terça-feira, dezembro 30, 2008

TOP 20 2008 E O BALANÇO DO ANO

1. A ESPIÃ, de Paul Verhoeven
2. O SOBREVIVENTE, de Werner Herzog
3. 4 MESES, 3 SEMANAS E 2 DIAS, de Cristian Mungiu
4. ANTES QUE O DIABO SAIBA QUE VOCÊ ESTÁ MORTO, de Sidney Lumet

5. ONDE OS FRACOS NÃO TÊM VEZ, de Joel e Ethan Coen
6. CANÇÕES DE AMOR, de Christophe Honoré
7. SANGUE NEGRO, de Paul Thomas Anderson
8. FALSA LOURA, de Carlos Reichenbach

9. SENHORES DO CRIME, de David Cronenberg
10. VICKY CRISTINA BARCELONA, de Woody Allen
11. DEPOIS DO CASAMENTO, de Susanne Bier
12. BODAS DE PAPEL, de André Sturm

13. UM BEIJO ROUBADO, de Wong Kar-wai
14. ENCARNAÇÃO DO DEMÔNIO, de José Mojica Marins
15. FIM DOS TEMPOS, de M. Night Shyamalan
16. JUNO, de Jason Reitman

17. CLEÓPATRA, de Júlio Bressane
18. O SONHO DE CASSANDRA, de Woody Allen
19. LADY CHATTERLEY, de Pascale Ferran
20. MORTE SÚBITA, de Greg McLean

Definitivamente 2008 foi um ano bem melhor que 2007. Mas também não precisava tanto assim para ser melhor, afinal 2007 está na minha lista negra de piores anos que eu já passei na minha vida particular. Disputa pau a pau com 1991. Felizmente, em 2008 resolvi enfrentar os demônios interiores, tive novas e excitantes experiências e voltei a me sentir bem comigo mesmo. Claro que tudo isso dentro do tom realista. Nem tudo foi um mar de rosas. Quebrei a cara algumas vezes e ainda continuo a minha batalha para melhorar os aspectos financeiro/profissional e sentimental de minha vida. Mas para isso a saúde é fundamental. E que bom que as coisas melhoraram nesse aspecto e espero que melhorem cada vez mais.

No cinema, 2008 também foi melhor do que o ano passado, ainda que os melhores representantes dessa lista sejam produções de 2007 e só lançadas aqui neste ano. Não dá pra reclamar de um ano que traz dois filmes do Woody Allen: O SONHO DE CASSANDRA e VICKY CRISTINA BARCELONA. Ainda por cima levando em consideração que ele está em uma de suas melhores fases, respirando novos ares em outros países, absorvendo até as características de certos cineastas europeus, que não sejam Bergman ou Fellini.

Em 2008, até mesmo a Academia conseguiu acertar em sua escolha e o Oscar de melhor filme foi para ONDE OS FRACOS NÃO TÊM VEZ, o que aponta para uma nova fase, mais ousada e com preferência por obras mais vanguardistas, como esse trabalho dos irmãos Coen. Na disputa, e ainda como representantes da excelência dos candidatos, correndo por fora, o já tradicional cinema independente americano deu o ar de sua graça com JUNO, um dos exemplares mais inteligentes dessa safra. Paul Thomas Anderson, outro cineasta que foge do lugar comum, cometeu o excepional e memorável SANGUE NEGRO, que conta com a performance intensa de Daniel Day-Lewis.

2008 também foi o ano do retorno triunfal de José Mojica Marins à sua melhor forma com o aguardado ENCARNAÇÃO DO DEMÔNIO. Que não foi o sucesso de bilheteria esperado, mas o importante é que o filme foi realizado e está aí para ser apreciado como um cada vez mais raro exemplar de longa-metragem de horror produzido no Brasil. Outros três filmes brasileiros - que também não foram tão bem recebidos nas bilheterias - fizeram a festa dos cinéfilos mais exigentes no circuito alternativo: FALSA LOURA, de Carlos Reichenbach; BODAS DE PAPEL, de André Sturm; e CLEÓPATRA, de Júlio Bressane. Filmes completamente diferentes um do outro, mas que são a cara de seus autores. Autênticos exemplares do cinema de autor e não modelos industrializados produzidos por uma Globo Filmes.

Chegando com atraso em Fortaleza em relação ao lançamento no eixo Rio-São Paulo, os grandes destaques foram a aventura O SOBREVIVENTE, de Werner Herzog, e o sensual LADY CHATTERLEY, de Pascale Ferran. Já DEPOIS DO CASAMENTO, até entrou em cartaz aqui em 2007, mas só tive a chance de ver o filme numa mostra retrospectiva de melhores do ano organizada pelo Cinema de Arte. Não sabia o que tinha perdido.

Aproveitando a deixa, e fazendo um link com o cinema produzido na Europa, nada como festejar o retorno glorioso de Paul Verhoeven, com seu drama de guerra A ESPIÃ, em breve retorno ao seu país natal, a Holanda. Da Romênia, chegou uma obra angustiante e tensa sobre o aborto que conquistou a Palma de Ouro em Cannes: 4 MESES, 3 SEMANAS E 2 DIAS. E da França, surgiu o musical mais gostoso do ano: CANÇÕES DE AMOR, de Christopher Honoré.

O cinema de horror, além do retorno de Mojica, ainda contou com o retorno à boa forma de M. Night Shyamalan, com o poético FIM DOS TEMPOS. A surpresa do gênero esteve por conta de um filme sobre um crocodilo gigante, que aqui no Brasil ganhou o título de MORTE SÚBITA.

Para encerrar, outros grandes nomes do cinema mundial mostraram que continuam cheios de vigor. Caso de Sidney Lumet e seu thriller ANTES QUE O DIABO SAIBA QUE VOCÊ ESTÁ MORTO. David Cronenberg continua sua nova fase, iniciada com MARCAS DA VIOLÊNCIA, e entrega um filme ainda mais visceral sobre a máfia russa: SENHORES DO CRIME. Quanto a Wong Kar-wai, sua primeira experiência no cinema em língua inglesa, UM BEIJO ROUBADO, dividiu opiniões, mas me agradou muitíssimo, seja pela beleza plástica, seja pelo andamento narrativo.

Dez que quase entraram

Ficaram de fora por falta de espaço, mas entram como menções honrosas:

SOMBRAS DE GOYA, de Milos Forman; BATMAN - O CAVALEIRO DAS TREVAS, de Christopher Nolan; PARANOID PARK, de Gus Van Sant; NA NATUREZA SELVAGEM, de Sean Penn; EFEITO DOMINÓ, de Roger Donaldson; JOGO DE CENA, de Eduardo Coutinho; LINHA DE PASSE, de Walter Salles e Daniela Thomas; A ÚLTIMA AMANTE, de Catherine Breillat; BUSCA IMPLACÁVEL, de Pierre Morel; WALDICK, SEMPRE NO MEU CORAÇÃO, de Patricia Pillar.

Os piores do ano

Apesar de este ano eu ter feito peneira fina na escolha das opções, preferindo muitas vezes ver um filme antigo em casa do que pegar fila em cinema de shopping, não pude me esquivar totalmente dos filmes ruins, com destaque para a grande decepção, que foi a volta de Indiana Jones. Assim, George Lucas aparece como produtor de dois dos piores do ano.

1. P.S. EU TE AMO
2. STAR WARS: THE CLONE WARS
3. 10.000 A.C.
4. INDIANA JONES E O REINO DA CAVEIRA DE CRISTAL
5. O CAÇADOR DE PIPAS

As séries

O ano começou com a greve dos roteiristas, que mexeu com quase todas as séries. Não houve, por exemplo, temporada de 24 HORAS esse ano, e a maior parte das séries comprometidas tiveram o número de episódios por temporada diminuído. Quanto à qualidade, mesmo com LOST bombando na excelente quarta temporada e seus flashforwards, o grande destaque do ano foi mesmo a série-revelação EM TERAPIA, criação de Rodrigo Garcia, que dirige a maioria dos episódios. PRISON BREAK encerra bem a conturbada terceira temporada e inicia uma quarta surpreendentemente ainda melhor. Continuam sendo destaque, apesar, da irregularidade: ENTOURAGE, THE OFFICE e DEXTER. Foi também o ano em que comecei a ver, com certo atraso, as ótimas HOUSE, BIG LOVE e FAMÍLIA SOPRANO.

Top 5 "Musas do Ano"

Neste ano temos o orgulho de ter três brasileiras entre as cinco musas do ano. E olha que o ano foi bem concorrido nessa categoria. Difícil deixar de fora Ellen Page (JUNO), Kate Hudson (UM AMOR DE TESOURO), Charlize Theron (HANCOCK), Helena Ranaldi (BODAS DE PAPEL), Roxane Mesquida (A ÚLTIMA AMANTE), Pilar López de Ayala (NA CIDADE DE SYLVIA), Cleo de Paris (ENCARNAÇÃO DO DEMÔNIO), Radha Mitchel (MORTE SÚBITA), Evan Rachel Wood (ACROSS THE UNIVERSE), Cláudia Abreu (OS DESAFINADOS), Scarlett Johansson (VICKY CRISTINA BARCELONA) e Kristen Stewart (CREPÚSCULO). As favoritas da casa:

1. Paola Oliveira (ENTRE LENÇÓIS)
2. Rosanne Mullholand (FALSA LOURA)
3. Carice van Houten (A ESPIÃ)
4. Ludivine Sagnier (CANÇÕES DE AMOR e UMA GAROTA DIVIDIDA EM DOIS)
5. Alessandra Negrini (CLEÓPATRA)

Melhores vistos em DVD, DIVX ou VHS

Uma lista que privilegia Cukor, Mojica e Truffaut, por razões óbvias. Os 30 melhores vistos pela primeira vez na telinha, em ordem alfabética:

