sexta-feira, março 30, 2007
CANDY
Não sei se vocês já repararam, mas é na sexta-feira que meus textos são piores e mais preguiçosos. Como eu não ganho dinheiro pra escrever aqui e acho que os leitores do blog não se importam muito e nem me xingam quando o texto tá muito ruim, então acredito que está tudo bem. Aliás, quero desde já agradecer à turma que tem sido bem legal comigo, dando o toque, por exemplo, quando eu cometo algum erro de informação ou de ortografia, coisas de fundamental importância pra mim. Mas voltando à preguiça da sexta-feira, não sei o que acontece comigo. Geralmente a sexta é um dia de empolgação pra muita gente. Aquela estória de "friday I'm in love", do The Cure. Acho que antes eu era assim. Hoje tenho mais prazer em ficar em casa vendo algum filme ou série de minha preferência do que saindo pra beber ou azarar - coisa que eu nunca aprendi a fazer direito, é verdade. Se bem que eu nem posso beber mais por causa de uma medicação que estou tomando. No máximo, o que eu tomo é uma latinha de cerveja, só pra sentir o prazer do primeiro gole. E por isso fico até um pouco desanimado pra sair, sem poder beber e sentir aquela euforia etílica e passageira. Mas tudo bem. Eu gosto de estar sóbrio. Só não vejo muita graça é estar sóbrio numa festa, como aconteceu dia desses, quando saí com uma turma pra ir lá pra Órbita. Mas nem sei porque estou contando isso. Talvez porque ultimamente não tenho falado dos meus problemas pra ninguém e estou sentindo necessidade de conversar. Antes eu falava mais de minha vida pessoal no blog. Agora o lugar virou meio que exclusivo para os cinéfilos. Ok, vamos ao filme em questão.
CANDY (2006) é um filme irregular com momentos muito bons sobre o relacionamento entre um casal de viciados em heroína. O filme é primo de RÉQUIEM PARA UM SONHO, até no sentido de que há uma certa moral da estória, o que é totalmente compreensível, já que tenho ouvido histórias terríveis sobre o vício em heroína e sobre o quanto isso destrói a vida das pessoas. Assim, o filme funciona como um aviso sobre os malefícios da droga. Logo, se não é grande cinema, ao menos tem o seu valor social.
Além disso, muito do valor do filme se deve às interpretações de Heath Ledger e da gatíssima Abbie Cornish, que pôde ser vista recentemente em UM BOM ANO, de Ridley Scott. Ela é a Candy do título, mas "candy" também é uma palavra usada para designar a heroína. (Lembrando que Mick Jagger já chamou a heroína de "brown sugar" na canção homônima, mas o termo "candy" é hoje mais popular.) O filme é dividido em três atos que se intitulam paraíso, terra e inferno. O curioso é que o terceiro ato, que pela lógica teria que apresentar momentos mais terríveis para os protagonistas, não é o o fundo do poço para eles. O segundo ato pra mim é o mais perturbador. A cena do aborto involuntário é angustiante e é um momento que faz valer o filme. Logo depois dessa cena, o filme anuncia o segmento "inferno". Aí eu pensei comigo: puta merda, se o segmento "terra" foi assim, o "inferno" vai ser de foder. E talvez por isso, eu tenha me decepcionado um pouco com o filme, por causa dessa expectativa que eu criei ao final do segundo ato.
quinta-feira, março 29, 2007
NÚMERO 23 (The Number 23)
Que filminho mais vagabundo esse NÚMERO 23 (2007), hein. Joel Schumacher mais uma vez se esforça para permanecer na concorrida lista de piores diretores de Hollywood em um filme tão ruim quanto BATMAN E ROBIN (1997). Quando Schumacher trabalha com um bom roteiro, como em TEMPO DE MATAR (1996) ou POR UM FIO (2002) até que ele consegue obter algo que preste, mas é só colocar um roteiro ruim nas mãos que ele se sente obrigado a criar um desfile de escola de samba, numa tentativa frustrada de suprir as deficiências de um roteiro capenga. NÚMERO 23 é tão ruim que eu senti vergonha de estar dentro do cinema e de ver Jim Carrey e Virginia Madsen recitando os seus diálogos toscos para pagarem suas contas.
Em NÚMERO 23, Jim Carrey é um desses sujeitos que saem pegando cachorros sem dono ou perdidos pela rua. Um dia sua esposa (Virginia Madsen) compra-lhe um livro chamado "The Number 23". Ele começa a ler o livro e acha tudo muito familiar. Como se o autor tivesse escrito a história de sua vida. Ao mesmo, ele passa a ficar obcecado pelo número 23. Pior do que a trama na "vida real" só mesmo a trama do livro, um arremedo de film noir com fotografia meio embaçada. E quando a gente imagina que o filme não tem como ficar pior, ele fica. O desenvolvimento e a conclusão da trama é um negócio simplesmente ridículo. E é tudo feito da maneira mais desleixada possível, sem o menor respeito com o espectador.
Os interessados em numerologia acabam tendo uma grande decepção com a quantidade de besteiras que o filme inventa com o tal número maldito. E aí que temos que ouvir ou ler coisas como "o número do uniforme de Al Capone era 23" ou "Júlior César foi assassinado com 23 facadas." Além do mais, dois dividido por três não é 0,666. É 0,6666666... Esse povo gosta de forçar a barra para provar suas teorias. Legal mesmo foi o post que um sujeito escreveu no IMDB tirando onda com o filme. Vejam só:
"I was born in July which is the 7th month
My sister was born in december. 12th month
My dog is 9 yrs. old
my favorite tv show is 24
I lost my virginity when i was 17
My girlfriend has 2 teeth.
12-7+9+24-17+2= TWENTY THREE.
I cant wait to see the movie."
quarta-feira, março 28, 2007
SARAH SILVERMAN: JESUS IS MAGIC
Acho que tenho um pouco de preconceito com mulher comediante. Tenho a impressão de que o humor não combina muito com a mulher, especialmente se ela for bonita e atraente como Sarah Silverman. Até a Julia Louis Dreyfus, de SEINFELD, atriz que rendeu muitos momentos engraçados na série, até mesmo ela depende muito de seus colegas para que as gags funcionem. Mas não quero parecer preconceituoso e sei reconhecer a inteligência e criatividade de Sarah. Curiosamente, ela nasceu no dia 1º de dezembro de 1970, exatos 35 anos após o nascimento de Woody Allen. Com essa mania que eu tenho de procurar saber os signos das pessoas, fui conferir a data de nascimento dela e me deparei com essa coincidência. Vai ver quem nasce nesse dia tem boas chances de se tornar um bom stand-up comedian, hein! :) E pra completar, ambos são judeus.
Eu admiro muito os comediantes americanos por fazerem trabalhos originais e criativos. Eles não apenas contam piadas dos outros, como fazem os humoristas brasileiros. Interessante que os stand-up comedians nem sempre fazem seus shows com a intenção de fazer rir. Às vezes, seus shows não são nenhum pouco engraçados, são até tristes e depressivos, mas que podem ter a sua graça própria. No caso de Sarah Silverman, eu confesso que não dei uma risada sequer com o seu espetáculo. Na verdade, achei o seu humor um pouco estranho, meio preconceituoso e sua persona um tanto quanto cheia de si. Mas seu narcisismo, no final de SARAH SILVERMAN: JESUS IS MAGIC (2005), rendeu um momento sensacional. E sexy. "You're a star. And I'm a star fucker", ela diz em frente ao espelho, segundos antes de dar um beijo na própria boca.
O filme é uma mistura de falso documentário com show de humor com seqüências musicais. Às vezes em formato de clipe, às vezes no próprio palco. Eu gostei das canções. O primeiro clipe é ótimo, tanto a música quanto a letra. Gostei da que ela afirmou se tratar de uma canção de amor. A letra diz: "I love you more than bears love honey. / I love you more than Jews love money. / I love you more than Asians are good at math. / I love you even if it's not hip. / I love you more than black people don't tip"... e por aí vai. O rock "You're gonna die soon" também é uma graça e no clipe ela canta num asilo de velhinhos.
No show, Sarah Silverman mexe com temas muito delicados como o holocausto dos judeus, a gravidez precoce das meninas negras, Deus, AIDS, anti-semitismo, racismo, homofobia, sexo anal (ela tem uma opinião parecida com a de Mel Gibson sobre o assunto). Nem sempre as piadas funcionam, mas muitos riem bastante. Na verdade, achei um pouco de mal gosto o que ela fez na última canção de seu show, mas se é comédia, então está valendo. Talvez Sarah Silverman seja um pouco como SEINFELD. É questão de se acostumar, uma questão de gosto adquirido. Uma boa chance de descobrir isso é assistindo aos episódios de seu mais recente programa de televisão - THE SARAH SILVERMAN PROGRAM (2007), que deve ser parecido com esse longa.
Agradecimentos ao meu chapa Renato Doho, que me apresentou à Sarah Silverman.
terça-feira, março 27, 2007
OS PIVETES (Les Mistons)
OS PIVETES (1957) é considerado o primeiro curta-metragem de François Truffaut, já que UNE VISITE (1954), curta em 16 mm que o cineasta fez com Jacques Rivette como operador de câmera e que posteriormente foi reeditado por Alain Resnais, se perdeu, de acordo com entrevista do diretor constante do livro "O Cinema Segundo François Truffaut". Como Truffaut não gostava desse curta, ele até preferiu que fosse assim o destino desse seu primeiro trabalho na direção.
