quinta-feira, setembro 07, 2023

INVASÃO SECRETA (Secret Invasion)



O fundo do poço para a Marvel no cinema (e principalmente agora, no Disney Plus) parece não ter fim. Será que isso é só uma impressão do momento que pode estar influenciando a minha percepção do todo? Sim, eu gosto de alguns filmes que a maioria não gosta (THOR – AMOR E TROVÃO; PANTERA NEGRA – WAKANDA PARA SEMPRE) e acho lindo demais o GUARDIÕES DA GALÁXIA VOL. 3, mas esse é porque é um projeto mais autoral (de James Gunn) do que dos produtores. Quanto às séries, adorei WANDAVISION e acho uma simpatia GAVIÃO ARQUEIRO. Mas teve série que não consegui nem terminar de ver, como CAVALEIRO DA LUA e WHAT IF…?. Mas já um tempo que se percebe uma insatisfação por parte de muitos. Há até pessoas que estão desistindo de ver religiosamente essas produções, o que já era de esperar, levando em consideração a grande quantidade que começou a ser despejada a partir de 2020.

A Marvel Studios recentemente demitiu um monte de roteiristas e está reavaliando seus planos, uma vez que as coisas não estão saindo como o planejado. Diferentemente dos anos anteriores, por exemplo, 2023 não contou com filmes da Marvel em seu pódio: os mais vistos até agora foram BARBIE e SUPER MARIO BROS., seguido de OPPENHEIMER. GUARDIÕES DA GALÁXIA VOL. 3 está na quarta posição. O mesmo aconteceu no ano passado: as maiores bilheterias foram para AVATAR – O CAMINHO DA ÁGUA, TOP GUN – MAVERICK e JURASSIC WORLD – DOMÍNIO, com DOUTOR ESTRANHO NO MULTIVERSO DA LOUCURA na quarta posição. Isso já pode significar um sinal amarelo para a companhia.

E chegamos à série INVASÃO SECRETA (2023), criada por Kyle Bradstreet (produtor executivo de MR. ROBOT) e com episódios dirigidos por Ali Selim, um cara com experiência em séries de televisão. INVASÃO SECRETA é a série/minissérie mais cara da Marvel, tendo custado inacreditáveis U$ 200 milhões, quando não se vê esse dinheiro todo numa produção de apenas seis episódios de pouco mais de meia hora de duração. Talvez muito do dinheiro tenha ido para os salários de Samuel L. Jackson, Olivia Colman e Emilia Clarke, os nomes mais famosos da minissérie, embora tenhamos gente muito boa como Martin Freeman, Don Cheadle e Ben Mendelsohn. Há também a participação especial de Cobie Smulders.

Todo esse dinheiro foi investido numa obra que não tem boas cenas de ação, não tem um tom ameaçador e de mistério, não diverte, não tem uma história boa e nem preciso dizer que não tem uma boa direção. O que temos são atores muito bons garantindo o pagamento de seus boletos e, quem sabe, uma melhor sorte de participação em possíveis filmes bem-sucedidos da Marvel.

INVASÃO SECRETA é inspirada livremente na saga homônima dos quadrinhos, dos gloriosos tempos em que um inspirado Brian Michael Bendis tornava a leitura de quadrinhos de super-heróis de uma grande companhia um enorme prazer. Para a adaptação televisiva (podemos chamar assim ainda?), a opção dos criadores foi transformar a ideia da invasão skrull numa espécie de narrativa de espionagem cheia de mistério e com ar ameaçador. Inclusive, é bom lembrar que a melhor coisa do filme é a arte dos créditos de abertura, feita com o uso da inteligência artificial, o que só deixa no ar o sentimento de inutilidade de todos os envolvidos na parte criativa do projeto. Há uma bela música nos créditos, que dá certo tom ameaçador, necessário para o que se propunha. Nem acho que fazer uma série de espionagem sem a presença dos supers, aproveitando a ideia original, seja ruim. O que é ruim é sua materialização.