A DAMA DAS CAMÉLIAS, de George Cukor
A HISTÓRIA DE ADÈLE H., de François Truffaut
A ILHA DOS PRAZERES PROIBIDOS, de Carlos Reichenbach
A MARQUESA D'O..., de Eric Rohmer
À MEIA-LUZ, de George Cukor
A MORTA-VIVA, de Jacques Tourneur
A NOIVA DE FRANKENSTEIN, de James Whale
A SEREIA DO MISSISSIPI, de François Truffaut
A SÉTIMA VÍTIMA, de Mark Robson
AS DUAS INGLESAS E O AMOR, de François Truffaut
APENAS UMA VEZ, de John Carney
BLOOD AND BLACK LACE, de Mario Bava
BOÊMIO ENCANTADOR, de George Cukor
CÃO BRANCO, de Samuel Fuller
DA MESMA CARNE, de George Cukor
DUAS ALMAS SE ENCONTRAM, de Howard Hawks
ELEIÇÃO 2: A TRÍADE, de Johnnie To
ESTA NOITE ENCARNAREI NO TEU CADÁVER, de José Mojica Marins
JOSEY WALES - O FORA-DA-LEI, de Clint Eastwood
LADRÕES DE BICICLETA, de Vittorio De Sicca
MINHA NOITE COM ELA, de Eric Rohmer
NA CIDADE DE SYLVIA, de José Luis Guerín
O ALBERGUE - PARTE II, de Eli Roth
O ESTRANHO MUNDO DE ZÉ DO CAIXÃO, de José Mojica Marins
O GÊNIO DO MAL, de Robert Mulligan
O NEVOEIRO, de Frank Darabond
O 4º HOMEM, de Paul Verhoeven
OS ANJOS EXTERMINADORES, de Jean-Claude Brisseau
SICKO - $O$ SAÚDE, de Michael Moore
SILIP - DAUGHTERS OF EVE, de Elwood Perez

Revisões

Achava que não tinha revisto muitos filmes, mas consegui ultrapassar a marca dos 7 filmes no ano passado, graças, principalmente à apreciação da obra de Mojica. Os 9 revistos:

E O VENTO LEVOU, de Victor Fleming
À MEIA-NOITE LEVAREI SUA ALMA, de José Mojica Marins
O DESPERTAR DA BESTA / RITUAL DE SÁDICOS, de José Mojica Marins
O VOYEUR / O HOMEM QUE OLHA, de Tinto Brass
O GAROTO, de Charles Chaplin
O PODEROSO CHEFÃO - PARTE II, de Francis Ford Coppola
VIDAS SECAS, de Nelson Pereira dos Santos
O ÚLTIMO METRÔ, de François Truffaut
A DELICIOSA MALDIÇÃO DA MULHER-GATO, de John Leslie

O blog entrará de recesso nos próximos dias e, por isso, deixo meus votos de feliz ano novo para todos os que visitam este espaço. Que 2009 seja um ano de transformações positivas, de amores correspondidos, de muito dinheiro, de satisfação profissional e espiritual para todos nós e de ótimos e grandes filmes. Até lá!

segunda-feira, dezembro 29, 2008

CÃO BRANCO (White Dog)



Tinha vontade de ver este filme desde os elogios rasgados do Carlão Reichenbach em sua antiga coluna no site Terra, na época que ainda se chamava Zaz. E como o filme era difícil de encontrar em VHS, só agora, com o lançamento em DVD nos Estados Unidos, e com o surgimento da cópia em dvdrip na internet, pude finalmente conferir essa maravilha dirigida pelo genial Samuel Fuller. Uma pena que o filme foi embargado quando de seu lançamento nos Estados Unidos por causa de protestantes idiotas que nem sequer haviam visto o filme. Foi mais ou menos o que aconteceu com A ÚLTIMA TENTAÇÃO DE CRISTO, de Martin Scorsese, que por pouco não foi barrado aqui. No caso de CÃO BRANCO (1982), os protestantes alegavam que o filme era racista, quando na verdade é exatamente o oposto.

O filme tem um jeitão de produção B, mas isso dá um charme a mais ao trabalho de Fuller, que conta com atores pouco conhecidos no elenco. Na trama, uma jovem aspirante a atriz atropela um pastor alemão branco na estrada. Temendo pela vida do animal, ela o leva imediatamente a um veterinário. Para evitar que o bicho seja enviado para o depósito - e com três dias, se o dono não aparecer, o animal é sacrificado -, ela resolve ficar com ele até que o dono apareça. Certa noite, o animal a salva do ataque de um estuprador, que invade sua casa. Depois de dias, o cão foge de casa e ataca um motorista negro na rua, voltando para casa dias depois, todo ensangüentado. Em pouco tempo, ela descobre a verdade sobre o cachorro e seus antecedentes e tenta reverter a situação.

Em tempos de BOLT – SUPERCÃO e MARLEY E EU, dois filmes que mostram cachorrinhos como animais simpáticos, resolvi nadar contra a maré e permanecer em casa ontem e ver essa preciosidade de Fuller. Não que Fuller pinte o cão como vilão. Na verdade, os grandes vilões são os antigos donos, que, com intenções malignas, programaram o animal para se tornar uma máquina de matar negros. Segundo o filme, esse método é bem antigo e já era usado desde antes da abolição dos escravos, como forma de pegar os escravos que fugiam. E o filme é mais uma denúncia do quanto o racismo ainda continua incrustado no coração dos Estados Unidos. Afinal, um país que criou uma organização como a Ku-Klux-Klan só pode sofrer de uma séria doença.

domingo, dezembro 28, 2008

HOUSE – SEGUNDA TEMPORADA (House M.D. – Season Two)



Nesta temporada de festas de final de ano, enquanto a maior parte dos colegas blogueiros está entrando de recesso de suas atividades, eu estou aproveitando até os sábados e domingos para postar, embora a preguiça esteja querendo me dominar. Acho que não quero é deixar filme de 2008 para resenhar quando retornar da viagem do reveillon e ainda vou tentar preparar a minha lista de melhores do ano para o dia 30, se tudo der certo. Enquanto isso, falemos de uma das séries mais legais já criadas: HOUSE, que em sua segunda temporada (2005/2006) parece ter atingido o seu ápice criativo. Poucas séries de mais de vinte episódios por temporada conseguem ser tão boas quanto essa série médico-investigativa.

O problema de se escrever sobre essas temporadas longas e vistas num intervalo de tempo prolongado – via a série sempre que encontrava espaço entre os filmes e as séries que vinha acompanhando à medida que eram exibidos os novos episódios nos Estados Unidos (PRISON BREAK, THE OFFICE, ENTOURAGE, DEXTER) – é que a memória trata de apagar ou de deixar num cantinho sombrio do nosso cérebro até episódios memoráveis e emocionantes. Assim, torna-se necessário passar os olhos num guia de episódios para refrescar a memória.

A primeira temporada havia terminado com a entrada em cena da ex-esposa de Gregory House, que é admitida como advogada do hospital. A presença constante da mulher que é provavelmente o amor da vida de House faz com que ele se desestabilize emocionalmente, mas também reacende o fogo da paixão no sofrido e sarcástico médico. Tanto que ele até fica melhor das dores na perna por causa disso. O problema é que a mulher está casada com um paciente apresentado no final da temporada anterior, que agora se encontra de cadeira de rodas e sofrendo com a rejeição da esposa. Como House não é bem um exemplo de ética nos relacionamentos, ele não costuma pensar muito no marido, que encara como um rival, em suas tentativas de reconquistar a esposa. A seqüência de episódios em que Stacy, a esposa, está presente, é das melhores da série. Destaque para o episódio "Failure to Comunicate", onde House e Stacy (a bela Sela Ward) estão num aeroporto. Mas não demora muito para que a série volte à sua normalidade e o Dr. House volte a ser solteiro e dedicado exclusivamente ao trabalho, embora se mostre um tanto quanto preguiçoso, só se interessando mesmo pelos casos mais complicados.

Entre os episódios com casos mais tocantes está "Autopsy", em que uma garotinha com câncer é encaminhada pelo Dr. Wilson a House por estar sofrendo de alucinações que nada têm a ver com a doença. O método empregado no final pelo médico é bem corajoso e perigoso para a garotinha, mas acaba por salvar a vida dela. A recompensa no final vale mais do que qualquer dinheiro. Trata-se de um dos episódios mais dramáticos e bonitos de toda a série. Difícil não chorar no final.

Por falar em dramático, um dos episódios especiais dessa segunda temporada envolve um dos médicos do grupo de House, que contrai uma doença contagiosa e perigosa de um policial. "Euphoria" é o primeiro episódio duplo da série e lida novamente com questões éticas e afetivas das mais interessantes. Quem também corre risco de vida nessa temporada é a bela Cameron, que ao tratar de um paciente com Aids é recebida com sangue do doente em seu rosto, quando ele, por acidente, tosse sangue na jovem. E falando em doenças estranhas, um dos episódios mais curiosos é "Daddy’s Boy", no qual um jovem, enquanto está se divertindo com os colegas, passa a sentir estranhos choques elétricos. Outro caso curioso está no já citado "Failure to Comunicate", onde um jornalista, depois de cair numa festa de família, acorda sem poder se comunicar. O que ele fala não é exatamente o que ele pensa que está falando. Outro episódio interessantíssimo é "Safe", onde uma jovem que tem sérios problemas imunológicos sofre um ataque alérgico quando seu namorado a visita. O final desse episódio reserva um misto de espanto e riso.

E riso é o que não falta nessa segunda temporada, mesmo sendo tão dramática. House apronta das suas com Wilson, que está separado da esposa e passa uma temporada dormindo na casa do colega. Agir como House e ter um amigo como Wilson é uma prova de que um sujeito pode ser mesmo um grande amigo. A amizade de Cameron e Foreman também é posta à prova. Bem como a amizade de Cameron e Chase, que em determinado episódio, surpreendentemente, experimentam os prazeres do sexo. E o episódio "House vs God" lembra um pouco o filme SANGUE NEGRO, quando um jovem pastor evangélico vai parar no hospital, depois de ter passado mal durante um culto. Mas mesmo no meio de tantos episódios ótimos e impressionantes, nada nos prepara para "No Reason", o season finale que pode mudar o rumo da série. E isso só pode ser comprovado ao ver a controversa terceira temporada, que pretendo conferir no próximo ano.