Já OS PIVETES é um filme que sintetiza muito do que veríamos nas melhores obras do cineasta. A começar pelo próprio ponto de vista infantil, que seria melhor trabalhado em seu longa-metragem de estréia, OS INCOMPREENDIDOS (1959). Em OS PIVETES, um grupo de garotos têm verdadeira obsessão por uma bela mulher. Como eles são jovens demais para amá-la, eles tentam de alguma maneira estragar a vida dos rapazes que se aproximam dela. Uma das primeiras linhas de narração do filme cita as pernas dela e a saia que voa quando ela anda de bicicleta. Esse detalhe das pernas e da saia das mulheres seria mais explicitamente abordado em O HOMEM QUE AMAVA AS MULHERES (1977), mas é um tema que se repete em muitos outros filmes do diretor, inclusive os do ciclo Antoine Doinel. O respeito pelos mortos, que seria enfatizado em O QUARTO VERDE (1978), também aparece de maneira sutil nesse curta.
Engraçado que Truffaut não teve a preocupação ou a intenção de tornar o curta parecido com ele - até porque ele ainda era um diretor em formação. Ele apenas quis adaptar o conto de Maurice Polons da melhor maneira possível. Na primeira versão do filme, havia cenas de diálogos do casal, mas aí Truffaut odiou essas cenas e as tirou do corte "oficial". Na época, o diretor tinha medo de não conseguir criar bons diálogos. Felizmente, foi exatamente o oposto que aconteceu, já que seus filmes contam com diálogos excelentes.
Estou pensando se revejo UMA MULHER PARA DOIS (1962), que é um filme que eu vi no cinema em 1998. Já são quase dez anos. Acho que já está bom de ser revisto, não é? Encontrei no emule o curta ANTOINE ET COLETTE (1962), que eu nunca vi. E estou aguardando que finalize o download. Outros Truffauts já devidamente baixados e esperando o momento certo pra assistir: UM SÓ PECADO (1964) e A NOIVA ESTAVA DE PRETO (1967).
Agradecimentos especiais à sumida Carol Vieira.
segunda-feira, março 26, 2007
EU ME LEMBRO
Vendo EU ME LEMBRO (2005), eu fiquei pensando no porquê de que há tão poucos filmes abordando memórias de infância e juventude como esse. Afinal, quando nos falta criatividade para inventar uma boa estória de ficção, o território das memórias é uma boa fonte. Eu, pelo menos, tenho muitas memórias boas que eu trato com carinho e que até já pensei em transformá-las em contos no dia em que eu estiver inspirado. O difícil é fazer com que aquelas lembranças especiais também pareçam especiais na forma de literatura ou cinema. Felizmente, Edgard Navarro foi bem sucedido nessa sua primeira, ainda que tardia, incursão no longa-metragem. Seu filme lembra um pouco o ALMA CORSÁRIA, de Carlos Reichenbach, bem como o canadense C.R.A.Z.Y. - LOUCOS DE AMOR, de Jean-Marc Vallée.
No que se refere à infância, interessante quando o menino Guiga experimenta fechar os olhos e tapar os ouvidos. Quando ele faz isso, o mundo simplesmente deixa de existir para ele. O mundo só existe porque ele existe. É uma visão bem egocêntrica, mas isso não deixa de ser verdade, principalmente do ponto de vista de uma criança, que acredita que tudo gira em torno dela. Para Guiga, o sexo sempre foi importante desde muito pequeno, ao ver as conversas sobre intimidade das mulheres, o namoro dos adultos, seus pais transando e, na adolescência, com a descoberta da masturbação. Senti falta de algo mais romântico, como a primeira paixão da infância, mas vai ver isso não aconteceu ou não foi tão marcante para ele. Legal ver as crianças se divertindo com as cantigas de roda, num tempo em que as crianças era mais inocentes e as brincadeiras mais saudáveis. Também muito bom ouvir no rádio as propagandas da época e ver a chegada da televisão.
Interessante como o advento da contracultura no final dos anos 60 modificou os costumes e a aparência da sociedade jovem da época. No filme, essa mudança se dá a partir da cena em que ouvimos "Baby", cantada pela Gal Costa, enquanto vemos Guiga e seus amigos passeando com aquelas roupas de hippie. A maconha é parte integrante e essencial desse processo e é engraçado como a lembrança da primeira tragada fica forte na memória. A cena da viagem psicodélica depois da ingestão de um cogumelo, além de servir para nos colocar cruzando as "portas da percepção", também funcionou como uma espécie de resumo do filme, com direito até a recurso metalingüístico que me fez lembrar o final de O GOSTO DE CEREJA, de Abbas Kiarostami. Quando o filme termina, fica uma sensação de que foi mostrado muito pouco, de que a vida de Guiga foi até bem normal. Também senti falta de mais referências à cinefilia de Navarro. Isso é mostrado poucas vezes no filme e a impressão que fica é que, para Navarro, o cinema fica, em grau de importância, bem atrás das drogas e do sexo. Não que isso seja um problema.
sexta-feira, março 23, 2007
HALF NELSON
Filmes de professor geralmente são interessantes. E como eu levo parte de minha vida como professor, é natural rolar algum tipo de identificação. Acontece que HALF NELSON (2006) é um pouco diferente dos filmes dessa subcategoria. O filme tem um andamento bem lento, um ritmo um tanto quanto preguiçoso.
Dan Dunne (Ryan Gosling) é um rapaz viciado em crack cuja única forma de se manter centrado na vida são as aulas que ele dá numa escola pública do Brooklyn. Dan não parece ser um professor tão dedicado. Ele enrola bastante quando não está com muita condição de dar aula; não costuma preparar as aulas e nem segue o livro adotado pela escola. Mas ele faz algo de bom para os alunos, que é promover a reflexão em suas aulas de História. Em certo momento, ele tenta explicar para os seus alunos o significado da palavra "machine", no sentido de "sistema". Além de professor de História, ele também é treinador de basquete da escola.
O filme foca sua atenção no relacionamento entre ele e uma aluna que o flagra em estado deplorável no banheiro da escola, logo após a inalação da droga. Ela fica com ele por algum tempo no banheiro até ele se recompor e os dois começam a ter um elo de amizade e cumplicidade.
Talvez o que tenha me deixado decepcionado em relação a HALF NELSON (2006) foi esse andamento meio preguiçoso do filme - há também muito uso de câmeras próximas dos personagens, como nos filmes dos irmãos Dardenne -, o que acabou me deixando com sono diversas vezes. Além do mais, no final das contas, eu fiquei sem saber qual é o sentido do filme, qual a sua razão de existir. Se bem que isso é até coerente com o espírito e com o humor do personagem. Ryan Gosling está excelente e é com certeza a melhor coisa do filme. Além da indicação ao Oscar por esse papel, ele ganhou diversos prêmios, entre eles o Independent Spirit Awards. O filme causou sensação no Festival de Sundance.
HALF NELSON continua inédito em cinema e DVD no Brasil. Visto em divx.
quinta-feira, março 22, 2007
OS CHEFÕES (The Funeral)
Alguns amigos já haviam me recomendado, haviam me dito o quanto era ótimo OS CHEFÕES (1996), mas por alguma razão eu sempre adiava a apreciação do filme. Só ontem é que eu pude conferir o quanto é maravilhoso esse filme de Abel Ferrara. OS CHEFÕES (eta titulozinho mais besta, esse nacional) já me conquistou logo de imediato. A primeira imagem do filme é a de Humphrey Bogart em A FLORESTA PETRIFICADA. Depois disso passamos para os créditos que apresenta um elenco de dar inveja a qualquer cineasta: Christopher Walken, Chris Penn, Vincent Gallo, Benicio Del Toro. Como já não bastasse um elenco masculino tão bom, eis que ainda temos as mulheres do filme: Annabella Sciorra, Isabella Rossellini e Gretchen Mol desempenham suas funções maravilhosamente no papel das tristes mulheres dos três irmãos. E o que é melhor, durante os créditos ouvimos completinha "Gloomy Sunday", de Billie Holiday, enquanto o caixão que traz o corpo de Johnny (Vincent Gallo) chega na casa. Não seria exagero dizer que essa cena inicial de cinco minutos pode estar entre os trabalhos mais extraordinários já realizados no cinema da década de 90. A expressão de tristeza e desespero no rosto de Gretchen Mol com a chegada do caixão do namorado é de arrepiar. Eu fiz questão de rever essa seqüência depois que terminei de ver o filme.
Apesar de não ter crescido no catolicismo e de ter até um pouco de preconceito com seus dogmas e sua história, não tem como não perceber o quanto a religião católica tem influenciado de forma positiva grandes cineastas como Alfred Hitchcock, Martin Scorsese, Robert Bresson e Mel Gibson, só pra citar os exemplos mais óbvios. No caso de Abel Ferrara, o catolicismo é ainda mais presente em seus filmes, só que é tratado de uma maneira mais crítica, amarga e questionadora. Em OS CHEFÕES, na cena em que Christopher Walken fica cara a cara com o assassino de seu irmão, ele, em vez de falar um discurso simples como "você matou o meu irmão, eu vou te matar", ele passa a conversar com o sujeito sobre fé, justiça e livre arbítrio. E eu achei isso sensacional.
Os personagens de Ferrara transitam entre a culpa e o pecado constantemente. Na cena em que Chris Penn, em interpretação excepcional, está dando uns amassos numa garota novinha, no meio de um momento de intensa luxúria, ele pára e diz pra ela, "isso é errado, você é apenas uma menina", para logo em seguida agir de maneira brutal e violenta com ela. A estrutura do filme parece um pouco solta, sendo que nem sempre há uma ligação forte entre os seus blocos. Não que isso seja um problema. Pode-se assistir ao filme em pedaços, como se estivéssemos ouvindo as canções preferidas de um álbum.
