segunda-feira, fevereiro 10, 2020

OSCAR 2020

Foi sem dúvida uma das premiações mais importantes do Oscar em muito tempo. Não era exatamente uma novidade a presença de um candidato estrangeiro na lista dos melhores do ano. Já havia acontecido antes com A VIDA É BELA, de Roberto Benigni, AMOR, de Michael Haneke, e O TIGRE E O DRAGÃO, de Ang Lee, que não conseguiram o prêmio principal. Por isso foi uma surpresa e tanto ver o então favorito 1917, de Sam Mendes, sendo batido por PARASITA, o celebrado filme de Bong Joon Ho, que já havia ganhado a Palma de Ouro em Cannes e estava presente na maioria das listas de críticos de melhores do ano.

De fato, não parecia ter muito sentido premiar 1917. Por quê? Apenas pela proeza técnica? Algo que nem é nem uma novidade? Hitchcock já fizera essa experiência lá em 1948 com FESTIM DIABÓLICO, Aleksandr Sokurov fez isso em 2002 com ARCA RUSSA, e mais recentemente tivemos o filme norueguês UTOYA - 22 DE JULHO, de Erik Poppe.

Como o Oscar costuma seguir uma espécie de narrativa, não havia um motivo atual para que um filme que tivesse tão pouco a oferecer, como 1917, dentro da atual situação política mundial, ser o título laureado nos Estados Unidos (na Inglaterra, com o Bafta, até fez algum sentido). Houve, inclusive, uma matéria da Variety que falava justamente isso: o porquê de 1917 ser o último filme que deveria ganhar o Oscar. Ou seja, todos os demais candidatos pareciam mais relevantes, inclusive a premiação de cineastas consagrados como Martin Scorsese e Quentin Tarantino, que entregaram obras lindas.

A cerimônia de ontem corria um pouco tediosa, sem nenhuma surpresa - os quatro prêmios para os atores e atrizes eram certos e foram confirmados - e aos poucos fomos vendo que era verdade que O IRLANDÊS sairia dali sendo o único dos nove indicados a melhor filme sem nenhuma estatueta. Assim, a grandeza de Scorsese ao menos seria reconhecida pela homenagem que Bong Joon Ho faria ao receber o prêmio principal no final da festa, quando todos pareciam impressionados com o feito da produção sul-coreana.

Quanto à cerimônia, as apresentações musicais das canções indicadas foram um tanto monótonas. Se bem que o show de Janelle Monáe abrindo com "Won't you be my neighbor?", de UM LINDO DIA NA VIZINHANÇA, e depois fazendo referências a outros filmes, como NÓS, MIDSOMMAR e CORINGA, foi de dar gosto. No mais, foi no mínimo estranha a apresentação fora de roteiro de Eminem. Fiquei sem entender o motivo e, ao que parece, foi uma espécie de dívida da Academia, ou do própria artista, sendo paga. Mas ficou feio, principalmente porque o clipe musical com algumas canções marcantes exibido antes foi bem ruim.

Ajudou a tirar o gosto ruim a apresentação linda de Billie Eilish na seção In Memoriam, cantando "Yesterday", dos Beatles. A escolha da jovem cantora foi um acerto dos organizadores e ela conseguiu imprimir um tom de melancolia adequado àquele momento, de despedida respeitosa a artistas como Terry Jones, Agnès Varda, Danny Aiello, Stanley Doney, Anna Karina, Bibi Andersson, Doris Day, Rutger Hauer, Peter Fonda, Kirk Douglas, e tantos outros que se foram neste último ano.

Quanto aos discursos, o mais poderoso foi o de Joaquin Phoenix, cheio de amor e de gratidão para com aqueles que lhe deram segundas chances quando ele parecia não merecer. Algo que vai contra à atual cultura do cancelamento.

Para nós, brasileiros, a presença de DEMOCRACIA EM VERTIGEM entre os indicados a melhor documentário foi um presente, por mais que torcer por ele fosse um sonho e mais uma vontade de aumentar ainda mais a visibilidade do filme. De todo modo, a Netflix já fez um belo trabalho, tornando-o popular e disponível em várias partes do mundo, em muitos e muitos lares. Venceu o documentário produzido pelo casal Obama, INDÚSTRIA AMERICANA, que também tem sua relevância política.

A pergunta que fica no ar ao final da premiação e passado toda a surpresa é: a premiação de PARASITA representa uma abertura da Academia para o cinema internacional? O Oscar se tornará mais aberto e menos uma premiação quase exclusiva do cinema americano? Será o início de uma nova era para a academia? Ou haverá um recuo protecionista? É esperar para ver.

Os Premiados

Melhor Filme – PARASITA
Direção – Bong Joon Ho (PARASITA)
Ator – Joaquin Phoenix (CORINGA)
Atriz – Renée Zellweger (JUDY - MUITO ALÉM DO ARCO-ÍRIS)
Ator Coadjuvante – Brad Pitt (ERA UMA VEZ EM... HOLLYWOOD)
Atriz Coadjuvante –Laura Dern (HISTÓRIA DE UM CASAMENTO)
Roteiro Original – PARASITA
Roteiro Adaptado – JOJO RABBIT
Fotografia – 1917
Montagem – FORD VS. FERRARI
Trilha Sonora Original – CORINGA
Canção Original - "(I'm Gonna) Love Me Again", de ROCKETMAN
Mixagem de Som – 1917
Edição de Som – FORD VS. FERRARI
Efeitos Visuais – 1917
Design de produção – ERA UMA VEZ EM... HOLLYWOOD
Figurino – ADORÁVEIS MULHERES
Maquiagem e cabelos – O ESCÂNDALO
Filme Estrangeiro – PARASITA (Coreia do Sul)
Longa de Animação – TOY STORY 4
Curta de Animação – HAIR LOVE
Curta-metragem – THE NEIGHBOR'S WINDOW
Documentário – INDÚSTRIA AMERICANA
Curta Documentário – LEARNING TO SKATEBOARD IN A WARZONE (IF YOU'RE A GIRL)

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