Agradecimentos ao amigo Zezão, que fez a gentileza de me emprestar a segunda temporada completa.

sábado, dezembro 27, 2008

FATALIDADE (A Double Life)



Nos finais de ano, a gente tem vontade de encerrar algumas coisas, "passar a régua". E aqui no blog eu costumo fazer as tradicionais peregrinações pela obra de cineastas. Infelizmente não deu para encerrar ainda a da obra de Mojica – restam dois filmes – e de Truffaut – resta um filme -, mas já consegui fechar a segunda peregrinação pela obra de Hawks. E se o ano de 2007 foi marcado pelos filmes de John Ford, a maior parte de 2008 foi marcada pela presença constante no blog da obra de George Cukor, que eu iniciei há aproximadamente um ano, mais exatamente na véspera de Natal de 2007, com ROMEU E JULIETA (1936), e pude encerrar no mês de agosto, com o seu filme-testamento, o belo RICAS E FAMOSAS (1981). Foi muito bom poder acompanhar a filmografia de Cukor. Ainda que não tenha gostado de todos os filmes vistos, gostei da grande maioria e fui respeitando cada vez mais a obra do homem.

Nesse intervalo de tempo, FATALIDADE (1947) ainda não havia sido lançado em DVD e nem eu havia conseguido o filme via divx. Pelo menos, não com as necessárias legendas. O DVD da Lume Filmes – que pode ser vista como a distribuidora-revelação do ano – é uma edição simples, mas traz o principal, que é o filme em cópia restaurada. Então, enquanto não são lançados outros filmes importantes mas ainda não vistos de Cukor, complemento a peregrinação com FATALIDADE, um dos filmes que o cineasta fez na década de 40, influenciado pela estética noir, quando Cukor pôde mostrar que era hábil também em filmes de suspense, como já havia comprovado em À MEIA-LUZ (1944).

Em FATALIDADE, Cukor, apesar de estar em território relativamente novo, o suspense, sente-se em casa ao trabalhar com o teatro, bastante presente em sua obra. Na trama, Ronald Colman é um ator de sucesso que tem um problema grave: ele absorve a personalidade dos personagens que interpreta. Por isso, ele costuma levar uma vida tranqüila quando faz comédias, mas quando trabalha em tragédias ou em papéis mais densos, sua vida particular sofre com isso. O seu casamento com sua parceira de palco (Signe Hasson) já foi prejudicado por causa dessa sua loucura. Agora, o ator é chamado para personificar ninguém menos que Othelo, o mouro trágico e ciumento da obra de Shakespeare. Assim, aos poucos, ele passa a absorver o ciúme, a obsessão, a paixão e a loucura do personagem, levando o ator a cometer atos que ele jamais imaginou que cometeria.

Cukor é tão bom que ele mesmo deveria ter dirigido uma versão de Othelo para o cinema, já que as cenas em que vemos a performance de palco da peça são de arrepiar. Em especial o momento em que Othelo tira a vida de Desdêmona. Sei que sou um pouco suspeito pra dizer isso, já que essa é uma das peças de Shakespeare que eu mais gosto, muito por causa do excepcional filme de Orson Welles, mas Cukor sabe tornar essas cenas no teatro especiais, fazendo com que eu me sentisse na platéia, comovido e em silêncio diante de obra tão magnífica.

FATALIDADE foi indicado a quatro Oscar: ator, direção, roteiro original e trilha sonora, tendo ganhado dois: ator, para Ronald Colman, e trilha sonora, para Miklós Rózsa. O filme também conta com a presença de Shelley Winters em seu primeiro papel importante nas telas.

sexta-feira, dezembro 26, 2008

O GÊNIO DO MAL (Baby the Rain Must Fall)



Pretendo manter uma tradição aqui neste espaço de homenagear diretores, atores ou atrizes que faleceram recentemente. Que eu me lembre, pude fazer isso quando da morte de Ingmar Bergman, de Paul Newman e de Sydney Pollack. E quero fazer o mesmo agora com Robert Mulligan, que faleceu no dia 20 de dezembro de parada cardíaca. Mulligan foi um dos cineastas mais importantes da geração anos 60/70, mas ao mesmo tempo mais subestimados. O diretor, hoje, é mais lembrado pelo seu trabalho em O SOL É PARA TODOS (1962), que rendeu o Oscar de melhor ator para Gregory Peck, mas ele fez outras obras memoráveis como o romântico e nostálgico HOUVE UMA VEZ UM VERÃO (1971), o western A NOITE DA EMBOSCADA (1968), o horror A INOCENTE FACE DO TERROR (1972) e o drama sobre o aborto O PREÇO DE UM PRAZER (1963), com Natalie Wood e Steve McQueen.

E foi novamente com McQueen que Mulligan trabalhou no filme seguinte: O GÊNIO DO MAL (1965), que aqui no Brasil infelizmente recebeu esse título horrível e totalmente sem propósito. Aparentemente criado por alguém que nem se deu ao trabalho de ver o filme, que traz momentos de pura poesia, além de seqüências de mistério que remetem a PSICOSE, de Alfred Hitchcock. O filme começa mostrando a viagem da personagem de Lee Remick, de uma cidadezinha a outra no interior do Texas, com sua filhinha pequena. O destino das duas é encontrar o pai da menina, que esteve preso por motivos não muito bem explicados e que obteve recentemente a sua liberdade condicional. Aliás, uma dos melhores coisas do filme é a opção por não explicar muito e deixar no ar um clima instigante. Steve McQueen está perfeito na pele do cantor de rock que sonha em ser famoso como Elvis Presley, mas que não consegue fugir das encrencas. É ele o pai da criança e que recebe com surpresa a chegada da esposa com sua filha. Apesar de a população da cidade não acreditar na recuperação do problemático rapaz e do mistério envolvendo uma velha senhora moribunda, a chegada da esposa traz um novo alento para ele, que passa a sonhar em dar o melhor para sua família. Ele tem pesadelos constantes com o tempo em que esteve na penitenciária e a pressão da sociedade para que ele se adapte à sua vontade faz com que ele se torne ainda mais rebelde e indignado com a difícil vida que leva.

Filme representativo de uma época de transformações na sociedade, O GÊNIO DO MAL é também um trabalho que encanta por misturar momentos de suspense com outros de romantismo, ambos os momentos valorizados pela belíssima fotografia em preto e branco, que dá ao filme um ar noturno, principalmente nas seqüências nos interiores. Nos exteriores, a fotografia acentua os vastos horizontes do Texas e a melancolia reinante, presente constantemente também nos olhares de Lee Remick e McQueen. Remick tem aquele olhar de esperança e aceitação, enquanto que McQueen alterna momentos de descrença com outros de euforia, raiva ou completa fúria. Eis um grande ator, também subestimado. Lamento não ter visto mais filmes de Mulligan. Acho que esse é apenas o terceiro filme do cineasta que vi, mas acredito que vou à procura de outras obras dele assim que puder.

P.S.: André Setaro fez uma bela homenagem a Mulligan em seu blog. Vale conferir, até porque Setaro iniciou-se como cinéfilo exatamente no mesmo ano que Mulligan iniciou sua carreira e tem muita experiência para compartilhar conosco.

quinta-feira, dezembro 25, 2008

SETE VIDAS (Seven Pounds)



Houve um tempo em que Hollywood não tinha que pisar em ovos quando transitava pelo difícil terreno do melodrama. Tempos em que era até chique soar melodramático, que o digam os belos trabalhos de Douglas Sirk. Hoje em dia, Hollywood precisar importar cineastas de outros países para fazer esse papel - se bem que Sirk também era de outra nacionalidade. E o italiano Gabriele Muccino caiu como uma luva para fazer a platéia chorar sem culpa. Ou com culpa, já que essa é uma das palavras-chave para o belo SETE VIDAS (2008), filme que quanto menos se souber, melhor será apreciado. Trata-se da segunda parceria de Muccino com o astro Will Smith. Os dois já haviam emocionado as platéias no mundo todo com o emocionante À PROCURA DA FELICIDADE (2006). Que Smith tinha dotes para fazer dramas, a gente já sabia desde, pelo menos, ALI, de Michael Mann, mas que bom que ele demonstrou ter um pouco mais de versatilidade nas suas expressões a ponto de fazer com que odiemos e amemos o seu personagem quase na mesma proporção.

O fato de o filme optar por uma narrativa não-linear - começando com uma seqüência que já mostra o personagem de Smith toamndo a decisão de tirar a própria vida – dá ao filme uma força e um charme todo próprio. O público já está acostumado a ver filmes com idas e vindas no tempo, como foi o caso do intenso 21 GRAMAS, de Iñárritu, portanto, não chega a ser incômodo em nenhum momento acompanhar aos poucos o descortinamento das intenções do protagonista, que tem como meta ajudar a vida de determinadas pessoas, a maioria delas, estranhos para ele. E é no modo como ele entra na vida dessas pessoas e vai modificando-as que ele modifica até a sua própria maneira de ver a vida. Para isso, é de especial importância a personagem de Rosario Dawson, como a mulher que sofre de uma cardiopatia grave e que tem poucos meses de vida, a não ser que um doador apareça dentro desse curto espaço de tempo.

