PLANETA FÁBRICA
Pra quem viu o excelente CHAPELEIROS (1983), de Adrian Cooper, não faz muito tempo, o impacto deste PLANETA FÁBRICA talvez seja menor. Ainda assim, revisitar as imagens poderosas do filme original e ver as imagens mais recentes da fábrica de chapéus passa sentimentos confusos, conflitantes. Acho que mudei a impressão um pouco do filme original, do quanto eu achava a fábrica um ambiente de quase escravidão e sofrimento e agora vejo que pode ter sido um espaço de muito prazer para todos que lá trabalharam ou fizeram parte. Direção: Julia Zakia. Ano: 2019.
A FELICIDADE DELAS
Não gosto tanto da primeira parte, mas ela é parte importante para a segunda parte e o final incrível, com as duas meninas. Fiquei na dúvida sobre o final, mas imagino que seja representativo de uma espécie de morte que se confunde com um êxtase. O que é a mesma coisa, levando em consideração os arquétipos de sexo e morte. Há todo um trabalho muito bem pensado de decupagem nas cenas das duas mulheres em momento íntimo no meio de uma fuga da polícia, intensificando a excitação. Curiosamente, Julia Zakia, do curta que eu vi anteriormente, é diretora de fotografia deste aqui. Direção: Carol Rodrigues. Ano: 2019.
ANIMAL INDIRETO
O diretor tem a ideia de fazer um filme (um média-metragem) a partir de sua experiência com o transtorno de ansiedade, que em seu caso foi seguido de um período de depressão. Assim, ele resolve filmar, à sua maneira, suas viagens para Cuba e Haiti, a fim de encontrar uma cura ou algum sentido para a vida. Queria que o filme tivesse me tocado mais, já que tenho um histórico de transtorno de ansiedade também, mas não houve tanta identificação. Ou vai ver o acaso não foi tão generoso com ele, a ponto de trazer-lhe bons personagens e situações extraordinárias. De todo modo, é bom perceber que a intenção dele muitas vezes parece ser focar no presente, a fim de se desviar das angústias. Assim, há muita câmera parada filmando a natureza. Direção: Daniel Lentini. Ano: 2019.
MIRAGEM
Um filme que eu poderia ficar vendo por horas, mas que dura apenas cerca de 20 minutos. Aqui a diretora cria uma atmosfera de intimidade nas entrevistadas (sua mãe e a atriz Gilda Nomacce) para alcançar momentos e sentimentos que venham de memórias bem antigas, e memórias em que as pessoas estivessem sozinhas. Isso é importante no processo. É um tipo de cinema mais sensível, feminino, que não tem medo de atingir fundo nas emoções para provocar o choro. Gosto demais desse tipo de cinema. Destaque para uma imagem "do futuro" descrita por Gilda. Quase uma cena de horror de um filme do Bergman (me lembrou MORANGOS SILVESTRES). Direção: Flora Dias. Ano: 2019. FOTO.
OLHAR E SENSAÇÃO
Um filme que ajuda a explicitar a posição de Carlão entre os três cineastas que melhor representam a cidade de São Paulo, ao lado de Khouri e Person. Aqui temos uma alternância de imagens de natureza triste (animais enjaulados) e uma megalópole em ritmo bem acelerado. Há ainda espaço para recordações de infância e uma música composta pelo próprio diretor inspirada em Bach. Direção: Carlos Reichenbach. Ano: 1994.
ESTA RUA TÃO AUGUSTA
Paródia dos filmes institucionais, celebrando a Rua Augusta (e São Paulo, por tabela), mas não sem também celebrar a figura de um artista, no caso um pintor maldito que anda de saia e pinta cristos de saia entre outras brincadeiras com a religião cristã. Carlos Reichenbach, em seu primeiro filme, já mostrando o humanista que sempre seria. Ano: 1968.
SANGUE CORSÁRIO
Um dos mais bonitos curtas de Carlos Reichenbach, SANGUE CORSÁRIO lida com a palavra em seu estado mais belo: a poesia. Aqui não é um documentário, mas uma ficção experimental em que o poeta Orlando Parolini, também ator de três obras importantes do diretor, interpreta um poeta visionário, um homem à frente de seu tempo. É filme para ver mais vezes, até para absorver as palavras escolhidas por Carlão. Ano: 1979.
O M DA MINHA MÃO
Se no curta de 68, Carlos Reichenbach homenageou um pintor (e uma rua), aqui temos a homenagem a um outro artista, um músico cego que toca acordeom. Há mais recursos metalinguísticos e há mais respiro para se ouvir a música nesse filme de mais interiores que exteriores. M lembra também o filme de Lang, um dos ídolos de Carlão. Ano: 1979.
TEA FOR TWO
Muito bom ter a oportunidade de ver um belo curta de estreia dentro de uma sessão com um longa. No caso, LEMBRO MAIS DOS CORVOS, de Gustavo Vinagre. Este curta dirigido pela atriz e amiga de Vinagre é uma espécie de comédia romântica meio melodrama sobre corações partidos e novos encontros. Achei muito bom, especialmente pela presença forte de Gilda Nomacce. Que gigante que é essa mulher! Direção: Julia Katharine. Ano: 2018.
BAO
Curta interessante que abre OS INCRÍVEIS 2 e que trata da questão da maternidade e outras coisas até um tanto sombrias. Queria ter me envolvido mais, na verdade, mas acho que estava um pouco desligado, e a narrativa é muito rápida. Direção: Domee Shi. Ano: 2018.
LINKLATER: ON CINEMA AND TIME
Uma pequena homenagem ao cinema de Richard Linklater e a uma de suas maiores obsessões: o tempo. Quem é fã, difícil não se emocionar ou ficar com os olhos marejados, principalmente nas cenas envolvendo Jesse e Celine. Dá pra ver várias vezes com prazer. Direção: Kogonada. Ano: 2017.
ANT HEAD
É o caso de rever e entender melhor este curta de David Lynch. A primeira parte requer um bocado de concentração do espectador, mesmo não acontecendo muita coisa. A segunda já parece ter alguma relação com a teoria de Lynch sobre o mal que está cercando o nosso mundo contemporâneo. A investigação mais detalhada de um mal ainda maior e poderoso, como mostrado em TWIN PEAKS - O RETORNO (2017). Ano: 2018.
ALGUMA COISA ASSIM
Que filme bonito e com gosto de quero mais. Mas nem é tanto assim pelo drama do personagem masculino, ainda em busca de reafirmar sua sexualidade, mas de sua amiga, vivida pela Caroline Abras. Que graça essa menina. E talentosa pra caramba. Não à toa ela quem ganhou prêmio por esse curta em Gramado. Direção: Esmir Filho e Mariana Bastos. Ano: 2006.
SER O QUE SE É
Curta que trata da valorização do corpo da mulher, da aceitação. E também da atração entre duas mulheres. Curiosamente passou antes da exibição de TRAFFIK, e foi muito prejudicado pela sala ruim, escura. A cópia do filme também não parecia ajudar. Direção: Marcela Lordy. Ano: 2018.
THE CHORUS
Um filme que antecipa a angústia de ONDE FICA A CASA DO MEU AMIGO? (1987). Impressionante como Abbas Kiarostami trabalha de maneira tão sofisticada com os recursos mais simples de que dispõe. Pode ser um filme sobre a necessidade de ouvir e de ser ouvido. Ou tem alguma conotação política que ainda não peguei. Ano: 1982.
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