Não sou um bom conhecedor da obra de Ferrara - estou querendo reverter esse quadro -, mas algo me diz que OS CHEFÕES é a obra-prima do cineasta. Em casa, esperando por uma oportunidade para vê-los, estou com BLACKOUT (1997), em DVD, MARIA (2005), em divx, e o filme em episódios METRÔ DE NOVA YORK (1997), com um segmento dirigido por ele, em VHS.
quarta-feira, março 21, 2007
O BOM PASTOR (The Good Shepherd)
Uma pena ver Robert De Niro dispor tanto tempo de sua vida num filme longo, arrastado e chato como O BOM PASTOR (2006). Acho que ele continuar apenas na atuação, de preferência voltando a fazer filmes ao lado de seu companheiro Martin Scorsese. Aliás, se não fosse o Marty, De Niro não seria esse gigante que é hoje. Inclusive, algumas de suas atuações dos anos 90 pra cá são meio canastras - de cabeça, lembro de FRANKENSTEIN e O AMIGO OCULTO. Mas deixemos um pouco de lado o De Niro ator e nos concentremos nesse filme de espionagem que tem a intenção de mostrar 40 anos da CIA, do ponto de vista de um de seus principais agentes, interpretado por Matt Damon.
O filme começa na década de 60, com o seu protagonista investigando a existência de um espião infiltrado na organização, no auge da Guerra Fria. Sua mente volta aos tempos de sua juventude, na época de sua participação na fundação da Agência Central de Inteligência. No plano sentimental, duas mulheres foram de grande importância em sua vida: uma jovem surda por quem ele se apaixonou (Tammy Blanchard) e a irmã de um membro da organização secreta que ele participava (seria a Maçonaria?), interpretada por Angelina Jolie. Devido a uma gravidez indesejada, ele é forçado a se casar com essa moça. No entanto, seu casamento seria interrompido logo no início, já que ele ficaria vários anos trabalhando na Europa realizando missões perigosas e confidenciais.
Tudo no filme é cheio de segredos, o tom de voz dos personagens é sempre baixo e muitas vezes eles conversam sem olhar um para outro. Isso pode ser visto como um charme a mais para o filme, mas a verdade é que isso acabou por me deixar cansado de ouvir tanta coisa que só interessa aos envolvidos em duas horas e quarenta minutos de duração. Tudo bem que muito do que é mostrado no filme é de vital importância para a história contemporânea, mas chega uma hora que cansa.
Apesar de eu não ter gostado muito, não diria que O BOM PASTOR é ruim ou mal feito. De Niro foi muito cuidadoso nos aspectos da encenação, direção de arte, figurino, escolha do elenco e até nos discretos efeitos especiais. Pena que o resultado tenha saído tão frio e monótono. E é uma pena que a frase "I don't know anything about you" dita pela Angelina Jolie no trailer não apareça no filme. Pelo menos "I live with a ghost" marca presença. :) A propósito, não deixem de conferir a brincadeira que a Fer fez em cima do trailer do filme em seu blog.
terça-feira, março 20, 2007
SANGUE POR GLÓRIA (What Price Glory)
Mais uma obra menor de John Ford. No livro de Scott Eyman e Paul Duncan editado pela Taschen, SANGUE POR GLÓRIA (1952) é mais um filme a receber um único parágrafo pelos autores e ainda assim como comparativo de inferioridade do bem sucedido filme homônimo dirigido pelo aventureiro Raoul Walsh em 1926, também baseado na mesma peça teatral. Por mais que SANGUE POR GLÓRIA seja um filme problemático, ele mereceria mais consideração. Até porque a presença de James Cagney num filme de Ford é algo para se festejar, sendo uma exceção numa filmografia onde a presença de John Wayne ou Henry Fonda é quase regra. E por falar em Henry Fonda em filme de Ford, aproveito a deixa para lembrar que mais dois filmes do diretor estrelados pelo astro chegarão em DVD em breve: A MOCIDADE DE LINCOLN (1939) e AO RUFAR DOS TAMBORES (1939). CAMINHO ÁSPERO (1941) também está previsto para chegar em abril pela Fox.
Engraçado como a palavra "glória" é associada à guerra. Só recentemente, eu vi, além desse filme de Ford, CAMINHO DA GLÓRIA, de Howard Hawks, e DIAS DE GLÓRIA, de Rachid Bouchareb. De cabeça, lembro-me de GLÓRIA FEITA DE SANGUE, de Stanley Kubrick, e TEMPO DE GLÓRIA, de Edward Zwick. Meu Deus, o que há de tão glorioso em morrer por um país? O que se ganha com isso além de uma morte sangrenta e de momentos de horror? Acredito que a nossa geração seja mais crítica nesse sentido - os dois filmes de guerra de Clint Eastwood estão aí para comprovar -, mas ao que parece até a Segunda Guerra Mundial, as pessoas encaravam esses conflitos com mais romantismo. E de certa forma, é até bonito ver esse entusiasmo dos soldados pela batalha, como é mostrado no final desse filme de Ford, ou nas duas versões de HENRIQUE V.
Mas afinal, o que há de errado em SANGUE POR GLÓRIA? O principal problema do filme se deve a um certo artificialismo devido às filmagens em estúdio e à falta de realismo nas poucas seqüências de ação. A fotografia em technicolor também não ajuda a esconder esse problema. Ao contrário, acentua ainda mais. As cenas musicais tornam o filme ainda mais datado, chegando a ser incômodo. Nem sempre o humor do filme funciona, mas quando funciona é gostoso de se ver. Acho que eu fiquei um pouco frustrado, já que eu esperava um filme de guerra dramático e sério como CAMINHO DA GLÓRIA e o que eu vi foi um filme híbrido, metade comédia (com cenas musicais) e metade drama de guerra. Gosto mais da segunda metade do filme, claro. A primeira parte, ao mesmo tempo que nos ajuda a simpatizar com os personagens, estraga um pouco a tentativa de se levar a sério a sua parte mais dramática.
Quanto à parte musical, soube depois que Ford odiava as canções e que se recusou a gravar a maior parte delas. O produtor Daryl F. Zanuck é que queria mesmo fazer um musical. Tanto que o teaser trailer do filme, que não consta da edição nacional da Fox, prometia treze novas canções! Imagina se Ford tivesse filmado tudo isso? Seria um negócio insuportável de se assistir. Soube também que Ford queria em seu filme o seu casal favorito - John Wayne e Maureen O'Hara - mas Zanuck não aceitou.
A trama gira em torno da rivalidade entre o Capitão Flagg (Cagney) e o Sargento Quirt (Dan Dailey). Ambos se interessam pela mesma mulher, uma garçonete francesa. Ambos fazem parte de um regimento americano na França, na época da Primeira Guerra Mundial. A missão da equipe do Capitão Flagg é capturar um oficial alemão. Tem também uma subtrama fraquíssima envolvendo um soldado americano apaixonado por uma adolescente francesa, que rende o pior momento do filme, mas é melhor esquecer disso e ficar apenas com a lembrança dos bons momentos.
segunda-feira, março 19, 2007
SCOOP - O GRANDE FURO (Scoop)
Os ares de Londres estão fazendo bem para o nosso querido e velho Woody Allen, diretor que até pouco tempo atrás dizia não sair de sua amada Nova York. Agora, dizem até que ele está planejando morar na Espanha, vejam só! Não sei se isso é boato ou é mesmo verdade, estou custando a acreditar. Bom, depois de um trabalho excepcional e um pouco atípico em sua carreira - o excelente suspense hitchcockiano PONTO FINAL - MATCH POINT (2005) -, Allen retoma a parceria com Scarlett Johansson, numa comédia agradabilíssima, que também faz referências ao mestre do suspense, em especial SUSPEITA, bem como a UM LUGAR AO SOL, de George Stevens, e a outros dois filmes do próprio Allen - MISTERIOSO ASSASSINATO EM MANHATTAN (1993) e O ESCORPIÃO DE JADE (2001). A boa notícia é que SCOOP - O GRANDE FURO (2006) é superior a esses dois trabalhos do diretor.
Por mais que alguns não tenham gostado desse filme, todos precisam dar o braço a torcer e aceitar que Woody Allen ganhou bonito de Brian De Palma no quesito endeusar Scarlett Johansson. Além de não conseguir arrancar cenas de sexo "decentes" da jovem loira, De Palma ainda a enfeiou em seu DÁLIA NEGRA. Já Allen, tornou-a, em ambos os filmes, incrivelmente sexy, atraente e bela. No caso de SCOOP, mesmo com todos os trejeitos e com a incorporação dos tiques de Allen - ela não larga de seus óculos e fala como Allen - ela está uma maravilha.
SCOOP faz parte da categoria dos filmes leves do cineasta e por isso é tão esnobado ou subvalorizado por muitos, que o preferem o diretor ácido como um limão ou emulando Bergman. Falando no cineasta sueco, a referência à morte no começo do filme pode ser uma homenagem a O SÉTIMO SELO. Como também pode não ser, já que Allen conta estórias sobre a morte desde os tempos em que ele escrevia peças de teatro e pequenos contos.