Alguns pequenos detalhes tornam o filme ainda mais bonito, como a água-viva que ele guarda consigo e cuja característica o fascina desde a infância: "como algo pode ser ao mesmo tempo tão belo e tão mortal?", ele se questiona. E esse questionamento não é dito em vão e pode até ser comparado com o seu próprio personagem. A cena em que Woody Harrelson, no papel de um cego que é humilhado por telefone no início do filme é um desses momentos em que odiamos o personagem de Smith. Com o esclarecimento dos mistérios do protagonista e com o avanço do enredo, vamos nos afeiçoando a esse personagem que, com seu altruísmo, só nos lembra o quanto somos egoístas e o quanto é necessário, às vezes, algo extremamente traumático para nos darmos conta da importância de ajudar alguém. E não se trata de um filme de auto-ajuda, já que o próprio ato final do protagonista pode ser questionado e condenado por muitos. E como poucos diretores têm tratado do tema do sacrifício nos dias de hoje – talvez apenas Mel Gibson, em CORAÇÃO VALENTE e A PAIXÃO DE CRISTO–, chega a ser um alento ver esse tema tão "fora de moda" e fortemente usado no passado por cineastas tão distintos como John Ford e Robert Bresson novamente sendo posto em questão. Quanto às lágrimas, difícil contê-las.

quarta-feira, dezembro 24, 2008

A NOIVA ERA ELE (I Was a Male War Bride)



E chega ao fim a minha segunda peregrinação pela obra de Howard Hawks. Infelizmente, essa seleção de filmes que fiz esse ano não se constitui o melhor da obra do genial Hawks, mas tive ótimas surpresas como DELIRANTE (1932), O TUBARÃO (1932) e principalmente DUAS ALMAS SE ENCONTRAM (1935). As principais decepções ficaram por conta de SUPREMA CONQUISTA (1934) e este A NOIVA ERA ELE (1949), que pela participação do sempre ótimo Cary Grant eu imaginava se tratar de uma comédia bem engraçada, como normalmente são as comédias de Hawks estreladas por ele, em especial o imbatível LEVADA DA BRECA (1938). Mas não deixa de ser uma feliz coincidência o fato de eu ter visto A NOIVA ERA ELE imediatamente após a apreciação dos dramas de guerra SARGENTO YORK (1941) e FORÇA DE HERÓIS (1943). Juntos, os três filmes formam um apanhado do antes, do durante e do depois da Segunda Guerra Mundial do ponto de vista americano.

Se em SARGENTO YORK, Hawks abordava um momento em que os Estados Unidos ainda não haviam oficialmente aderido à guerra, tanto que a guerra em questão é a Primeira Grande Guerra, em FORÇA DE HERÓIS, o cineasta flagra um momento de pleno engajamento nacional e até de ódio contra as forças do Eixo, em especial contra os japoneses. Já em A NOIVA ERA ELE, vemos a Alemanha sitiada pelos americanos, que tomaram o poder dos nazistas e passaram a ser os governantes temporários da destruída nação que se partiu, literalmente, após o fim da guerra. Talvez se eu estivesse mais preparado para ver um filme mais dramático do que cômico, teria gostado mais de A NOIVA ERA ELE, mas como o filme tenta ser engraçado várias vezes, então é sinal de que alguma coisa saiu errado, embora algumas risadas aqui e a acolá sejam inevitáveis.

Nessa comédia torta de Hawks, Cary Grant e Ann Sheridan são dois oficiais do exército que participam de uma missão juntos e que depois de muitas brigas acabam se apaixonando. O drama dos dois começa de fato quando eles resolvem oficializar a união e encontram vários obstáculos pelo caminho, graças à burocracia do exército e às leis dos países. O problema é que não há uma química entre o casal, como há com Grant e Katharine Hepburn em LEVADA DA BRECA e Grant e Rosalind Russell em JEJUM DE AMOR (1940). Em nenhum momento, dá pra acreditar no amor dos dois e Ann Sheridan parece excessivamente agressiva em sua personagem, quase não se percebendo demonstrações de carinho para com o noivo. Grant até que se esforça e alguns dos melhores momentos do filme envolvem apenas ele, como na seqüência em que ele se tranca no quarto dela sem querer ou quando ele sai à procura de um lugar para dormir, já perto do final. Em certos momentos, o filme se parece com uma comédia de Truffaut, que tem o seu interesse, mas que não consegue ser exatamente engraçada. Talvez o clima sombrio do pós-guerra e da década de 40 como um todo tenham contribuído para que o filme fosse mais triste do que exatamente alegre. E chega a ser frustrante a tão esperada cena em que Cary Grant se veste de mulher no final.

Assim, depois também de ter revisto com outros olhos a obra-prima ONDE COMEÇA O INFERNO (1959), eis a reformulação do meu ranking Howard Hawks:

1. HATARI! (1962)
2. RIO VERMELHO (1948)
3. ONDE COMEÇA O INFERNO (1959)
4. O PARAÍSO INFERNAL (1939)
5. LEVADA DA BRECA (1938)
6. EL DORADO (1967)
7. JEJUM DE AMOR (1940)
8. UMA AVENTURA NA MARTINICA (1944)
9. DUAS ALMAS SE ENCONTRAM (1935)
10. SARGENTO YORK (1941)

terça-feira, dezembro 23, 2008

CREPÚSCULO (Twilight)



Uma bela surpresa e o maior lançamento da história da distribuidora Paris Filmes, CREPÚSCULO (2008) conta uma estória de amor entre um vampiro e uma humana. A criadora do romance que deu origem ao filme, Stephenie Meyer, de apenas 34 anos, já se tornou milionária e já está providenciando o quarto livro da série. Trata-se de uma abordagem mais feminina da mitologia dos vampiros. Por mais que Anne Rice tenha popularizado e trazido uma nova luz para o vampirismo na literatura, fracassou em sua incursão para o cinema, tendo gerado apenas um sucesso: ENTREVISTA COM O VAMPIRO – A RAINHA DOS CONDENADOS foi um grande fracasso. Mas nos anos 90, as franquias em torno de livros infantis ou direcionados aos adolescentes ainda não estavam na moda. Além do mais, os vampiros de Anne Rice eram adultos e sangrentos demais, não tendo tanto potencial para levar os mais jovens aos cinemas. Com "Crepúsculo", a autora atingiu um grande público, especialmente o feminino, e a adaptação para cinema, também capitaneada por uma mulher, a cineasta Catherine Hardwicke, de AOS TREZE (2003), segue igualmente essa linha, embora também deva agradar aos rapazes, já que há um cuidado dos envolvidos na produção para não carregar nas tintas românticas e não tornar o filme demasiado açucarado. O resultado é uma estória de amor com um misto de aventura e terror feita no ponto.

Entre as inovações dos vampiros de Meyer está o fato de eles não dormirem em caixões, não terem medo de crucifixos e de alho e andarem durante o dia, embora prefiram cidades que estejam sempre nubladas, como é o caso da cidadezinha no estado de Washington, onde é ambientada a trama. O início do filme já instiga, com a voz em off da protagonista Bella Swan, interpretada por Kristen Stewart, cada vez mais bela, agora nos seus dezoito aninhos. Na narração, ela fala sobre morrer por alguém que ama e já sabendo tratar-se de uma estória de vampiros, já se pode imaginar o que pode acontecer com ela. Essa narração adianta uma cena que acontecerá numa seqüência-chave do filme. Ela fala que, ao morrer, uma das coisas que mais sentirá falta será do calor de seu corpo.

A jovem Bella Swan está passando por uma fase de mudanças em sua vida, ao optar por mudar-se para a cidadezinha onde seu pai mora e distanciar-se da mãe e do padrasto. Como toda cidade pequena, as notícias se espalham rapidamente e logo a chegada de Bella à cidade e à escola desperta a atenção de todos. Ela se sente incomodada com tamanha receptividade e quem mais lhe chama a atenção na escola é um jovem pálido que faz parte de uma família de outros jovens pálidos e que se comportam de maneira estranha. Trata-se de Edward Cullen (Robert Pattinson) e seus irmãos, filhos adotivos do médico da cidade, que também conta com uma palidez que só não é mais estranha do que a completa naturalidade com que a população da cidade lida com sua presença.

Logo o envolvimento - a princípio, desengonçado - entre Bella e Edward se torna de fácil identificação para quem já foi adolescente um dia. A atração perigosa entre os dois jovens desperta um certo fascínio, pois há um ar de transgressão no fato de a jovem estar sendo atraída pelo lado sombrio. Tanto o esforço do rapaz para não perder o controle e beber o sangue da garota por quem se apaixonou quanto a completa entrega da jovem, com o amor vencendo o medo, tornam-se a mola propulsora do filme, embora não faltem momentos de suspense, especialmente perto do final, que deixa um pequeno gancho para a continuação, LUA NOVA, a ser dirigida por Chris Weitz, e prevista para o próximo ano. CREPÚSCULO encerra ao som de "15 step", do Radiohead, e o que se pode dizer é que o filme saiu melhor do que a encomenda. Espera-se que a continuação esteja à altura do original.

segunda-feira, dezembro 22, 2008

GOMORRA



Fica até difícil fazer um julgamento no mínimo razoável de um filme, levando em consideração a precariedade da cópia que está sendo exibida, graças aos "avanços" trazidos pela distribuição e projeção digital. Por mais que eu já tenha ido ao cinema preparado para ver um filme exibido numa costumeiramente escura projeção digital, não imaginava que o resultado seria tão ruim. Não sei se o problema é da cópia em si ou se os equipamentos não estão devidamente configurados para a exibição. O fato é que eu nunca vi um filme tão escuro, mal dando para ver o rosto dos personagens, o que dificulta a apreciação, ainda por cima de um filme que tem um enredo tão complexo. Se a trama política e aparentemente mal costurada de GOMORRA (2008) já não facilita as coisas para o espectador, imaginem quando se está incomodado com a fotografia. Outro agravante está no fato de que o filme foi concebido originalmente em scope, e como o sistema da Rain não utiliza a tela larga, o resultado é uma projeção com tarjas pretas por todos os lados. Tudo bem que pelo menos eles não picotaram o filme com isso, mas o modo como foi exibido é um incentivo para que as pessoas prefiram ver o filme em casa, baixado da internet.

