segunda-feira, dezembro 22, 2008

GOMORRA



Fica até difícil fazer um julgamento no mínimo razoável de um filme, levando em consideração a precariedade da cópia que está sendo exibida, graças aos "avanços" trazidos pela distribuição e projeção digital. Por mais que eu já tenha ido ao cinema preparado para ver um filme exibido numa costumeiramente escura projeção digital, não imaginava que o resultado seria tão ruim. Não sei se o problema é da cópia em si ou se os equipamentos não estão devidamente configurados para a exibição. O fato é que eu nunca vi um filme tão escuro, mal dando para ver o rosto dos personagens, o que dificulta a apreciação, ainda por cima de um filme que tem um enredo tão complexo. Se a trama política e aparentemente mal costurada de GOMORRA (2008) já não facilita as coisas para o espectador, imaginem quando se está incomodado com a fotografia. Outro agravante está no fato de que o filme foi concebido originalmente em scope, e como o sistema da Rain não utiliza a tela larga, o resultado é uma projeção com tarjas pretas por todos os lados. Tudo bem que pelo menos eles não picotaram o filme com isso, mas o modo como foi exibido é um incentivo para que as pessoas prefiram ver o filme em casa, baixado da internet.

GOMORRA segue a linha dos filmes-denúncia, como SYRIANA e BABEL, mas com uma abordagem mais próxima de um CIDADE DE DEUS, com o qual vem sendo comparado. O filme é corajoso ao denunciar o estado tenebroso em que se encontram as pessoas envolvidas direta ou indiretamente com a Camorra, a facção napolitana da máfia italiana. Corajoso principalmente pelo fato de que o escritor do livro no qual o filme é baseado vive sob escolta policial, podendo ser assassinado a qualquer momento pelos líderes do crime organizado. O diretor, Matteo Garrone, pouco conhecido no Brasil, filmou nas locações originais, ainda que sob o olhar da máfia, dando ao filme um ar de originalidade e de semelhança com o neo-realismo. E como são vários os personagens distribuídos em cinco tramas distintas, leva um pouco de tempo para nos acostumarmos com eles, dificultando qualquer elo de identificação ou simpatia. Pelo contrário, há dois personagens na trama que são bem fáceis de serem odiados por serem totalmente estúpidos. Refiro-me aos dois rapazes que roubam as armas da máfia e ficam deslumbrados com elas, achando que podem fazer tudo e imitando Tony Montana, de SCARFACE, em determinado momento do filme. Um deles, inclusive, tem a voz rouca como Don Corleone. Talvez o personagem mais gostável seja o costureiro que comete o erro de vender o seu conhecimento para os chineses.

Ao final do filme, e de eu ter olhado para o relógio umas seis vezes durante a projeção, aparecem os letreiros típicos de filmes de denúncia, que contam, inclusive, que a Camorra tem investido dinheiro na reconstrução das Torres Gêmeas, em Nova York. GOMORRA é o representante oficial italiano ao Oscar de filme estrangeiro, já tendo sido indicado para o Globo de Ouro. A crítica em geral e boa parte do público tem falado maravilhas do filme. Infelizmente, parece que fui um dos poucos a não embarcar. Quem sabe se eu tivesse visto o filme em outras circunstâncias teria concordado. Ou não. Há filmes que independente das condições em que são vistos ainda assim agradam.

P.S.: Vi só ontem, graças às possibilidades da internet, a entrevista de Fernando Meirelles para o programa Roda Viva. Achei a entrevista mais fluida que a do Lynch e Meirelles se mostrou bem humilde e simpático.

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