Na deliciosa trama, Scarlett é uma estudante de jornalismo que durante a apresentação de um mágico (Woody Allen) recebe a visita do espírito de um outro jornalista (Ian McShane) que em seu caminho no barco da morte descobre a identidade do "assassino do tarô", um serial killer que sempre deixa uma carta de tarô ao lado do corpo de suas vítimas, geralmente morenas de cabelo curto. Segundo o fantasma, o assassino seria um conhecido milionário inglês (Hugh Jackman). Scarlett convida Woody para ajudá-la a desvendar o mistério e a conseguir o grande furo que alavancaria sua carreira. O problema é que ela começa a se apaixonar pelo suspeito.
Interessante que o filme trata o fantasma com uma naturalidade que não se via em outras experiências de Allen com o cinema fantástico ou surrealista, como SIMPLESMENTE ALICE (1990), A ROSA PÚRPURA DO CAIRO (1985) ou o segmento de CONTOS DE NOVA YORK (1989). E como é bom sair do cinema com um sorriso nos lábios e ouvindo o comentário de um espectador, que falou: "Esse velhinho é muito bom." Quer dizer, provalvelmente essa pessoa não sabe quem é Woody Allen e gostou do filme sem nenhuma predisposição ou tendência natural. E, graças aos céus, Woody continua incansável, já tendo dois filmes garantidos: CASSANDRA'S DREAM, também passado na Inglaterra, e um projeto dramático, com locação em Barcelona. Como diria Borat: "Nice!".
sexta-feira, março 16, 2007
MAIS ESTRANHO QUE A FICÇÃO (Stranger than Fiction)
Uma das maiores surpresas pra mim em relação MAIS ESTRANHO QUE A FICÇÃO (2006) foi o fato de que o filme é muito mais dramático do que eu esperava. Pelo trailer e pelo próprio enredo, tudo que se espera é uma comédia maluca parecida com QUERO SER JOHN MALKOVICH. Inclusive, a comparação de MAIS ESTRANHO QUE A FICÇÃO com os filmes escritos por Charlie Kaufman foi muitas vezes mencionada em críticas e reportagens sobre essa produção. A comparação procede. MAIS ESTRANHO QUE A FICÇÃO é filme de roteirista. Um cineasta tão sem personalidade como Marc Forster não faz muita diferença. Quer dizer, até pode fazer, já que ele tem uma boa experiência e alguns bons títulos no currículo, mas o fime é de Zach Helm.
Dizem que o roteiro de MAIS ESTRANHO QUE A FICÇÃO ficou anos encostado nos estúdios, sem ter ninguém que o levasse a sério e tomasse a iniciativa de transformá-lo em filme. Não me lembro muito bem dos detalhes dessa história e nem estou muito a fim de procurar, mas o fato é que depois de um longo tempo de espera, Zach Helm finalmente teve sua estória materializada em celulóide.
Na trama, Will Ferrell é Harold Crick, um homem que trabalha de fiscal do imposto de renda. Uma de suas missões é fazer cobrança de pessoas que caíram na malha fina. Um dia, enquanto escova os dentes, ele descobre que é ele personagem de uma história, já que tudo que ele faz é contado de forma elegante por uma narradora mulher (Emma Thompson). Ao contar isso para uma psicóloga, a mulher lhe recomenda ver um professor de literatura (!). É aí que entra Dustin Hoffman na estória. O interesse amoroso de Harold é Ana (Maggie Gyllenhaal), dona de uma doceria que caiu na malha fina do imposto de renda. Harold começa a ficar muito preocupado quando descobre, através da narração, que sua morte está iminente.
Bom, tudo isso que eu contei nesse terceiro parágrafo já é conhecido de quem viu o trailer do filme, que eu já vi mais vezes que o trailer de O BOM PASTOR. Mas, como eu já havia dito no começo do texto, o que mais me surpreendeu foi o tom dramático do filme. Não que não haja seqüências engraçadas - Will Ferrell provavelmente nunca deixará de ser visto como um comediante -, mas elas são poucas. Eu gostei da parte romântica, do fato de o personagem não ter muito tato com as mulheres e de estar apaixonado pela Maggie Gyllenhaal - como não se apaixonar por ela? A cena dos biscoitos, por exemplo, é muito bonita, bem como a cena em que ele a presenteia com flours (farinha de trigo), um trocadilho com flowers (flores). O filme tem esse lado Kaufman, mas também me lembrou um excelente livro de José Saramago, TODOS OS NOMES. Principalmente na parte que mostra a rotina repetitiva do protagonista. Isso já me faz encarar o filme com maior simpatia.
Soube através do IMDB que o filme contém várias citações aos Beatles. Há a maçã verde que ele come sempre no caminho do trabalho; a passagem dele pela avenida, semelhante à capa de ABBEY ROAD; citações a "Taxman", "Paperback Writer" e "Penny Lane". Quanto ao roteirista Zach Helm, parece que ele, depois desse filme, foi alçado ao primeiro time de Hollywood, já que estreará na direção com MR. MAGORIUM'S WONDER EMPORUIM (2007), estrelado por Natalie Portman e Dustin Hoffman.
quinta-feira, março 15, 2007
O ESTRANHO PODER DE MATAR (The Shout)
É sempre bom estar de olho nesses lançamentos que aparecem nos saldões dos grandes magazines e nas bancas de jornais. Distribuidoras independentes e pouco conhecidas têm trazido filmes importantes em precinhos bastante camaradas. Só no último mês eu adquiri BUFFALO BILL, de Robert Altman, BAD TIMING e MALÍCIA ATÔMICA, ambos de Nicolas Roeg, BLACKOUT, de Abel Ferrara, e A ÚLTIMA ONDA, de Peter Weir. Também por apenas dez pilas adquiri este O ESTRANHO PODER DE MATAR (1978), de um cineasta querido da Cahiers du Cinema, o polonês Jerzy Skolimowski, que nas décadas de 70 e 80 trabalhou bastante na Inglaterra.
Trata-se de um filme de terror original e bem pouco convencional. Aliás, nem sei se dá pra classificá-lo como horror, já que é um filme bem estranho e que não tem muitos vínculos com os elementos que a gente costuma associar com o gênero. Em poucas palavras, O ESTRANHO PODER DE MATAR é um filme sobre um homem que tem o poder de matar pessoas e animais com a força de seu grito. Só esse enredo já desperta a curiosidade do espectador. Mas por mais que o enredo seja meio HEROES, o andamento do filme o aproxima mais dos filmes de arte europeus. Inclusive, achei a imagem um pouco lavada, mas isso é mais culpa do estilo de fotografia utilizada nas produções inglesas. Não sei porque razão os filmes produzidos lá têm essa aparência.
Já faz um tempão que eu assisti o filme, portanto, muita coisa já fugiu de minha memória. Dei uma olhada nos textos sobre o filme na internet e fui me lembrando de algumas coisas. Na trama, John Hurt é Anthony Fielding, um homem casado que toca órgão numa igreja numa cidadezinha do interior da Inglaterra. Certo dia ele conhece Crossley, um homem (Alan Bates) que se convidou para almoçar na casa dele. No almoço, esse homem conta que passou 18 anos convivendo com os aborígenes, que com eles aprendeu muito da magia daquele povo e que também matou seus próprios filhos. Essa confissão assustou a esposa de Anthony (Susannah York), que ficou se perguntando porque diabos o marido traz um homem estranho daqueles para sua casa. Seus problemas apenas começaram. Toda essa história é contada num flashback. A cena do grito de Crossley no deserto é de arrepiar todos os cabelos do corpo.
P.S.: Finalmente, TWIN PEAKS - SEGUNDA TEMPORADA está em pré-venda! A 2001 prevê o envio da série para o dia 24 de abril. Mal posso esperar! Outra promoção imperdível do site é a excelente edição de GAROTAS DO ABC, do Carlão Reichenbach, que está a preço de banana lá. E eu juro que não estou ganhando nada com essa propaganda.
quarta-feira, março 14, 2007
RIO GRANDE / RIO BRAVO (Rio Grande)
Mais um clássico de John Ford para espantar os maus fluidos dos últimos filmes vistos no cinema. RIO GRANDE (1950) é o terceiro da trilogia da cavalaria do diretor. É um filme que tem uma ligação maior com o primeiro da trilogia, SANGUE DE HERÓIS (1948) - o personagem de John Wayne no filme é o mesmo - do que com o segundo, o colorido LEGIÃO INVENCÍVEL (1949). Mas há um espaço na estória entre um filme e outro que não é contado.
Em RIO GRANDE, o agora Tenente-Coronel Kirby Yorke é um homem que está num posto de cavalaria próximo ao Rio Grande, que é o rio que separa a fronteira entre Estados Unidos e México. A relação entre brancos e índios é de hostilidade constante e vez ou outra o lugar é atacado pelos apaches ou por outras tribos indígenas. Yorke está encarregado de treinar novos recrutas. Para sua surpresa, entre os novos rapazes a aparecerem para o treinamento está o seu filho adolescente, que havia sido reprovado em West Point. A vontade dele é mandar o filho embora daquele lugar, mas nem é preciso, já que quem tenta fazer isso é a mãe do garoto (Maureen O'Hara), que também chega de surpresa no lugar. A relação de distanciamento entre o casal é um ponto alto do filme, rendendo uma cena quente e outras de amor sufocado, como aquela em que um grupo de soldados canta, numa serenata, a canção "I'll take you home again, Kathleen". E como o nome dela é Kathleen, os dois se esforçam para não desabarem no choro ao ouvir aquilo.