GOMORRA segue a linha dos filmes-denúncia, como SYRIANA e BABEL, mas com uma abordagem mais próxima de um CIDADE DE DEUS, com o qual vem sendo comparado. O filme é corajoso ao denunciar o estado tenebroso em que se encontram as pessoas envolvidas direta ou indiretamente com a Camorra, a facção napolitana da máfia italiana. Corajoso principalmente pelo fato de que o escritor do livro no qual o filme é baseado vive sob escolta policial, podendo ser assassinado a qualquer momento pelos líderes do crime organizado. O diretor, Matteo Garrone, pouco conhecido no Brasil, filmou nas locações originais, ainda que sob o olhar da máfia, dando ao filme um ar de originalidade e de semelhança com o neo-realismo. E como são vários os personagens distribuídos em cinco tramas distintas, leva um pouco de tempo para nos acostumarmos com eles, dificultando qualquer elo de identificação ou simpatia. Pelo contrário, há dois personagens na trama que são bem fáceis de serem odiados por serem totalmente estúpidos. Refiro-me aos dois rapazes que roubam as armas da máfia e ficam deslumbrados com elas, achando que podem fazer tudo e imitando Tony Montana, de SCARFACE, em determinado momento do filme. Um deles, inclusive, tem a voz rouca como Don Corleone. Talvez o personagem mais gostável seja o costureiro que comete o erro de vender o seu conhecimento para os chineses.

Ao final do filme, e de eu ter olhado para o relógio umas seis vezes durante a projeção, aparecem os letreiros típicos de filmes de denúncia, que contam, inclusive, que a Camorra tem investido dinheiro na reconstrução das Torres Gêmeas, em Nova York. GOMORRA é o representante oficial italiano ao Oscar de filme estrangeiro, já tendo sido indicado para o Globo de Ouro. A crítica em geral e boa parte do público tem falado maravilhas do filme. Infelizmente, parece que fui um dos poucos a não embarcar. Quem sabe se eu tivesse visto o filme em outras circunstâncias teria concordado. Ou não. Há filmes que independente das condições em que são vistos ainda assim agradam.

P.S.: Vi só ontem, graças às possibilidades da internet, a entrevista de Fernando Meirelles para o programa Roda Viva. Achei a entrevista mais fluida que a do Lynch e Meirelles se mostrou bem humilde e simpático.

domingo, dezembro 21, 2008

A DELICIOSA MALDIÇÃO DA MULHER-GATO (Curse of the Catwoman)



Vamos esquentar um pouco esse espaço, trazendo lembranças de mais de quinze anos. Era início dos anos 90. Não foi só o advento do grunge e do som pesado que fizeram a minha cabeça nessa época. Foi também um período de descoberta no campo minado dos filmes pornográficos. Gênero eternamente fadado a ser marginal, na época, entre o fechamento crescente dos cinemas pornôs de rua que exibiam filmes em película – alguns deles, verdadeiras pérolas – e a popularização cada vez maior do videocassete, alguns cineastas americanos dessa indústria fizeram exemplares memoráveis e inteligentes. Isto é, dentro do que pode ser inteligente quando a quantidade de sangue bombeado para o cérebro diminui e segue por outras vias. Foi nesse período, e com a ajuda do fundamental e saudoso Guia do Vídeo Erótico, que aluguei a fita de A DELICIOSA MALDIÇÃO DA MULHER-GATO (1992), do fera John Leslie. Aliás, não cheguei a comentar por aqui, mas Leslie, ao contrário de John Stagliano, continua muito bom, ainda que praticamente tenha parado de fazer trabalhos ousados como esse e tenha se dedicado principalmente às suas duas franquias mais rentáveis: FRESH MEAT e THE VOYEUR. Aliás, falando nelas, tive a oportunidade de conferir as primeiras cenas de THE VOYEUR #35 (2008) e fiquei deslumbrado com a beleza e sensualidade de uma jovem chamada Tori Black. Que mulher linda, provocante e corajosa! Lembrando que Leslie, recentemente, chegou a flagrar o auge de uma estrela do mundo pornô dos anos 2000: Naomi, num trabalho totalmente dedicado a ela: NAOMI...THERE'S ONLY ONE (2006). Nos últimos anos, Naomi emagreceu bastante na batalha contra um câncer, mas parece estar se recuperando.

Mas voltando ao passado glorioso do fim dos anos 80 e início dos 90, falemos de A DELICIOSA MALDIÇÃO DA MULHER-GATO, que assim como OS EXERCÍCIOS DE BUTTMAN, de Stagliano, contava com a presença ilegal de Alexandria Quinn, que na época era menor de idade. Por isso suas cenas foram excluídas da versão do filme em DVD. O mesmo aconteceu com a versão em DVD do clássico de Stagliano, que ficou sem uma das melhores cenas. Por esse motivo, ambos os filmes, em suas versões em VHS, se tornaram raridades de colecionadores. Eu logo estranhei a curta duração do vídeo de Leslie: apenas 70 minutos. Parece que houve um corte de 15 minutos, devido à ausência das cenas com Alexandria. Mas são tantas estrelas deslumbrantes nesse filme que eu nem me dei conta da ausência dela. Na verdade, guardava poucas lembranças do filme, que se destaca dos pornôs convencionais ao tentar utilizar-se de uma trama similar a de SANGUE DE PANTERA, de Jacques Tourneur, e seus derivados: uma trama envolvendo uma maldição de mulheres-gato ou algo do tipo. Na verdade, a trama não faz o menor sentido, é sem pé nem cabeça, mas é divertido ouvir os diálogos e dá ao filme um ar de mistério e sedução. Ah, e quem curtiu a performance efervescente de Talia James em OS EXERCÍCIOS DE BUTTMAN, não vai deixar de notar a sua presença não-creditada numa ponta, como uma das figurantes do inferninho onde acontece algumas das cenas mais marcantes do filme. Eu jamais deixaria de reconhecer aquele belo rosto e aquele jeito sensual de se mover.

A primeira cena do filme mostra Patrícia Kennedy fazendo sexo enquanto as pessoas dançam. E isso é só o começo. Depois vem a cena do beco, em que entram em cena Rocco Siffredi e Raven, que faz o papel da arrogante líder do grupo de "gatos". Só depois é que surge a protagonista do filme: a baixinha invocada e voluptuosa Selena Steele, em seu melhor momento. A cena de masturbação de Selena, editada com a aparição de uma pantera andando num beco escuro, faz da picaretagem irresistível de Leslie algo diferente. Deve-se destacar a trilha sonora, que em alguns momentos utiliza batuques que remetem aos cultos haitianos ou africanos. Em seguida, quando a personagem de Selena vai dormir, é visitada por Rocco e Patrícia Kennedy, que começam a fazer sexo em sua cama, numa das cenas de maior voltagem do filme, oferecendo ao espectador um belo ménage. E pra quem achava pouco: o filme ainda conta com a participação mais do que especial de Zara Whites, talvez a mais bela das atrizes pornô da época. Ela aparece numa cena no mesmo inferninho, em que tira a roupa enquanto vários caras se masturbam num círculo, no chamado "circle jerk". Outra deliciosa e marcante performer da época, que se destacava pelo rosto angelical, também dá o ar de sua graça: Racquel Darrian. Mas o filme é de Selena mesmo, por mais que Raven queira roubá-lo dela. Dentro da trama, há um embate entre as duas, que rende seqüências provocantes. No meio de tanta mulher linda, os homens acabam funcionando apenas como brinquedos. Alguns dos performers mais presentes da indústria estão nesse filme. Além de Rocco, há a presença de Tom Byron, Randy Spears, Jamie Gillies e Marc Wallace.

Ultimamente venho comparando os filmes pornôs a um disco, cujas cenas podem ser vistas independentes do todo, sem prejuízo de compreensão. Um álbum às vezes tem algumas faixas ótimas e outras razoáveis ou mesmo ruins. O mesmo acontece com o filme pornográfico. E hoje li na internet uma comparação interessante: os filmes pornôs seriam comparados a uma ópera, onde no meio da ação os personagens param de conversar ou de fazer outra coisa para cantar. Ou simplesmente não conversam, apenas cantam. Nesse caso, o gênero também pode encontrar paralelos com os musicais. E assim como os álbuns ou os musicais, esses filmes são representativos de sua época. No caso de A DELICIOSA MALDIÇÃO DA MULHER-GATO, as roupas e os cortes de cabelo não negam que o ano de 1992 ainda estava com um pé nos anos 80.

P.S.: Não deixem de conferir o divertido especial de melhores de 2008 que André ZP está promovendo em seu blog Churrasco na Laje. Fui um dos convidados a participar da votação e o resultado está sendo aos poucos publicado em seu espaço.

quinta-feira, dezembro 18, 2008

DEXTER - A TERCEIRA TEMPORADA COMPLETA (Dexter - The Complete Third Season)



Em sua terceira temporada (2008), DEXTER continua a curva descendente iniciada com a segunda. Mesmo assim, trata-se de uma série sempre interessante e de entretenimento dos bons. O final da segunda temporada deixou muita gente insatisfeita, pois os roteiristas arranjaram uma forma de tirar um problemão do psicopata "gente boa" ao fazer com que outra pessoa matasse o Sargento Doakes, que havia descoberto sua "identidade secreta". Amarelaram, ao não quererem mostrar um lado ainda mais sombrio do protagonista. Com a morte de Doakes, o posto passa às mãos de Angel, que nessa temporada se torna mais presente. Mas nada como Deb, a irmã de Dexter, que com sua boca cada vez mais suja, é uma das melhores coisas da série.

A trama dessa terceira temporada se inicia a partir do momento em que Dexter adentra a casa de uma pessoa às escondidas e dá de cara com um sujeito, que o ataca. Para não morrer, Dexter o mata, o que vai contra o seu código de ética: jamais matar inocentes. Inocente pelo menos no sentido de não se tratar de um assassino comprovado. Acontece que o cara que ele matou é irmão de um promotor de justiça: Miguel Prado. E Miguel se torna o grande destaque dessa terceira temporada, ao se tornar, inicialmente, cúmplice de Dexter e depois compartilhar com ele de um assassinato premeditado. Enquanto isso, a vida sentimental de Dexter sofre um abalo depois que Rita descobre que está grávida. A solução para os dois acaba sendo inevitável: o casamento. Outra trama importante e paralela mexe com os policiais do distrito: a ameaça de um psicopata cujo modus operandi é deixar o corpo das vítimas faltando pedaços da pele.

