quinta-feira, março 08, 2007
O CÉU MANDOU ALGUÉM (3 Godfathers)
Estou com um bom estoque de Fords guardados para ver aos poucos. Por isso, o leitor do blog ainda vai ver muito comentário meu a respeito de filmes do mestre. Este O CÉU MANDOU ALGUÉM (1948) é um dos mais leves exemplares do cinema de John Ford. É bem a cara de uma sessão da tarde de vinte anos atrás. Por isso que muitas pessoas guardam com carinho a lembrança desse filme. No meu caso, como só o descobri agora, acabou sendo, na minha opinião, o mais fraco dos trabalhos do diretor. E parece que o autor do livro de John Ford editado pela Taschen também o considera, já que o filme recebeu apenas um único parágrafo de cerca de cinco linhas, enquanto filmes como NO TEMPOS DAS DILIGÊNCIAS (1939) e PAIXÃO DE FORTES (1946) receberam várias páginas de texto.
Mas o que afinal eu não gostei no filme? Acredito que o excesso de ternura tenha me incomodado um pouco. Claro que esses momentos mais ternos são até comuns na obra fordiana, mas isso é sempre equilibrado pelas sombras ou por momentos mais densos. O CÉU MANDOU ALGUÉM foi produzido para ser exibido no Natal americano, um programa bem família. Foi o primeiro western de Ford filmado em cores, fotografia a cargo de Winton Hoch, que fez um belíssimo trabalho e que acabou por trabalhar mais quatro vezes com Ford, sempre em fotografias em cores.
O filme é um remake de MARKED MEN (1919), do próprio John Ford, e estrelado pelo amigo de longa data Harry Carey, o homem que mais vezes trabalhou com o cineasta. Inclusive, O CÉU MANDOU ALGUÉM é dedicado ao falecido Harry Carey e conta com a participação de seu filho, Harry Carey, Jr, no papel de um dos três bandidos da trama. A mesma estória já foi filmada diversas vezes no cinema, sendo as mais conhecidas as versões em animação TOKYO GODFATHERS, de Satoshi Kon, e A ERA DO GELO, a animação da Fox.
Na trama, pouco antes do Natal, três ladrões de banco, em fuga no meio do deserto, encontram uma mulher prestes a dar a luz dentro de uma diligência sem cavalo. Como a mulher morre depois do parto, John Wayne, Pedro Armendáriz - que havia aparecido em SANGUE DE HERÓIS (1948) - e Harry Carey, Jr, se comprometem a cuidar da criança. A criança faz vir à tona o lado mais sensível e quase que maternal daqueles três homens. Assim, eles lutam para sobreviver no deserto, sem água e sem comida, mas a sobrevivência da criança está acima de tudo.
O filme de Ford tem uma conotação bem religiosa, cristã, comparando, inclusive, os três homens com os três reis magos e com diversas referências bíblicas. Achei que ele exagerou um pouco no tom, até pra mim, que curto melodramas um pouco carregados nas tintas. Acredito que o fillme tenha envelhecido bastante.
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