Nos filmes de Ford, as famílias "reais" geralmente são destruídas pelo tempo e pelos acontecimentos, mas as famílias escolhidas pelos personagens sobrevivem. RIO GRANDE se apresenta nessa primeira categoria, já que a cavalaria é o grande rival de Kathleen, conforme ela mesma disse. No quesito ação, RIO GRANDE é até um pouco parado, ainda que seja um filme mais ágil e mais compacto que SANGUE DE HERÓIS. Na verdade, RIO GRANDE só possui três momentos de ação, todos envolvendo os índios: a primeira invasão ao acampamento, a captura das crianças e o resgate. Também não faltam cenas de homens cantando, que acabou se tornando uma marca do diretor.
A existência desse filme se deve principalmente a um acordo firmado entre Ford e os produtores, que não queriam se aventurar no projeto de natureza mais pessoal do diretor. DEPOIS DO VENDAVAL (1952) - que eu classificaria como uma comédia romântica -, além de ser filmado na Irlanda, aparentemente não tinha tanto apelo popular quanto um western do diretor. Assim, o estúdio queria primeiro ganhar um bom dinheiro com RIO GRANDE para, aí sim, investir o seu dinheiro em DEPOIS DO VENDAVAL, filme que também conta com John Wayne e Maureen O'Hara, uma das atrizes preferidas de Ford. Mas isso aí já é outra história e que eu não pretendo contar aqui, até porque não tenho intenção de rever DEPOIS DO VENDAVAL agora.
terça-feira, março 13, 2007
CAMINHO DA GLÓRIA (The Road to Glory)
Como é bom ter a chance de ver de vez em quando mais um filme de Howard Hawks. CAMINHO DA GLÓRIA (1936), apesar de ter sido lançado em DVD pela Fox, eu só consegui assistir graças à ajuda do amigo Renato Doho, que fez a gentileza de copiar esse DVD pra mim - thanx, buddie! With a little help from my friends, eu vou conseguindo ver pérolas como essa. Do pacote de filmes que ele me enviou, o primeiro título que eu quis ver foi esse do Hawks.
Vale lembrar que CAMINHO DA GLÓRIA não é uma refilmagem do filme homônimo dirigido por Hawks em 1926. O filme surgiu a partir do momento em que Darryl F. Zanuck mostrou para Hawks um filme francês chamado LES CROIX DE BOIS (1932) que continha cenas reais da batalha nas trincheiras na França, na I Guerra Mundial. Hawks aproveitou cenas noturnas desse filme no seu trabalho. Por falar em guerra, interessante como cada guerra tem um rosto. Numa cena de CAMINHO DA GLÓRIA, Lionel Barrymore diz que bom era no seu tempo, onde se guerreava ao som de cornetas, como costumamos ver nos filmes de cavalaria de John Ford. Nessa guerra, tudo que os soldados faziam era cavar buracos.
Mas CAMINHO DA GLÓRIA não é um filme de guerra qualquer. É um filme puramente hawksiano, com muitas das características do cinema do diretor. Há homens vivendo em circunstâncias perigosas; homens desvinculados de suas famílias (a exceção talvez seja a apresentação do já citado pai do personagem de Baxter); há uma mulher atirada (não tanto quanto a dos filmes seguintes de Hawks, mas já é um começo); há um protagonista bem humorado. Poderia citar também o sacrifício dos heróis, mas ainda não sei se isso é um tema recorrente nos filmes de Hawks. É que eu vi algo parecido em HERÓIS DO AR (1936), o filme imediatamente anterior do diretor.
O eixo central da trama mostra dois oficiais do exército francês apaixonados pela mesma mulher no cenário da guerra. A fotografia de Gregg Toland, o mesmo de CIDADÃO KANE (1941), ajuda a conferir uma atmosfera de escuridão, tanto no front, quanto nas cidades, que também são constantemente bombardeadas. É em pleno bombardeio que o tenente Michel Denet (Fredrich March) conhece a jovem Monique (June Lang), uma enfermeira que por acaso é namorada de seu superior, o capitão Paul La Roche (Warner Baxter). Apesar de o triângulo amoroso ser o centro do filme, Hawks nos brinda também com várias seqüências nas trincheiras. A mais memorável delas é aquela em que os soldados franceses sabem que os alemães estão construindo uma mina logo abaixo deles mas nada podem fazer a não ser torcer para que eles consigam trocar de posto com os soldados do próximo turno a tempo. A batalha final, liderada pelo capitão La Roche é também um dos pontos altos e até lembra as espetaculares seqüências de GLÓRIA FEITA DE SANGUE, de Stanley Kubrick. Talvez Kubrick tenha se inspirado nesse filme de Hawks, quem sabe.
Quanto à bela June Lang, Hawks não gostou muito dela. Na entrevista a Peter Bogdanovich, ele comentou que ela era incapaz de representar e que teve muito trabalho para conseguir arrancar algo próximo de uma interpretação da menina, que só tinha cerca de dezessete anos na época. No entanto, apesar de se notar que ela não é uma grande atriz, eu gostei da moça. Tanto que considero uma das seqüências mais emocionantes do filme aquela que mostra a moça numa igreja, rezando pelos dois homens que ama, ao som de "Ave Maria". Aquilo ali ficou muito bonito. Aliás, o filme todo é cheio de seqüências maravilhosas. Só é um pouco irregular, principalmente se comparado com outros filmes de primeira grandeza de um gigante como Hawks. De qualquer maneira, Hawks já está no pódio dos meus diretores preferidos e até os filmes menores dele eu aprecio.
segunda-feira, março 12, 2007
DREAMGIRLS - EM BUSCA DE UM SONHO (Dreamgirls)
O fim de semana, a exemplo do anterior, não foi dos melhores. Ainda estou resolvendo as pendengas geradas pelo acidente de carro do sábado anterior e isso acabou por consumir toda a tarde desse sábado. Pra piorar, acabei indo, sem nenhuma disposição física - conseqüência de uma crise sem fim de garganta - para a última festa "20 e Poucos Anos", no Recreio Clube de Campo. A principal atração, ao menos pra mim, era o show do Odair José - as outras atrações eram a cantora Rosana e o rei do brega Waldick Soriano. Como eu estava meio debilitado, até cogitei não ir ao show. Mas pra quê? A minha amiga falou que se eu não fosse, ninguém mais ia e fez todo aquele drama, típico da turma de escorpião. Desse modo, senti-me na obrigação de ir ao show pra que depois eu não sofresse nenhuma crise de consciência. Se era necessário que o meu corpo sofresse para que o espírito não se compadecesse, assim seria. Além do mais, ainda havia a esperança de eu melhorar de disposição, ao sair à noite, como algumas vezes já aconteceu. Infelizmente, dessa vez, meu corpo estava tão dolorido que nem se fosse o U2 se apresentando, eu ficaria bom.
O show do Odair foi um pouco morno. Ele aparentemente não gostou das roupas bregas que muita gente estava usando - havia um concurso de melhor traje brega -, talvez porque ele leva a sério de verdade o seu trabalho. Legal ver que tem muitos jovens admiradores do trabalho dele. Na famosa canção da pílula, aquilo ali parecia show de rock, com gente cantando "pare de tomar a pílula" bem alto e subindo nos ombros dos amigos. Mas pra mim, o melhor momento foi mesmo quando ele cantou "Cadê você?", uma das minhas preferidas dele. Pena que ela foi cantada num medley. Já o show da Rosana foi um negócio muito gay - não que haja algum problema com isso. Ela agora sobrevive fazendo shows em boates GLS e sua especialidade é disco music e afins. Eu não gostei e saí pra dar uma olhada nas outras áreas da festa, na parte rock. Mas nada me animava. Felizmente, as meninas resolveram ir embora, antes que o Waldick começasse a cantar. E antes que um baita toró caísse sobre a cidade.
No dia seguinte, eu estava "só o bagaço", mas ainda me esforcei para ir ao cinema. Se eu soubesse que o filme seria mais uma tortura psicológica, eu teria ficado em casa. DREAMGIRLS - EM BUSCA DE UM SONHO (2006), de Bill Condon, já está no topo da minha lista de filmes mais detestáveis do ano. E acho muito difícil aparecer outro filme para desbancá-lo. Alguém deveria ter me dito para levar algodões para os ouvidos. Cada vez que a personagem da Jennifer Hudson cantava (leia-se "gritava", ou "berrava") eu ficava me perguntando o que eu havia feito de tão errado pra merecer aquilo. Mas sou do tipo que vê o filme até o final, por mais que esteja detestando. Vai ver porque eu acredito na lei do Karma e acho que nenhum sofrimento é em vão.
Um dos principais problemas de DREAMGIRLS está nas canções, um arremedo da música produzida pelos artistas homenageados (Diana Ross e as Supremes, James Brown, e o som produzido pela produtora Motown). É mais ou menos o que o Cameron Crowe tentou fazer no seu QUASE FAMOSOS, ao tentar emular o som de bandas de rock setentistas, só que com um resultado muito pior. E isso se torna um problema em grande escala, quando a música ocupa cerca de 40% do filme. É só lá pela metade que DREAMGIRLS se transforma num daqueles musicais à moda antiga, com os atores cantando no meio da ação, substituindo diálogos falados por música. E é a partir dessa segunda metade que o filme fica mais parecido com as produções da Broadway.
