quarta-feira, dezembro 24, 2008
A NOIVA ERA ELE (I Was a Male War Bride)
E chega ao fim a minha segunda peregrinação pela obra de Howard Hawks. Infelizmente, essa seleção de filmes que fiz esse ano não se constitui o melhor da obra do genial Hawks, mas tive ótimas surpresas como DELIRANTE (1932), O TUBARÃO (1932) e principalmente DUAS ALMAS SE ENCONTRAM (1935). As principais decepções ficaram por conta de SUPREMA CONQUISTA (1934) e este A NOIVA ERA ELE (1949), que pela participação do sempre ótimo Cary Grant eu imaginava se tratar de uma comédia bem engraçada, como normalmente são as comédias de Hawks estreladas por ele, em especial o imbatível LEVADA DA BRECA (1938). Mas não deixa de ser uma feliz coincidência o fato de eu ter visto A NOIVA ERA ELE imediatamente após a apreciação dos dramas de guerra SARGENTO YORK (1941) e FORÇA DE HERÓIS (1943). Juntos, os três filmes formam um apanhado do antes, do durante e do depois da Segunda Guerra Mundial do ponto de vista americano.
Se em SARGENTO YORK, Hawks abordava um momento em que os Estados Unidos ainda não haviam oficialmente aderido à guerra, tanto que a guerra em questão é a Primeira Grande Guerra, em FORÇA DE HERÓIS, o cineasta flagra um momento de pleno engajamento nacional e até de ódio contra as forças do Eixo, em especial contra os japoneses. Já em A NOIVA ERA ELE, vemos a Alemanha sitiada pelos americanos, que tomaram o poder dos nazistas e passaram a ser os governantes temporários da destruída nação que se partiu, literalmente, após o fim da guerra. Talvez se eu estivesse mais preparado para ver um filme mais dramático do que cômico, teria gostado mais de A NOIVA ERA ELE, mas como o filme tenta ser engraçado várias vezes, então é sinal de que alguma coisa saiu errado, embora algumas risadas aqui e a acolá sejam inevitáveis.
Nessa comédia torta de Hawks, Cary Grant e Ann Sheridan são dois oficiais do exército que participam de uma missão juntos e que depois de muitas brigas acabam se apaixonando. O drama dos dois começa de fato quando eles resolvem oficializar a união e encontram vários obstáculos pelo caminho, graças à burocracia do exército e às leis dos países. O problema é que não há uma química entre o casal, como há com Grant e Katharine Hepburn em LEVADA DA BRECA e Grant e Rosalind Russell em JEJUM DE AMOR (1940). Em nenhum momento, dá pra acreditar no amor dos dois e Ann Sheridan parece excessivamente agressiva em sua personagem, quase não se percebendo demonstrações de carinho para com o noivo. Grant até que se esforça e alguns dos melhores momentos do filme envolvem apenas ele, como na seqüência em que ele se tranca no quarto dela sem querer ou quando ele sai à procura de um lugar para dormir, já perto do final. Em certos momentos, o filme se parece com uma comédia de Truffaut, que tem o seu interesse, mas que não consegue ser exatamente engraçada. Talvez o clima sombrio do pós-guerra e da década de 40 como um todo tenham contribuído para que o filme fosse mais triste do que exatamente alegre. E chega a ser frustrante a tão esperada cena em que Cary Grant se veste de mulher no final.
Assim, depois também de ter revisto com outros olhos a obra-prima ONDE COMEÇA O INFERNO (1959), eis a reformulação do meu ranking Howard Hawks:
1. HATARI! (1962)
2. RIO VERMELHO (1948)
3. ONDE COMEÇA O INFERNO (1959)
4. O PARAÍSO INFERNAL (1939)
5. LEVADA DA BRECA (1938)
6. EL DORADO (1967)
7. JEJUM DE AMOR (1940)
8. UMA AVENTURA NA MARTINICA (1944)
9. DUAS ALMAS SE ENCONTRAM (1935)
10. SARGENTO YORK (1941)
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