ADENTRO, de Gan Bi, um tipo de cinema que se apoia no sonho para se elevar, tratando também do aspecto escorregadio da memória. O que é a cena do voo? Impressionante como o cinema continua sendo essa fábrica de sonhos que mexe com nossos corações. 

Quem também tratou de diminuir na violência e aumentar no amor neste ano foi Quentin Tarantino. E deu muito certo. ERA UMA VEZ EM...HOLLYWOOD não é apenas uma declaração de amor ao cinema, mas também à arte de modificar a realidade (como ele já havia feito uma vez em certo filme de guerra). Passada a polêmica besta envolvendo Bruce Lee, o que ficou foi a presença do nono filme de Tarantino em centenas de listas de melhores do ano. Nada mais justo. 

E falando em filmes lindos, o que dizer de A NOSSA ESPERA, de Guillaume Senez? O filme quase não dá tempo para o choro, deixando a emoção à flor da pele, ao contar a história de um homem que é abandonado pela esposa e trata de cuidar com muito amor dos filhos. Interpretação linda de Roman Duiris. Lá do Japão veio o maravilhoso O FIM DA VIAGEM, O COMEÇO DE TUDO, de Kiyoshi Kurosawa, que é um dos melhores exemplos de como ser capaz de nos colocar no lugar de uma personagem que se sente extremamente frágil, mas também impressionantemente corajosa. 

Dois cineastas iranianos comparecem no meu top 20: Jafar Panahi, que consegue tirar leite de pedra, mesmo estando proibido de filmar pelo governo de seu país. Em 3 FACES, ele adentra o Irã rural para contar uma história que cheira tanto à realidade que o filme parece um documentário. Já Asghard Farhadi optou por uma narrativa mais convencional, mas ainda coerente com sua obra, tratando novamente de questões familiares. A experiência de filmar TODOS JÁ SABEM na Espanha não agradou a tantos, mas eu achei o filme saborosíssimo. Uma espécie de thriller com fortes toques de melodrama e um elenco ibero-americano de dar gosto.

Falando em filme de gênero, um dos títulos mais aguardados do ano foi o novo trabalho de Ari Aster. E talvez por ser muito aguardado acabou despertando sentimentos mistos. Mas a verdade é que ver O MALNÃO ESPERA A NOITE - MIDSOMMAR passa aquela impressão de que estamos vendo algo muito especial. E essa sensação é muito boa. Além do mais, há tantas cenas de beleza plástica e outras tantas memoráveis que as chances de este filme se tornar um clássico são bem grandes. 

Para terminar, lembremos do melhor filme dos Estúdios Marvel, VINGADORES - ULTIMATO, dirigido pelos irmãos Joe e Anthony Russo, que fecharam com chave de ouro uma trajetória muito bem orquestrada. Quem foi/é fã dos quadrinhos da Marvel quando criança, adolescente ou adulto, viu aqui a materialização de um sonho, a realização de uma grande ópera espacial com dezenas de super-heróis, sem nunca perder o lado humano no processo. Isso é quase um milagre. E talvez este filme seja mesmo isso tudo, um milagre. 

É por causa de filmes como esses vinte citados (claro que poderia ter citado muitos mais) que o cinema ainda continua sendo uma forma de arte que vai além do mero entretenimento, que nos eleva espiritualmente e nos faz pessoas melhores. Pelo menos, quero acreditar que sim, por mais que ver muitos filmes seja uma tarefa que possa sacrificar um pouco a vida social. 

Top 5 - Piores filmes do ano

É a tal coisa: a cada ano eu tenho sido mais seletivo na escolha dos filmes, por mais que ainda continue indo bastante ao cinema. O caso de CATS é especial, já que entramos no cinema já esperando o pior, mas infelizmente isso acontece com filmes que a gente torce que dê certo. 

1. CATS, de Tom Hooper
2. STAR WARS - A ASCENSÃO SKYWALKER, de J.J. Abrams
3. X-MEN - FÊNIX NEGRA, de Simon Kinberg
4. KARDEC, de Wagner de Assis
5. HELLBOY, de Neil Marshall

Top 5 - Musas do Ano

Tenho um especial apreço por esta seção, que parece ser um tanto controversa nos dias de hoje. Mas a verdade é que a apreciação da beleza feminina fala mais forte e acredito que simplesmente deixar de lado esta seção seria uma espécie de autocensura. Assim, deixo aqui a lembrança e as imagens de cinco atrizes que são não apenas colírios para os olhos, mas calor para o coração, encantamento para o espírito... 