A melhor coisa de DREAMGIRLS é, sem dúvida, Beyoncé Knowles. Com sua beleza, sua voz suave (principalmente se comparada com a da gritalhona concorrente do AMERICAN IDOL) e com sua elegância, Beyoncé fica acima de todo aquele lixo. Ao menos dessa vez, a Academia acertou em não premiar nenhuma das três canções do filme indicadas ao Oscar. Até mesmo o Eddie Murphy, que é um ator que eu respeito, não está tão bem assim no filme e nem tem o espaço suficiente para que possa mostrar o seu talento. Quanto ao Oscar de coadjuvante ganhado por Jennifer Hudson, vale lembrar que esse é um prêmio um pouco amaldiçoado. Muitas atrizes que ganharam esse prêmio acabaram afundando na carreira, ou às vezes caindo no esquecimento. Não estou torcendo contra a moça, só não pago mais pra ver nenhum filme que a traga cantando ou fazendo papel de vítima ou rejeitada. Não mesmo.
sexta-feira, março 09, 2007
O CONVITE AO PRAZER / CONVITE AO PRAZER / O CONVITE
Na minha adolescência, com os hormônios a mil, costumava assistir de madrugada os filmes de Walter Hugo Khouri que passavam na televisão. Na época (anos 80), eu não era ainda um "cinéfilo" e nem sabia da importância de Khouri no cenário cinemtográfico brasileiro, mas seus filmes recheados de cenas de sexo me atraiam bastante. Mas não era só o sexo. Havia algo de diferente naqueles filmes. Uma angústia, uma perturbação no ar. Essa angústia está presente desde os primeiros filmes de Khouri, dos anos 50, mas o sexo foi cada vez mais ocupando espaço em suas obras seguintes. A partir da década de 70, com a popularização das pornochanchadas, o cinema de Khouri foi cada vez mais encontrando o seu espaço no mercado e o sexo passou a predominar de maneira mais forte, gráfica e até agressiva.
O CONVITE AO PRAZER (1980) é um desses filmes do cineasta onde o sexo está mais presente. Tão presente a ponto de intoxicar os personagens, como na cena em que Luciano (Serafim Gonzalez) vai visitar o apartamento de Marcelo (Roberto Maya), o insaciável e vampiresco protagonista de grande parte dos filmes de Khouri. Luciano tem um misto de admiração e inveja de Marcelo, um sujeito que tem muito dinheiro e uma vida de Don Juan. No tal apartamento, Luciano, enquanto faz sexo pela terceira vez com uma das prostitutas convidadas pelo amigo, observa Marcelo em ação, usando das mais diversas posições, como se quisesse brincar de Kama Sutra.
Tudo começa quando Marcelo vai ao consultório odontológico de Luciano. Ele flagra o amigo com uma jovem garota de programa bastante disposta a ser usada como uma boneca inflável, sem resistência nenhuma às vontades dos homens. A jovem é Aldine Müller e essa cena é a mais excitante de todo o filme. Ela está na cadeira do dentista. Luciano tinha acabado de dar umazinha. Marcelo entra no consultório e vê a jovem. Ela está com a própria calcinha nas mãos, brincando, com um olhar de safada, olhando o quarentão (ou cinquentão, sei lá) que acabara de chegar. Luciano levanta a saia dela para mostrar o material para o amigo. Em momento algum do filme, Khouri conseguiria superar o nível de paudurescência e de elevação dessa seqüência.
As outras atrizes a aparecerem nuas no filme são Helena Ramos, no papel da esposa ciumenta de Luciano, Sandra Bréa, como a esposa de Marcelo, Nicole Puzzi, como a amiga da filha de Marcelo - o complexo de Elektra não é tão explorado nesse filme, mas é mais do que sugerido -, e Kate Lyra, como a secretária particular de Marcelo. Tem outras, mas essas são as mais memoráveis.
Em O CONVITE AO PRAZER, Marcelo está bem mais cínico e ácido que o de costume, sendo diversas vezes bastante desagradável. Principalmente para com a esposa, com quem nem consegue mais ter um diálogo. Mais uma vez a música de Rogério Duprat ajuda a enfatizar a atmosfera densa e perturbadora do filme, semelhante a Bergman. Não poderia faltar o jazz, tão característico dos filmes do diretor quanto o é nos filmes de Woody Allen. A música, por mais que em alguns momentos pareça alegre, sempre fica no ar remetendo a uma melancolia. Em certo momento do filme, Luciano cita a música como uma tentativa de Marcelo de voltar ao passado, aos tempos de sua juventude. Um tempo onde a esperança ainda existia e o desencanto e a falta de rumo com a vida não era tão presente. Mas talvez toda essa angústia existencialista, essa sede pelo sexo, seja só sem-vergonhice, como diria a mãe de Marcelo.
No ano seguinte, Khouri faria o filme que talvez seja a sua obra-prima máxima: EROS - O DEUS DO AMOR (1981), com câmera subjetiva e um elenco de beldades de dar água na boca. Eu, pelo menos, nunca esqueço da câmera se aproximando do corpo nu de Denise Dummont, dormindo de bruços na cama. Será que um dia alguma distribuidora vai se dispor a distribuir o filme em DVD? Os fãs continuam aguardando.
Agradecimentos ao amigo Sandro Ramos, que fez a gentileza de gravar o filme do Canal Brasil pra mim.
quinta-feira, março 08, 2007
O CÉU MANDOU ALGUÉM (3 Godfathers)
Estou com um bom estoque de Fords guardados para ver aos poucos. Por isso, o leitor do blog ainda vai ver muito comentário meu a respeito de filmes do mestre. Este O CÉU MANDOU ALGUÉM (1948) é um dos mais leves exemplares do cinema de John Ford. É bem a cara de uma sessão da tarde de vinte anos atrás. Por isso que muitas pessoas guardam com carinho a lembrança desse filme. No meu caso, como só o descobri agora, acabou sendo, na minha opinião, o mais fraco dos trabalhos do diretor. E parece que o autor do livro de John Ford editado pela Taschen também o considera, já que o filme recebeu apenas um único parágrafo de cerca de cinco linhas, enquanto filmes como NO TEMPOS DAS DILIGÊNCIAS (1939) e PAIXÃO DE FORTES (1946) receberam várias páginas de texto.
Mas o que afinal eu não gostei no filme? Acredito que o excesso de ternura tenha me incomodado um pouco. Claro que esses momentos mais ternos são até comuns na obra fordiana, mas isso é sempre equilibrado pelas sombras ou por momentos mais densos. O CÉU MANDOU ALGUÉM foi produzido para ser exibido no Natal americano, um programa bem família. Foi o primeiro western de Ford filmado em cores, fotografia a cargo de Winton Hoch, que fez um belíssimo trabalho e que acabou por trabalhar mais quatro vezes com Ford, sempre em fotografias em cores.
O filme é um remake de MARKED MEN (1919), do próprio John Ford, e estrelado pelo amigo de longa data Harry Carey, o homem que mais vezes trabalhou com o cineasta. Inclusive, O CÉU MANDOU ALGUÉM é dedicado ao falecido Harry Carey e conta com a participação de seu filho, Harry Carey, Jr, no papel de um dos três bandidos da trama. A mesma estória já foi filmada diversas vezes no cinema, sendo as mais conhecidas as versões em animação TOKYO GODFATHERS, de Satoshi Kon, e A ERA DO GELO, a animação da Fox.
Na trama, pouco antes do Natal, três ladrões de banco, em fuga no meio do deserto, encontram uma mulher prestes a dar a luz dentro de uma diligência sem cavalo. Como a mulher morre depois do parto, John Wayne, Pedro Armendáriz - que havia aparecido em SANGUE DE HERÓIS (1948) - e Harry Carey, Jr, se comprometem a cuidar da criança. A criança faz vir à tona o lado mais sensível e quase que maternal daqueles três homens. Assim, eles lutam para sobreviver no deserto, sem água e sem comida, mas a sobrevivência da criança está acima de tudo.
O filme de Ford tem uma conotação bem religiosa, cristã, comparando, inclusive, os três homens com os três reis magos e com diversas referências bíblicas. Achei que ele exagerou um pouco no tom, até pra mim, que curto melodramas um pouco carregados nas tintas. Acredito que o fillme tenha envelhecido bastante.
quarta-feira, março 07, 2007
TRÊS FILMES NACIONAIS
Bem que ANTÔNIA (2006) merecia um post só pra ele, mas às vezes é preciso ser objetivo para poder dar conta das obrigações do dia a dia e, ao mesmo tempo, manter a regularidade do blog. Então, aproveito a oportunidade para falar de mais dois filmes que eu não quis ver no cinema na ocasião do lançamento, mas que na telinha se revelaram melhores do que o esperado.
O CAMINHO DAS NUVENS
A melhor coisa do filme, sem dúvida, é ver a Cláudia Abreu cantando "Como É Grande o Meu Amor por Você", de Roberto Carlos e Erasmo Carlos. O CAMINHO DAS NUVENS (2003), de Vicente Amorim, é dedicado ao Rei e traz várias canções dele, na maioria das vezes, cantada pelos personagens. O filme é baseado na vida real de um homem (Wagner Moura) que sai da cidade de Santa Rita, no interior da Paraíba, para ir até o Rio de Janeiro de bicicleta, levando toda sua família, com o objetivo único de conseguir um emprego que lhe pague mil reais. Segundo ele, valor mínimo necessário para sustentar sua família. No meio do caminho, muita coisa acontece, muito sofrimento e frustração, ele testemunha o amadurecimento dos filhos, um deles a ponto de se separar da família, numa das seqüências mais emocionantes do filme. O filme conta com a participação especial de Sidney Magal, que se revelou um bom ator. Apesar de tudo, ficou faltando alguma coisa para que o filme seja considerado realmente bom. Talvez seja deficiência da montagem ou a falta de um final melhor pensado. Quanto a Claudinha Abreu, engraçado que na entrevista que ela deu para o programa do Jô Soares, ela se revelou bastante tímida e se recusou a cantar a canção do Roberto, a pedido do apresentador. Gravado da Globo.