Como se pode ver, muita coisa acontece nessa temporada e isso se torna ao mesmo tempo um aspecto positivo e negativo para a série. É positivo no sentido de que DEXTER nunca se torna uma série cansativa para o espectador, mas negativa ao perder a profundidade psicológica apresentada na primeira temporada em prol da estória. Ainda que seja uma série de televisão fechada (Showtime), alguns episódios terminam com ganchos típicos de série de televisão aberta. Não que eu considere isso ruim, mas esses ganchos não funcionam da mesma forma que, por exemplo, PRISON BREAK. Isto é, não me deixam ansioso para ver o episódio seguinte imediatamente. Assim, DEXTER, durante as suas doze semanas, sempre ficava para ser visto por mim depois do episódio de PRISON BREAK, que sempre me pareceu uma série mais atraente. Outro problema da série é que os produtores resolveram amenizar as cenas de violência e nudez, tornando-a mais "família". Dexter Morgan, aliás, se torna um verdadeiro pai de família dedicado, a ponto de deixar de lado a sua frieza para agir com agressividade e brutalidade ao confrontar um pedófilo em determinado episódio.

Apesar de um dos inimigos de Dexter ser eliminado no penúltimo episódio, a season finale ainda reserva muitas surpresas e ação. Dexter se transforma num herói de ação na luta contra o Skinner. Na terceira temporada, a latinidade de Miami é ainda mais explicitada pela presença da família de Miguel Prado e pela maior ênfase dada aos personagens de Angel e Maria, dois dos policiais mais importantes da série. Dá até impressão de que existem mais latinos que americanos na cidade. Momento mais memorável da série: Dexter no cemitério, em busca de um cadáver. Momentos mais chatos: a aparição de seu pai, como uma espécie de consciência, elemento descaradamente copiado de A SETE PALMOS.

DEXTER está concorrendo ao Globo de Ouro nas categorias de melhor série dramática (já adianto que estou torcendo por IN TREATMENT) e melhor ator em série dramática (Michael C. Hall). O ator também está concorrendo ao SAG Awards, prêmio destinado aos atores e atrizes de filmes para cinema e produções televisivas.

quarta-feira, dezembro 17, 2008

TERRA VERMELHA (Birdwatchers - La Terra degli Uomini Rossi)



Já não é mais privilégio do cinema produzido nos Estados Unidos e na Europa dispor de cineastas estrangeiros interessados em filmar em seu país. O Brasil parece estar entrando no rol. Claro que desde muito tempo temos Hector Babenco, mas Babenco é mais brasileiro que argentino e costuma representar o Brasil lá fora. Depois de um diretor colombiano (Gustavo Nieto Roa) ter dirigido uma produção brasileira (ENTRE LENÇÓIS), chega a vez do mezzo argentino/mezzo italiano cineasta Marco Bechis se aventurar numa co-produção Brasil-Itália intitulada TERRA VERMELHA (2008). Com a repercussão do novo filme, um dos mais (relativamente) conhecidos trabalhos de Bechis chega às telas simultaneamente, com quase dez anos de atraso da data de sua produção. Trata-se de GARAGE OLIMPO (1999), que só ficou em cartaz durante uma semana aqui na cidade, não dando tempo pra que eu pudesse conferí-lo.

De todo modo, mal comparando, TERRA VERMELHA seria o nosso CREPÚSCULO DE UMA RAÇA, filme que John Ford dirigiu e que tratava de uma raça em extinção, em sua tentativa desesperada de recuperar o irrecuperável, de se negar a aceitar ficar preso num gueto, na dependência dos homens brancos que os aprisionaram e massacraram. Em TERRA VERMELHA, um grupo de índios da tribo Guarani-Kaiowá, depois de verem duas índias tendo cometido suicídio dentro da reserva, resolvem abandonar o lugar e ir em busca da terra de seus ancestrais, agora de propriedade de um rico latifundiário da região do Mato Grosso (Leonardo Medeiros).

Depois de venderem o cavalo e alguns objetos e se abastecerem de comida suficiente para umas poucas semanas numa mercearia local, cujo dono é interpretado por Matheus Nachtergaele, os índios começam a fazer acampamento em frente à propriedade do dono das terras, que logo envia homens para intimidar os nativos. Um dos jovens índios, ao ter sonhado e sentido a presença do espírito de uma das moças que cometeu suicídio, é tido pelo pajé da tribo com potencial para desenvolver poderes espirituais. Apesar de se esforçar um pouco, o jovem é logo tentado pela filha do latifundiário a desenvolver outras habilidades, mais carnais.

O filme tem uma boa narrativa e um desenvolvimento interessante, mas parece que os roteiristas não estavam suficientemente inspirados para elaborar um final impactante ou ao menos satisfatório. Restam alguns bons momentos que ficam na memória e a vantagem de o filme fazer diferença, tratando de um assunto quente e pouco abordado em nosso cinema. Mas, no geral, o filme é mais curioso do que realmente bom.

terça-feira, dezembro 16, 2008

EU, MEU IRMÃO E NOSSA NAMORADA (Dan in Real Life)



Hoje, numa lista de discussão, recebi email do amigo Marcelo Reis, sobre um artigo que diz que, de acordo com estudos, as comédias românticas prejudicam a vida afetiva. Achei interessante o artigo, mas sei lá, acho que a gente às vezes precisa de esperança. Em todos os campos da vida, não apenas no afetivo. E por isso você se anima quando está se preparando para um concurso ou quando acredita que aquela menina está "dando mole" pra você. E você eventualmente quebra a cara. Sei que falando assim fica parecendo uma coisa meio "How Soon Is Now?", dos Smiths, mas é mais ou menos isso que acontece. Porém, no período em que aquela esperança está no seu sangue, um novo motivo de viver reacende o brilho dos seus olhos. Pena que nem sempre o sucesso acontece. Geralmente é o caso de levantar do chão e prosseguir. Fazendo esse discurso, dá a impressão de que estou falando de alguma situação pessoal do momento. Mas sei que é pessoal pra mim e pra mais um monte de gente.

Ainda que as comédias românticas sejam mesmo prejudiciais à vida afetiva, por trazerem um idealismo que nunca vai ocorrer, não dá pra viver o tempo todo lendo direto Machado de Assis, vendo filme do Robert Bresson ou lendo Schopenhauer. Tem horas que a gente prefere um doce, não um café amargo. Não que eu goste ou tome café. O fato é que eu ia até falar de outro filme hoje, mas esse artigo me conectou a esta comédia romântica que vi recentemente: EU, MEU IRMÃO E NOSSA NAMORADA (2007), de Peter Hedges, diretor de DO JEITO QUE ELA É (2003) e roteirista do ótimo UM GRANDE GAROTO (2002). Que pra mim é um exemplo de comédia romântica quase perfeita. A presença de Hugh Grant ajuda bastante.

Não que Steve Carell não tenha boa presença de cena. Na própria série THE OFFICE, vivendo o chefe sem-noção de uma empresa de papel, ele já havia demonstrado que, quando queria, sabia emocionar dentro do registro dramático. Em PEQUENA MISS SUNSHINE, então, ele está praticamente irreconhecível, como um homossexual que tentou o suicídio. Há de comum entre esses papéis aquele jeitão loser de Carell. Em EU, MEU IRMÃO E NOSSA NAMORADA (odeio esse título), ele é um viúvo, pai super-protetor de três garotas: duas adolescentes e uma ainda criança.

Porém, o filme não é apenas Carell. Há a curiosa e sempre bem-vinda presença da encantadora Juliette Binoche. De quem eu gosto muito desde os anos 80. Mas não sei se ela combina com o gênero "comédia romântica". Ela funciona mais como o interesse amoroso do protagonista, o que lhe traz esperança. Pena que no mesmo dia em que ele a conhece, o personagem de Carell descobre que ela é namorada do seu irmão (Dane Cook). Completando o bom elenco, há coadjuvantes de luxo como Diane Wiest (viram que ela está concorrendo ao Globo de Ouro por IN TREATMENT?), Amy Ryan (bem apagada no filme) e a sexy inglesinha Emily Blunt.

Se eu gostei do filme? Diria que sim, afinal, quando um filme te deixa olhando os créditos subindo na tela durante alguns minutos antes de você desligar o aparelho de dvd ou sair do cinema é sinal de que ele mexeu com você de alguma maneira. Mas não se trata do filme que vai ficar com você depois da sessão ou causar arroubos de emoção ou mistura forte de lágrimas e risos. O filme segue uma fórmula do gênero que já dura desde Lubitsch, Cukor, McCarey. Mas é agradável e passa rapidinho. E as canções são legais. Até baixei a trilha sonora, de um tal de Sondre Lerche. Alguém conhece?

P.S.: Aproveito para fazer dois avisos. O primeiro é que a Zingu! de dezembro já está no ar, com destaque para o dossiê Reynaldo Paes de Barros, Aguilar escrevendo sobre UMA CRIANÇA POR TESTEMUNHA, Carrard sobre TENEBRE e eu participo com um texto sobre a Ludivine Sagnier, na seção "Musas Eternas", que esse mês ganhou ares de especial. O segundo aviso é que foi publicado o resultado final do ranking anos 40 da Liga dos Blogues Cinematográficos. Confiram!

segunda-feira, dezembro 15, 2008

EU SOU JUANI (Yo Soy la Juani)



Bigas Luna, assim como a maioria dos cineastas espanhóis, andou sumido do circuito comercial brasileiro. Parece que só Almodóvar teve vez nos últimos anos. Felizmente alguns poucos sucessos do cinema de gênero, como os trabalhos de Guillermo Del Toro e Jaume Balagueró, encontraram espaço nessa estreita janela. Acho que o último filme de Luna a passar nos cinemas brasileiros foi o belo A CAMAREIRA DO TITANIC (1997), que já apontava novos rumos na carreira do cineasta. No entanto, Luna acabou um pouco esquecido nos anos 2000 e depois de vários filmes seus sem lançamento no país, chega ao Brasil, com dois anos de atraso, e depois de exibição no Telecine, este EU SOU JUANI (2006).