Para não dizer que não falei da trama, temos basicamente Nick Fury (Jackson) retornando para a Terra depois de ter ficado no espaço um bom tempo. Ele fica sabendo de uma invasão clandestina feita por skrulls. Os alienígenas já estavam infiltrados na Terra, como vimos em CAPITÃ MARVEL, com a ajuda de Fury e de uma equipe que mantém tudo em segredo. Mas tudo na santa paz. Acontece que alguns rebeldes liderados por Gravik (Kingsley Ben-Adir) começam a preparar o ataque para tomar conta do planeta, já estando presente em diversos governos mundo afora.

Entre os personagens mais importantes, temos G’iah (Clarke), a filha de um dos skrulls aliados de Fury, chamado Talos (Mendelsohn); Rodhey (Cheadle), que é um skrull infiltrado no governo americano, e Sonya Falsworth (Colman), uma mulher da inteligência secreta que auxilia Fury nos momentos mais delicados.

Uma das coisas que mais se falou foi da situação envolvendo o DNA dos Vingadores, que Fury teria guardado num lugar super-secreto. Esse DNA, chamado de “colheita” é a menina dos olhos do líder Gravik. Mas o que pega mesmo é ver Fury de posse de um conteúdo tão perigoso.

Vendo assim, até parece que a série é interessante, mas é incrível como o roteiro e a direção põem tudo a perder. Então, até os nerds mais fãs da Marvel, os que gostam de ver Easter eggs ou coisas relativas aos quadrinhos, como o Super-Skrull, vão ficar um tanto tristes com tanta incapacidade de fazer algo minimamente interessante com um conteúdo desses. Seria uma tristeza, se não desse tanta raiva, já que nosso tempo é ouro.

+ DOIS FILMES

PARA ONDE VOAM AS FEITICEIRAS

O que mais gostei em PARA ONDE VOAM AS FEITICEIRAS (2020), de Eliane Caffé, Beto Amaral e Carla Caffé, foi o quanto, sem ter que apresentar os personagens e seus nomes e suas histórias de vida, o filme consegue nos fazer amá-los muito rapidamente. São pessoas que atuam numa performance muito interessante numa região decadente e cheia de moradores de rua, no centro de São Paulo. O que me chamou a atenção foi o quanto querer incluir os indígenas no grupo dos rejeitados pela sociedade branca burguesa soou um pouco forçado. Talvez não por causa do grupo, mas talvez porque os indígenas parecem ter mais dificuldade de encontrar uma voz e um futuro neste país que já dizimou e dizima tantos. Além do mais, não faziam parte do grupo deles, pelo que entendi. O que mais se destaca mesmo é o quanto o filme funciona como uma espécie de aula sobre sexualidade sobre pessoas LGBTQIA+, esclarecendo certas dúvidas. Minha cena favorita é quando os atores entram numa roda de "discussão" de pastores evangélicos (fazendo contraponto a dois pastores mais tradicionais estava o pastor e atual deputado federal Henrique Vieira). Um filme cheio de amor.

CORPOLÍTICA

O filme que abriu o For Rainbow no ano passado foi um documentário de formato bem convencional, mas que tem um forte apelo, ainda mais por ter sido lançado num ano em que estava ainda enfrentando o desgoverno de Jair Bolsonaro, que comparece em algumas cenas em imagens de arquivo, principalmente quando agia como deputado federal, inclusive quando já trazia algumas fake news. Mas os grandes protagonistas de CORPOLÍTICA (2022), de Pedro Henrique França, são mesmo os candidatos a vereadores ou deputados, durante suas campanhas no ano duro de 2020. As mais conhecidas são Mônica Benício e Erika Hilton, mas achei muito interessante uma candidata que não foi eleita, Andréa Bak. William De Lucca também é um dos protagonistas, mas achei o menos interessante dos quatro principais. A grande questão que o filme levanta é a necessidade e a importância de haver pessoas LGBTQI+ dentro do legislativo, para ajudar a mudar as coisas através de leis. O problema que eu vejo no filme é que a narrativa vai perdendo fôlego no final, e senti que alguns personagens vão se repetindo. Eu diria que uma duração uns 10 minutos menor não faria mal para ajustar o ritmo. De todo modo, considero este um filme que muita gente deveria ver. Inclusive pessoas que ainda não se livraram do preconceito de gênero.

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