SE EU FOSSE VOCÊ
Recusei-me a ver SE EU FOSSE VOCÊ (2006) quando foi exibido nos cinemas. Tanto por ter muito a cara de novela da Globo quanto por ter o seu enredo chupado de SWITCH - TROCARAM MEU SEXO, de Blake Edwards. Ou talvez de outro filme que eu desconheça. O maior diferencial desse trabalho de Daniel Filho é a uma abordagem mais centrada na difereça dos sexos e numa tentativa de se criar uma moral da história no final, o que acaba diminuindo ainda mais o resultado do filme. Na trama, Tony Ramos e Glória Pires formam um casal que costuma ter as suas briguinhas cotidianas. Um dia, acordam um com o corpo do outro. Há seqüências engraçadas, principalmente as que mostram Tony Ramos todo delicado. Destaque para a cena dele explicando para a mulher como utilizar o absorvente o.b. SE EU FOSSE VOCÊ foi o filme brasileiro de maior público no ano passado. No mesmo ano, outro filme de Daniel Filho teve uma boa recepção de público, o divertido MUITO GELO E DOIS DEDOS D'ÁGUA (2006). Agora um comentário machista e canalha, só pra não perder o costume: rapaz, como a Danielle Winits está bonita e gostosa, hein. Ela bem que podia fazer mais cinema. É verdade que ela aparece pelada em UM LOBISOMEM NA AMAZÔNIA, do Ivan Cardoso? No filme de Daniel Filho, ela faz o papel da secretária boa do Tony Ramos. Visto em DVD.
ANTÔNIA
Um belo trabalho de Tata Amaral, ANTÔNIA bem que merecia ter um sucesso maior na bilheteria. Parece que não adiantou muito a veiculação antecipada da série da Globo. Pelo menos, muita gente passou a conhecer as personagens, inclusive a garotinha que faz o papel da filha de Preta (Negra Li). A menina ganhou até um pequeno quadro no Fantástico na época da exibição da série. ANTÔNIA foi feito basicamente sem script. O próprio elenco que construiu os diálogos a partir das situações apresentadas. Por isso que o filme ficou com uma cara meio documental. A história das quatro mulheres pobres que tentam ganhar a vida cantando é emocionante e aos poucos elas vão nos conquistando. Talvez o maior problema de ANTÔNIA esteja nas canções compostas e gravadas pelas próprias atrizes para o filme, um tanto quanto fracas. Tanto que quando elas cantam canções mais conhecidas o resultado é infinitamente superior. O melhor exemplo disso está na cena em que elas cantam "Killing Me Softly With His Song", considerada pela revista Variety uma das melhores versões para a clássica canção. Realmente de arrepiar. Dois momentos do filme levam o espectador às lágrimas - principalmente se ele for chorão, como eu -: quando Preta pede perdão à Mayah (Quelynah) e quando as três amigas vão visitar a Barbarah (Leila Moreno) na cadeia. Esses momentos de extrema sensibilidade, que não têm vergonha de serem melodramáticos, conquistaram a minha simpatia. ANTÔNIA é um filme que eu veria novamente com prazer. Pena ter ficado tão pouco tempo em cartaz aqui em Fortaleza.
terça-feira, março 06, 2007
MOTOQUEIRO FANTASMA (Ghost Rider)
Bem que eu queria gostar, mas saí da sessão de MOTOQUEIRO FANTASMA (2007) com a convicção de que tinha acabado de ver um completo lixo, um sério candidato a pior filme do ano. E até que o filme é cheio de boas intenções, já que há uma fidelidade ao texto original e ao próprio conceito do herói de crânio flamejante. Mas o principal para um bom filme funcionar ficou faltando: um bom roteiro e uma boa direção. É preferível um diretor que desconhece quadrinhos mas que faz bons filmes (como Bryan Singer) do que um fã de quadrinhos incompetente na direção, como esse Mark Steven Johnson, diretor de DEMOLIDOR (2003) e roteirista de ELEKTRA (2005). Acredito que Johnson funcionaria melhor no papel de produtor. Por isso que ainda boto fé na série de TV que ele está criando, baseada em PREACHER, os quadrinhos bizarros e violentos de Garth Ennis. A boa notícia é que Johnson quer convidar diretores como Tarantino, Rodriguez e Kevin Smith para dirigir alguns episódios. Pode vir coisa boa por aí. Mas enquanto PREACHER não estréia, falemos mais um pouco de MOTOQUEIRO FANTASMA.
O Motoqueiro Fantasma é um dos vários personagens interessantes que a Marvel criou na década de 70. Naquela época, a editora criou a Mulher-Aranha, o Mestre do Kung Fu, o Punho de Ferro, o Pantera Negra, o Luke Cage. Aliás, foi de Luke Cage que o ator Nicolas Cage criou o seu nome, na tentativa de fugir do sobrenome Coppola e tentar construir sua carreira sem a ajuda da famiglia. Cage diz que atualmente não lê mais quadrinhos, mas todo mundo sabe que ele já foi leitor voraz desse tipo de leitura e muitos lembram daquele boato que rolou um tempo atrás sobre ele querer protagonizar um filme do Superman. Seria, no mínimo, muito estranho. Acho que como Superman, ele não combinaria, mas Cage ficou bem como o Motoqueiro Fantasma. E a ele não cabe nenhuma culpa quanto ao fracasso do filme. Quando eu falo "fracasso" não quero dizer comercial, já que o filme tem faturado bem nos Estados Unidos e a sessão a que eu fui do filme estava surpreendentemente lotada. Uma prova de que trailer ruim não necessariamente assusta a audiência.
Assim como o Monstro do Pântano da DC, o Motoqueiro Fantasma é um herói da Marvel cujas histórias cruzam o território do horror. O personagem faz um pacto com o demônio para salvar o seu pai, com um câncer em estado avançado. Agora, se eu não me engano, nos quadrinhos, Johnny Blaze chegou a fazer um daqueles rituais satanistas com direito a estrela de cinco pontas e sangue derramado. Assim, o cinema - mais uma vez - acabou por suavizar o pacto que Blaze fez com o diabo, interpretado no filme por Peter Fonda, um ícone da rebeldia sessentista e que quase sempre é lembrado montando uma motocicleta. Infelizmente, Fonda também não salva o filme. Ao contrário, quando ele aparece, o filme fica ainda pior. Wes Bentley é outro que está risível como um demônio que não assusta nem criancinha. Quem talvez escapa, especialmente nos momentos de ternura do filme, é Eva Mendes. Sem falar que o diretor teve a bondade de focalizar a câmera diversas vezes no belo decote de Eva. Taí. Se tem alguma coisa boa no filme são os peitos de Eva Mendes. Com todo o respeito.
P.S.: Está no ar a nova edição da Zingu! O maior destaque do mês é o Dossiê Ozualdo Candeias, uma homenagem ao cineasta marginal falecido no mês passado.
segunda-feira, março 05, 2007
LETRA E MÚSICA (Music & Lyrics)
Hugh Grant é o grande astro das comédias românticas da atualidade. Ele representa para os anos 90-2000 o que outro Grant, o Cary, representou para as décadas de 30 e 40. E seu estilo é marcante. Não existe outro astro que faça tão bem essa mistura de cinismo e timidez. Já Drew Barrymore não tem a mesma tradição e a mesma quantidade de comédias românticas em sua filmografia, que é bem mais difersificada, mas recentemente ela protagonizou dois excelentes filmes do gênero - COMO SE FOSSE A PRIMEIRA VEZ (2004) e AMOR EM JOGO (2005). Por isso, a notícia de que Hugh e Drew fariam uma comédia romântica juntos foi recebida com alegria por mim. Muito inteligente da parte dos produtores juntá-los num mesmo filme. Claro que haveria o risco de não haver uma boa química entre os dois, como já havia acontecido em AMOR À SEGUNDA VISTA (2002), quando Hugh atuou ao lado de Sandra Bullock nesse filme que, aliás, é dirigido pelo mesmo Marc Lawrence deste LETRA E MÚSICA (2007).
Felizmente, dessa vez, houve uma boa química entre os astros. E a trama, apesar de não fugir muito dos eternos clichês, é bem desenvolvida e traz algumas novidades. A maior delas é a maneira bem humorada como é mostrada a música pop dos anos 80 e a dos anos 2000. Os créditos iniciais começam com um divertido clipe da PoP!, a banda fictícia de Hugh Grant que tem um visual bem parecido com a Wham! - aquela banda meio brega do George Michael - e com o Duran Duran.
Hugh Grant é Alex Fletcher, um astro pop decadente que sobrevive de pequenos shows dedicados a públicos saudosistas. Sua chance de se reerguer é compor uma canção às pressas para uma nova estrela da música pop, Cora (a estreante Haley Bennett), uma espécie de versão new age da Britney Spears. (Inclusive, essa menina, Haley Bennet, chamou mesmo a atenção nesse filme e pode ser que tenha futuro em Hollywood.) Como Grant nunca foi bom letrista, ele pede ajuda a uma moça que tinha se encarregado de regar as suas plantas (Drew Barrymore) e que, por acaso, mostrou ter certa facilidade em construir rimas decentes. E não seria nenhum spoiler eu dizer que os dois terão algum tipo de affair, já que disso todo mundo já sabe, até mesmo antes de ver o trailer do filme.