Quando Bigas Luna surgiu, sua marca principal era a abordagem da sexualidade masculina, sempre em forte ebulição como é natural quando se trata de sangue espanhol. Ele ganhou fama com duas comédias protagonizadas por Javier Bardem: JAMÓN, JAMÓN (1992) e OVOS DE OURO (1993). Na verdade, o melhor de Luna já havia sido produzido alguns anos antes: o horror OS OLHOS DA CIDADE SÃO MEUS (1987) e o drama erótico AS IDADES DE LULU (1990).

O sexo continua presente nesse novo filme, mas de modo menos enfático, mais comportado. Dessa vez vemos a tentativa do cineasta de se renovar, ao utilizar uma linguagem jovem, simpatizante da cultura hip-hop, num filme que parece inspirado na franquia VELOZES E FURIOSOS. Pelo menos durante sua primeira metade, que mostra rapazes parrudos com seus carrões turbinados e garotas vestidas em trajes minúsculos para a alegria da rapaziada e a tristeza dos pais dessas moças. Juani (Verónica Echegui, uma espécie de versão mais nova da Penélope Cruz) é uma dessas meninas. Não gosta nem um pouco do trabalho, mas adora sair para encontrar o namorado, com quem demonstra todo o seu tesão em seus encontros. E embora Luna tenha economizado no sexo nesse novo trabalho, percebe-se que ele ainda não perdeu o jeito com a coisa na cena em que Juani lambe o gogó do namorado com sensualidade.

A segunda parte do filme se concentra na busca de Juani e sua amiga Vane de um novo rumo para suas vidas. Juani sonha em se tornar atriz; Vane quer botar silicone nos seios. Para um diretor que se notabilizou por fazer um elogio (ou seria uma tiração de sarro?) da macheza, até que Bigas Luna se sai bem em mostrar o seu lado mais sensível, embora convenhamos que EU SOU JUANI não é dos melhores trabalhos do cineasta catalão, ainda que tenha os seus momentos e algumas sacadas inteligentes, como a utilização de letreiros grandes na tela para mostrar as mensagens enviadas via celular. O filme também se destaca pelo forte colorido, que em alguns momentos, pode ser comparado ao SPEED RACER, dos irmãos Wachowski.

domingo, dezembro 14, 2008

ESTUPRO / PERVERSÃO



"- Seu Mojica, muito legal essa discoteca que o senhor montou. Antes, a gente tinha que policiar a Moóca inteira, agora é só aqui, porque os maus elementos estão todos reunidos!"
(A polícia, dando seu aval à discoteca que Mojica e seu filho, Crounel, construíram no final dos anos 70. Retirado do livro "Maldito", de André Barcinski e Ivan Finotti.)

Se no início dos anos 70, José Mojica Marins já estava em declínio artístico, imagina como a coisa estava no final. Mesmo assim, apesar de ser um trabalho grotesco, ESTUPRO (1979), cujo título foi mudado para PERVERSÃO quando do lançamento nos cinemas por "sugestão" da censura, ainda é um dos trabalhos mais fluidos e divertidos do diretor e que pode ser gostado pelas mesmas razões que muita gente o odeia. O filme pode facilmente entrar na categoria de horror, embora mostre mais a maneira como Mojica via a alta sociedade da época. Há vários momentos divertidos, com a picaretagem e o senso de humor a favor da produção. O diretor, além de usar na trilha sonora Pink Floyd e Paul McCartney, ainda utiliza o tema de A PONTE DO RIO KWAI, além do hit francês, campeão de apresentações de striptease em inferninhos, "Je t'aime moi non plus". Mas o mais divertido, envolvendo música, acontece quando, numa cena de briga na piscina, numa ponta de Satã, Mojica usa o tema de James Bond. E como Mojica é da bagaceira, toma uísque em copo de requeijão e trata de sacanear o sacrifício que é a ida ao teatro dos burgueses, embora no fundo a gente saiba que o que ele gostaria mesmo era de fazer parte dessa alta sociedade que ele finge esnobar e ficar rico com seus filmes, o que infelizmente não foi possível, já que o desempenho nas bilheterias de seu trabalho anterior, MUNDO – MERCADO DO SEXO (MANCHETE DE JORNAL) (1979) -, não havia sido lá grande coisa.

Em ESTUPRO, ele interpreta o protagonista/vilão do filme, um comendador muito rico que, em tempos de crise, chama a atenção da sociedade e das mulheres interesseiras da época. O filme começa e termina com uma cena grotesca. A cena final, inclusive, consta nos extras do DVD de DELÍRIOS DE UM ANORMAL (1978) e realmente impressiona. Na primeira cena, o comendador Vitório Palestrina leva uma jovem virgem para sua casa, para, depois do sexo, além de humilhar a moça, cometer a maldade de arrancar com os próprios dentes um dos mamilos da jovem. Que fica traumatizada e entra com um processo na justiça, mas, devido aos contatos do comendador e a corrupção do sistema judiciário, perde feio. E depois de perder, ainda tem que aturar a turma do bairro, que ao ficar sabendo do escândalo/tragédia da moça, fica feito crianças cantando em zombaria por ela só ter um mamilo. Completando o tom "pouco sutil", o comendador, depois de ganhar a causa, convida a todos para uma festa em sua casa, quando resolve mostrar o seu "troféu": o mamilo da jovem, guardado como jóia numa redoma de vidro.

Mas como diz o ditado – bem como uma das personagens do filme -: "um dia é da caça; o outro é do caçador". E como geralmente nos filmes do Mojica os vilões acabam se estrepando no final, a vingança viria na pele de uma bela mulher que o encanta completamente, não se fazendo de fácil como as outras, de modo que ele chega ao ponto de pedí-la em casamento. Ela é a estudante de medicina Verônica, interpretada pela loiraça Arlete Moreira, que tem em mente um plano de vingança para o asqueroso comendador. A essa altura, muita gente já sabe como termina a estória, digna dos melhores filmes de vingança de mulheres, mas não sou eu quem vai entregá-lo aqui. A cena final também tem o mérito de contrapor o grotesco da presença de Mojica, com seu barrigão e suas unhas enormes, com a beleza do corpo de Arlete, flagrado de maneira praticamente pornográfica. E isso acabou servindo de ponte para uma nova fase da carreira de Mojica. Após ESTUPRO/PERVERSÃO, o diretor não conseguiu lançar mais nenhum filme até meados dos anos 80, e não encontrou outra opção para garantir o seu sustento a não ser aderir ao marginal mundo dos filmes pornô da Boca do Lixo. Mas isso é uma história que a gente deixa pra outro dia.

quinta-feira, dezembro 11, 2008

O SILÊNCIO DE LORNA (Le Silence de Lorna)



Visto já faz algumas semanas, O SILÊNCIO DE LORNA (2008) é o tipo de filme que me encontro em dificuldade para falar a respeito. Daí a demora. Não chegou a me entusiasmar quanto o último trabalho dos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne - A CRIANÇA (2005) -, mas também não é um filme que mereça ser deixado de lado. Tem a sua importância, além de possuir uma performance impressionante de Arta Dobroshi, a Lorna do título. O SILÊNCIO DE LORNA ganhou o prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Cannes de 2008, o que não deixa de ser também mais um atrativo ou ao menos uma curiosidade para o espectador dos circuitos alternativos.

A estória gira em torno de Lorna, uma emigrante albanesa que tem um casamento de conveniência com Claudy (Jéremie Renier), um rapaz belga viciado em heroína e com problemas financeiros. O casamento foi arranjado de modo que Lorna consiga uma carta de nacionalidade belga. O marido arranjado receberia um bom dinheiro, já que Lorna já estava no jogo também para se casar com um mafioso russo, também desejoso de ganhar o seu passaporte belga. Para complicar ainda mais a história, Lorna ainda tem um namorado que tem o sonho de construir uma vida com ela na Bélgica.

A protagonista tem o seu fascínio, seja nos momentos em que ela se mostra fria e cruel diante do namorado chorão e dependente de seus cuidados, seja nos momentos em que ela se mostra sensível e consciente da dura situação em que se encontra. O filme praticamente não se utiliza de uma trilha sonora e trabalha com várias elipses, que tornam a narrativa ágil. Pena que os irmãos Dardenne errem um pouco a mão num filme que tinha tudo para ter o mesmo vigor e o senso de desespero de A CRIANÇA, embora eu ainda o prefira ao sufocante O FILHO (2002). Ainda não assisti o mais elogiado trabalho dos irmãos, ROSETTA (1999), o filme que lhes deu a Palma de Ouro.

quarta-feira, dezembro 10, 2008

FORÇA DE HERÓIS / ÁGUIAS AMERICANAS (Air Force)























Howard Hawks, depois de ter feito um trabalho de crescimento do sentimento patriótico do povo americano no oscarizado SARGENTO YORK (1941), que tratava da Primeira Guerra Mundial, mas que já trabalhava a honra de se estar na guerra, resolveu, no calor da batalha, depois de passado alguns meses do traumático ataque dos japoneses à base de Pearl Harbor, dar a sua contribuição com um filme feito com o objetivo de elevar os ânimos do povo americano. Ou então assustá-los, já que chegam a ser assustadoras as seqüências de batalha no céu, com os homens voando naqueles teco-tecos, que já se constituiam um perigo, empunhando armas de fogo em lugar estratégico para derrubar os aviões japoneses. Isso exige daqueles homens muita coragem e o filme é uma exaltação dessa coragem e da disposição de sacrificar a própria vida se necessário for.

Por mais que alguns possam acusar FORÇA DE HERÓIS (1943) de propagandístico, o filme caiu como uma luva para a filmografia de Hawks, que já havia abordado o tema da aviação em HERÓIS DO AR (1935) e na obra-prima PARAÍSO INFERNAL (1939). Só ficaram faltando as habituais mulheres hawksianas, já que o filme é centrado apenas no trabalho exaustivo e heróico dos militares da força aérea. O filme começa um pouco parado e só depois de uma hora e meia que começa a ação. No início, há a preocupação na construção dos diversos personagens - que infelizmente não são tão fortes e marcantes como geralmente costumamos ver nos demais filmes de Hawks - e há também um certo fascínio pelos aviões, quase tão comum a ele quanto a Howard Hughes, que fez o pioneiro ANJOS DO INFERNO.