1. Margot Robbie (ERA UMA VEZ EM...HOLLYWOOD)

2. Juliette Binoche (QUEM VOCÊ PENSA QUE SOU, VISION e VIDAS DUPLAS)

3. Elle Fanning (ESPÍRITO JOVEM e UM DIA DE CHUVA EM NOVA YORK)

4. Josephine Langford  (AFTER)
5. Naomi Scott (ALADDIN e AS PANTERAS)

Clássicos revisitados ou vistos pela primeira vez na telona em ordem alfabética

A MULHER É O FUTURO DO HOMEM, de Hong Sang-soo
AS DIABÓLICAS, de Henri-Georges Clouzot
CONTO DE CINEMA, de Hong Sang-soo
CYRANO, de Jean-Paul Rappeneau
FILHA DE NINGUÉM, de Hong Sang-soo
JUVENTUDE TRANSVIADA, de Nicholas Ray
O ASSASSINO MORA NO 21, de Henri-Georges Clouzot
O FILME DE OKI, de Hong Sang-soo
O INFERNO DE HENRI-GEORGES CLOUZOT, de Serge Bromberg e Ruxandra Medrea
O MISTÉRIO DE PICASSO, de Henri-Georges Clouzot
O MISTÉRIO DE PICASSO, de Henri-Georges Clouzot
O SALÁRIO DO MEDO, de Henri-Georges Clouzot
PERSONA, de Ingmar Bergman
TARTUFO, de F. W. Murnau
Top 20 vistos pela primeira vez na telinha em ordem alfabética

A FORÇA DOS SENTIDOS, de Jean Garrett
A GAROTA DE LUGAR NENHUM, de Jean-Claude Brisseau
DEMOCRACIA EM VERTIGEM, de Petra Costa
FRONTEIRAS DO INFERNO, de Walter Hugo Khouri
FULANINHA, de David Neves
KARINA - OBJETO DE PRAZER, de Jean Garrett
LISA E O DIABO, de Mario Bava
O CÓDIGO PENAL, de Howard Hawks
O FOTÓGRAFO, de Jean Garrett
O PARQUE MACABRO, de Herk Harvey
O QUE VOCÊS FIZERAM COM SOLANGE?, de Massimo Dallamano
OITAVA SÉRIE, de Bo Burnham
OS MENINOS, de Narciso Ibáñez Serrador
PAIXÃO E ACASO, de Domingos Oliveira
RIO BABILÔNIA, de Neville d'Almeida
SÃO PAULO, SOCIEDADE ANÔNIMA, de Luiz Sérgio Person
TCHAU AMOR, de Jean Garrett
TRÊS IRMÃOS, de Teresa Villaverde
UM CAMINHO PARA DOIS, de Stanley Doney
UMA CANTA, A OUTRA NÃO, de Agnès Varda

Revisões na telinha

O MISTÉRIO DE CANDYMAN, de Bernard Rose
O REI DA COMÉDIA, de Martin Scorsese
REVANCHE REBELDE, de Robert Rodriguez
SEVEN - OS SETE CRIMES CAPITAIS, de David Fincher
TOKIO EM DECADÊNCIA, de Ryû Murakami

As séries e minisséries - Top 5

1. CHERNOBYL
2. MR. ROBOT - QUARTA TEMPORADA
3. EUPHORIA - PRIMEIRA TEMPORADA
4. MODERN LOVE - PRIMEIRA TEMPORADA
5. FLEABAG - PRIMEIRA TEMPORADA


Feliz 2020!

Assim, deixo meus votos de um excelente 2020 para todos nós, tanto na vida social, quanto na arte, nos filmes em especial. Que possamos prosseguir lutando pelo nosso direito ao acesso à arte. Que pessoas ignóbeis como alguns que estão no poder tenham seus interesses de destruição frustrados e nosso cinema brasileiro alcance um status ainda maior - é preciso que ele chegue com mais força ao público. Enfim, muita paz, amor, saúde, diversão e arte. Grande abraço e um muito obrigado aos leitores deste espaço.

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