LETRA E MÚSICA traz momentos de beleza - isso, claro, se o espectador não for muito exigente e não tiver preconceito com comédias açucaradas. O ápice é a cena da apresentação final, com Grant cantando ao lado de Cora. Mas até chegar lá, a boa química dos astros e o andamento bem desenvolvido do filme garantem a certeza de se ir para casa um pouco mais leve, provavelmente com a melodia de "Way Back into Love" na cabeça.
sábado, março 03, 2007
SANGUE DE HERÓIS / SANGUE DE HERÓI / FORTE APACHE (Fort Apache)
Dia bastante incômodo pra mim. Saí para ir ao cinema e o pneu do carro estourou no caminho. Perdi a direção do carro e bati no carro que vinha atrás, que não conseguiu frear a tempo. Felizmente não aconteceu nada comigo e com o cara do outro carro, mas doeu no bolso o estrago causado. Tinha saído de casa para ver LETRA E MÚSICA, a comédia do Hugh Grant. Infelizmente vai ficar pra outro dia. Na falta de coisa melhor para fazer, e tentando diminuir um pouco essa sensação de perda que ficou no ar, vou tentar falar um pouco sobre mais um filme do mestre John Ford. Quem sabe assim, esse mal estar diminui, dando espaço para a sensação boa de estar fazendo algo de produtivo.
Em comparação com PAIXÃO DE FORTES (1946), o título anterior de Ford que eu havia assistido, SANGUE DE HERÓIS (1948) é bem menos compacto e econômico. Nesse filme, o diretor conta uma estória que se estende por mais de duas horas e leva toda a primeira metade do filme apresentando os personagens. O primeiro que nos é apresentado é o personagem de Henry Fonda, no papel de um tenente coronel, herói da Guerra Civil, que é enviado para chefiar um grupo em Forte Apache, um posto de cavalaria rodeado de apaches, próximo da fronteira mexicana. O problema é que os apaches fugiram da reserva indígena e o coronel deve fazer com que eles voltem. John Wayne é um capitão da cavalaria que prefere que tudo se resolva de maneira pacífica, mas o velho e ranzinza coronel prefere adotar o uso da força, não importando que para isso muitos de seus homens morram. Completam os personagens principais, o casal John Agar e Shirley Temple, na época, um casal na vida real.
No final, quando Ford faz uma crítica à fama de herói desse coronel, remetendo ao famoso matador de índios General Custer, lembrei-me logo de A CONQUISTA DA HONRA, de Clint Eastwood, quando tanto a noção de heroísmo quanto a construção de um mito são questionadas. Bem diferente da visão romântica de Raoul Walsh no seu O INTRÉPIDO GENERAL CUSTER.
SANGUE DE HERÓIS foi um dos maiores sucessos de John Ford, o que acabou por levá-lo a fazer mais westerns, tornando-se o grande mestre do gênero de todos os tempos. O western é um gênero tão bonito e que se torna ainda mais poderoso na tela grande, graças aos planos gerais, os tons épicos e as paisagens, mas a nossa geração não teve a sorte de pegar essa era de ouro do gênero. Fico imaginando o impacto que deve ter sido no cinema a cena em que aparecem centenas de índios, contra o pouco número de soldados da cavalaria. Sinto falta disso no cinema hoje em dia. Acredito que o último western de verdade que eu vi no cinema foi PACTO DE JUSTIÇA, de Kevin Costner.
Saiu uma edição melhor do filme pela Warner, com o título SANGUE DE HERÓI, mas eu só consegui locar a versão de qualidade inferior, da ClassicLine, com o título SANGUE DE HERÓIS, no plural. O filme é o primeiro de uma trilogia de John Ford sobre a cavalaria. Os outros dois são LEGIÃO INVENCÍVEL (1949) e RIO GRANDE (1950).
sexta-feira, março 02, 2007
QUE FIZ EU PARA MERECER ISTO? (¿Qué He Hecho Yo para Merecer Esto!!)
Ontem fui pela primeira vez ao Cine Benjamim Abrahão, na Casa Amarela. Primeira vez, claro, desde que a sala foi aberta para o circuito comercial - ainda que alternativo. Pelo que pude ver, o lugar ainda não está sendo freqüentado pelo público, já que eu assisti a QUE FIZ EU PARA MERECER ISTO? (1984) completamente sozinho. Foi a segunda vez que isso aconteceu comigo. A primeira havia sido na sessão de HANA-BI, do Takeshi Kitano, mas naquele dia havia uma desculpa para a ausência de público, que era o jogo do Brasil, na final da Copa América, que eu estava me lixando pra assistir. Quanto à falta de público para o cinema da Casa Amarela, eu espero que essa situação se reverta, senão vamos continuar tendo apenas cinemas de shopping. Deixando claro que eu adoro cinema em shopping, pela comodidade de se passear com segurança, pelo ar condicionado e pelo fato de se poder visitar as lojas de minha preferência, mas é bom também freqüentar uma sala de cinema cujo público está ali exclusivamente pelo filme.
Quanto ao citado filme de Pedro Almodóvar, posso não ter gostado muito dele e de ter olhado para o relógio algumas vezes, mas para quem aprecia a obra do diretor, é um filme essencial. Principalmente por ser o principal elo de ligação com VOLVER (2006), o mais recente filme do diretor. Além da presença de Carmen Maura, atriz constante nos filmes da década de 80 do diretor, há também Chus Lampreave, como a avó. Ela meio que repete o papel em VOLVER, no papel da Tia Paula. Interessante que, na época de QUE FIZ EU PARA MERECER ISTO?, ela já parecia velhinha. Mas não é apenas isso que há de comum entre os dois filmes. Há também a família desfuncional, a mulher que mata o marido sacana na cozinha e recebe o apoio do espectador, as letras grandes e vermelhas apresentando o filme nos créditos iniciais, a referência à cidade de Granada, a falta de dinheiro dos personagens, a mulher tendo que trabalhar fora para sustentar a família.
Veronica Forque, a sexy personagem título de KIKA (1993), uma espécie de Marilyn Monroe dos filmes de Almodóvar, interpreta uma prostituta simpática e amorosa com seus clientes. A excelente Cecilia Roth também aparece, mas numa pequena ponta. Até o próprio Almodóvar também aparece. Mas o grande mérito do filme está mesmo na performance de Carmen Maura. Se mais de vinte anos depois ela apareceria mais velha e grisalha em VOLVER, nesse filme ela aparece até numa cena de sexo no banheiro. E Almodóvar sabe como poucos extrair a sensualidade de suas atrizes - como esquecer da Victoria Abril tirando a calcinha em ATA-ME!?
Mas por mais que eu ache interessante essa fase inicial do diretor, eu não fiquei muito contente com essa tentativa de ele voltar às origens com VOLVER, não. Sabemos que a sua direção agora é bem mais sofisticada e sutil e que se torna até difícil voltar ao estilo mais despojado, quase tosco, de sua fase inicial, mas eu queria mesmo era vê-lo seguir a mesma linha de FALE COM ELA e nos presentear com outra obra-prima. Mas, como diria o slogan da campanha de um conhecido político, "deixa o homem trabalhar." Almodóvar é o tipo de cineasta que funciona melhor com liberdade.
quinta-feira, março 01, 2007
TURISTAS
Engraçado que quando ouvi falar desse filme e da polêmica em torno do modo como o Brasil é mostrado, eu imaginei que ele seria um grande sucesso de bilheteria no país do Carnaval. Em vez disso, depois de uma semana de exibição, o filme já passou a ter apenas minguadas sessões. Das duas uma, ou o povo preferiu mesmo não ver o filme devido à má imagem que ele faz do Brasil ou a propaganda gratuita em cima da polêmica não surtiu o efeito desejado pelos produtores. Na minha opinião, TURISTAS (2006) é um filme bem mais divertido que SERPENTES A BORDO, pra comparar com outro exemplar do cinema exploitation recente.
Engraçado quando passou uma matéria sobre TURISTAS no Fantástico, os âncoras da Globo falando do filme de forma perjorativa, sobre o quanto ele pode prejudicar o turismo local. Aí, logo em seguida, passam uma matéria sobre um grupo de turistas que foram assaltados no Rio de Janeiro. Só pode ser piada mesmo.
TURISTAS já começa bastante animado, com uma canção do Marcelo D2, e termina com "Fico Assim sem Você", de Claudinho e Buchecha, na conhecida versão de Adriana Calcanhoto. Não deixa de ser bastante estranho ver um filme de horror com essas canções e com muitas falas em português. Lá pelo meio, o filme também mostra um pouco do funk carioca, o pancadão, numa cena em que os turistas estão se esbaldando de beber caipirinha e cerveja e de meter a mão no que de melhor o país tem, as mulheres. O que eles não sabiam é que iriam acordar sem nenhum tostão no bolso e correndo perigo de vida - dois deles seriam carregados como porcos amarrados numa vara. O grande vilão do filme é um médico que captura turistas incautos para tirar os seus órgãos. Há uma seqüência perturbadora desse tal médico tirando com toda a calma do mundo os órgãos de uma bela jovem. Porém, curiosamente, os momentos de mais adrenalina do filme se passam debaixo d'água, perto de umas grutas que têm água cristalina.
TURISTAS foi dirigido por John Stockwell, cujos filmes mais conhecidos são o simpático GOSTOSA LOUCURA (2001), com a Kirsten Dunst, e a aventura MERGULHO RADICAL (2005), com Paul Walker e Jessica Alba. Talvez esse último filme tenha inspirado as cenas debaixo d'água de TURISTAS. Para um exploitation movie, até que há bem poucas cenas de nudez, ainda que a exploração da beleza e sensualidade das meninas esteja em toda a primeira metade do filme. Se é bom eu não sei, só sei que eu gostei.