FORÇA DE HERÓIS pode ter, ou não, influenciado John Ford a dirigir o belo FOMOS OS SACRIFICADOS, que mostrava a batalha no Pacífico do ponto de vista dos fuzileiros navais. Ambos os filmes tem suas ações ocorrendo durante o ataque a Pearl Harbor. Só que Hawks passa em seu filme um ódio muito maior para com os japoneses, enquanto que o filme de Ford tem um clima mais poético e patriótico, independente de quem seja o inimigo.

terça-feira, dezembro 09, 2008

TRÊS DOCUMENTÁRIOS



De vez em quando, para filmes que em geral eu não tenho muito o que falar, costumo fazer um post "três em um". Se bem que o critério nem é bem esse, pois já fiz "três em um" do Dario Argento, do Clint Eastwood, do Sidney Lumet, do Jerry Lewis, gigantes do cinema. E alguns filmes abaixo até poderiam ter um post exclusivo, mas como não me acho capaz de adentrar com segurança o terreno da política, melhor ser curto, grosso e rasteiro nessas horas.

THE ROAD TO BRESSON (De Weg naar Bresson)

Muito bacana este documentário holandês sobre Robert Bresson, feito no calor do festival de Cannes de 1983, quando Bresson, sob vaias e aplausos, recebeu o prêmio de melhor diretor por O DINHEIRO (1983) e Andrei Tarkovski recebeu outro prêmio por NOSTALGIA. Só de ver a cena de Orson Welles entregando o prêmio para os dois mestres e ver os três no palco juntos já é motivo mais do que suficiente para conferir esse documentário. Interessante como tanto o cineasta russo quanto o francês se mostraram bem tímidos diante do palco. Mas THE ROAD TO BRESSON (1984) foi feito principalmente para quem já viu ou já tem certo grau de intimidade com os trabalhos nem sempre fáceis do cineasta. Numa cena do doc, em entrevista coletiva, Bresson tinha que responder coisas do tipo "eu não entendi o seu filme" ou "por que seus filmes são sempre frustrantes?". Sobre não entender O DINHEIRO, eu confesso que também não entendi, mas a resposta dele foi interessante. Ele falou: meus filmes não são para serem entendidos, mas para serem sentidos. E por isso, acho que eu só tive a oportunidade de sentir de verdade o cinema de Bresson em duas de suas obras: O PROCESSO DE JOANA D’ARC (1962) e UM CONDENADO À MORTE ESCAPOU (1956). Quanto aos demais, talvez tenha me esforçado demais para entendê-los. Precisaria, portanto, rever para tentar absorver melhor. Leo De Boer e Jurriën Rood, os diretores do documentário, se vêem também numa situação complicada ao tentar agendar uma entrevista com Bresson, para enriquecer o documentário, que já contava com entrevistas de Louis Malle (que dizem que é o maior herdeiro do cinema de Bresson), Dominique Sanda (a atriz de UNE FEMME DOUCE, 1969), o roteirista e cineasta americano Paul Schrader (foda que não tinha legendas nas falas dele e o Schrader tem uma dicção complicada) e o genial cineasta russo Andrei Tarkovski. Com sorte, eles negociaram por telefone para fazerem apenas três perguntas e Bresson, mais enjoado que João Gilberto, só aceitou responder uma pergunta. Isso pelo telefone, pois lá no quarto de hotel até que ele respondeu mais um pouquinho. Entre entrevistas, cenas de seus filmes e discussões em torno de seu livro, "Notas sobre o Cinematógrafo", o filme só peca por ser curto demais. Menos de uma hora de duração é pouco para um cineasta tão intrigante e instigante quanto Bresson.

COMANDANTE

Quando revi O PODEROSO CHEFÃO – PARTE II e me chamou a atenção aquela cena em que Michael Corleone está em Cuba presenciando o momento em que Fidel Castro toma o poder e instala a sua revolução, fiquei curioso para saber mais sobre aquilo. E em breve, com os dois filmes sobre Che Guevara chegando por aí, acho que Cuba voltará a ser tema quente. Enquanto isso, nada como ver COMANDANTE (2003), o imperdível documentário que Oliver Stone fez depois de ter ganhado a simpatia e a confiança de Fidel. Legal ver o presidente cubano chamando Stone de Oliver e batendo papo, apesar da barreira da língua, que é resolvida com a intérprete de Fidel. Além do bate-papo às vezes descontraído às vezes tenso - Stone não teme em fazer perguntas complicadas a Fidel, mas ele responde passando convicção -, o filme ainda conta com cenas de arquivo, mostrando Fidel jovem, antes de tomar o poder, quando lutava ao lado de Ernesto "Che" Guevara. No fim das contas, o saldo foi positivo para o velho Fidel, que com muito sacrifício e apesar do embargo econômico dos americanos, além das ameaças de serem bombardeados, conseguiu instalar dentro de sua pequena ilha um socialismo igualitário com uma educação e um sistema de saúde de fazer inveja a muitos países ricos (como já provou Michael Moore em SICKO). E Depois do controverso JFK – A PERGUNTA QUE NÃO QUER CALAR (1991) e do pouco visto NIXON (1995), Stone vem aí com W. (2008), que deve dar o que falar. Há quem não curta o trabalho de Stone, mas ele é um diretor cuja obra deveria ser levada mais a sério.

PEQUENO GRÃO DE AREIA (Granito de Arena / Grain of Sand)

Não tinha ouvido falar desse filme, mas depois que eu emprestei o documentário brasileiro PRO DIA NASCER FELIZ, de João Jardim, para a minha amiga Valéria, ela resolveu me emprestar este PEQUENO GRÃO DE AREIA (2005), que também trata de questões educacionais, mas com um registro bem diferente. Na verdade, achei o tom do filme excessivamente panfletário, mais preocupado com o jornalismo e com o discurso de esquerda do que com a arte. As cenas que supostamente deveriam me deixar comovido e indignado, na maior parte das vezes, me causou cansaço e até um sentimento de desesperança, de que tem certas lutas que não valem a pena, mesmo vendo os atos heróicos nas greves dos professores do ensino público no México. Claro que o filme de Jill Friedberg não trata apenas disso, mas a complexidade com que o filme joga as informações e a falta de intimidade com o assunto e com a realidade mexicana me deixou distante do filme. Por mais que os problemas gerados pela globalização estejam cada vez mais próximos de nossa rotina, acho que faltou sensibilidade na direção desse documentário. Mesmo assim, valeu ter visto para me inteirar de uma realidade que, como profissional da educação, me interessa.

Agradecimentos especiais à Valéria e ao Renato, que me forneceram as cópias dos citados filmes.

segunda-feira, dezembro 08, 2008

ENTRE LENÇÓIS



Para quem esperava um filme que mais poderia servir como propaganda de cuecas e lingeries, me surpreendi positivamente com este ENTRE LENÇÓIS (2008), um filme atípico na cinematografia brasileira, em sua estrutura e modo de filmar, talvez por ser dirigido por um cineasta colombiano (Gustavo Nieto Roa). Apesar de ter um par de atores globais e de ser roteirizado por Renê Belmonte, da comédia SE EU FOSSE VOCÊ, de Daniel Filho, o filme mais se assemelha a uma produção estrangeira. Para se ver o quanto uma direção faz a diferença. E falo isso sem conhecer absolutamente nada da carreira do diretor, que faz filmes em seu país desde a década de 70.

Mas abrindo o jogo, é melhor eu dizer a principal razão de eu ter gostado de ENTRE LENÇÓIS: Paola Oliveira. Que mulher espetacular! Que olhar provocante! Que seios lindos, que belo par de coxas, que traseiro. Inclusive, das poucas vezes que o filme o mostra, é como se fosse um presente para o espectador. Mas por mais que o sexo seja elemento essencial para o prazer que o filme proporciona aos personagens e a nós - as mulheres deverão ficar felizes com a performance e a entrega ao papel de Reynaldo Giannechini, talvez em seu melhor papel no cinema até hoje. Se bem que sua carreira no cinema não é lá essas coisas para critério de comparação, mas acredito que essa imersão intimista, esse projeto praticamente todo filmado dentro de um quarto de motel, faz com que o relacionamento do casal se torne algo, além de intenso, crível.

A trama é simples: um casal se conhece numa boate e vai logo para um quarto de motel. Sem nem mesmo saber o nome um do outro, fazem sexo e sentem uma forte conexão e uma vontade de continuarem juntos. Ele já havia pago a conta do motel para passarem a noite e, aos poucos, eles vão dizendo seus verdadeiros nomes, seus estados civis, o quanto eles gostam de seus pares etc. E essa troca de confidências vai os aproximando de tal maneira que a paixão vai surgindo e ameaçando mudar suas vidas. E como não se apaixonar por Paola Oliveira? Ou pelo menos pela personagem dela no filme: Paula, a jovem que está prestes a se casar e de repente se encontra num terrível dilema? O roteiro não a pinta perfeitinha. Ela é um pouco manipuladora e irascível, mas essas imperfeições a tornam ainda mais fascinante. A figura do homem que transforma o que seria apenas uma noite de sexo em algo inesquecível e romântico também deve fazer a cabeça das mulheres.

O filme ainda conta com uma trilha sonora quase ausente, de tão sutil que é, privilegiando principalmente os diálogos. A câmera nem sempre mostra o que a gente quer ver, mas isso também faz parte do jogo de provocação e que distingue o filme de uma obra pornográfica. Até porque estão envolvidos sentimentos também. E essa mistura de tesão, carinho, paixão, admiração e gratidão - ambos se sentem gratos um ao outro pela inesquecível noite - tornam o filme um caldeirão de sentimentos e sensações surpreendente. É nosso ANTES DO AMANHECER, mais erótico, mais quente e mais modesto - pra não encher a bola demais do filme. A comparação com a obra-prima de Linklater se deve não apenas ao fato de ENTRE LENÇÓIS mostrar a evolução de um casal se conhecendo num curto espaço de tempo, mas até pelo próprio final, que pode ou não trazer uma continuação. Mas talvez nem precise, já que eu achei o final bem satisfatório.