sexta-feira, março 09, 2007
O CONVITE AO PRAZER / CONVITE AO PRAZER / O CONVITE
Na minha adolescência, com os hormônios a mil, costumava assistir de madrugada os filmes de Walter Hugo Khouri que passavam na televisão. Na época (anos 80), eu não era ainda um "cinéfilo" e nem sabia da importância de Khouri no cenário cinemtográfico brasileiro, mas seus filmes recheados de cenas de sexo me atraiam bastante. Mas não era só o sexo. Havia algo de diferente naqueles filmes. Uma angústia, uma perturbação no ar. Essa angústia está presente desde os primeiros filmes de Khouri, dos anos 50, mas o sexo foi cada vez mais ocupando espaço em suas obras seguintes. A partir da década de 70, com a popularização das pornochanchadas, o cinema de Khouri foi cada vez mais encontrando o seu espaço no mercado e o sexo passou a predominar de maneira mais forte, gráfica e até agressiva.
O CONVITE AO PRAZER (1980) é um desses filmes do cineasta onde o sexo está mais presente. Tão presente a ponto de intoxicar os personagens, como na cena em que Luciano (Serafim Gonzalez) vai visitar o apartamento de Marcelo (Roberto Maya), o insaciável e vampiresco protagonista de grande parte dos filmes de Khouri. Luciano tem um misto de admiração e inveja de Marcelo, um sujeito que tem muito dinheiro e uma vida de Don Juan. No tal apartamento, Luciano, enquanto faz sexo pela terceira vez com uma das prostitutas convidadas pelo amigo, observa Marcelo em ação, usando das mais diversas posições, como se quisesse brincar de Kama Sutra.
Tudo começa quando Marcelo vai ao consultório odontológico de Luciano. Ele flagra o amigo com uma jovem garota de programa bastante disposta a ser usada como uma boneca inflável, sem resistência nenhuma às vontades dos homens. A jovem é Aldine Müller e essa cena é a mais excitante de todo o filme. Ela está na cadeira do dentista. Luciano tinha acabado de dar umazinha. Marcelo entra no consultório e vê a jovem. Ela está com a própria calcinha nas mãos, brincando, com um olhar de safada, olhando o quarentão (ou cinquentão, sei lá) que acabara de chegar. Luciano levanta a saia dela para mostrar o material para o amigo. Em momento algum do filme, Khouri conseguiria superar o nível de paudurescência e de elevação dessa seqüência.
As outras atrizes a aparecerem nuas no filme são Helena Ramos, no papel da esposa ciumenta de Luciano, Sandra Bréa, como a esposa de Marcelo, Nicole Puzzi, como a amiga da filha de Marcelo - o complexo de Elektra não é tão explorado nesse filme, mas é mais do que sugerido -, e Kate Lyra, como a secretária particular de Marcelo. Tem outras, mas essas são as mais memoráveis.
Em O CONVITE AO PRAZER, Marcelo está bem mais cínico e ácido que o de costume, sendo diversas vezes bastante desagradável. Principalmente para com a esposa, com quem nem consegue mais ter um diálogo. Mais uma vez a música de Rogério Duprat ajuda a enfatizar a atmosfera densa e perturbadora do filme, semelhante a Bergman. Não poderia faltar o jazz, tão característico dos filmes do diretor quanto o é nos filmes de Woody Allen. A música, por mais que em alguns momentos pareça alegre, sempre fica no ar remetendo a uma melancolia. Em certo momento do filme, Luciano cita a música como uma tentativa de Marcelo de voltar ao passado, aos tempos de sua juventude. Um tempo onde a esperança ainda existia e o desencanto e a falta de rumo com a vida não era tão presente. Mas talvez toda essa angústia existencialista, essa sede pelo sexo, seja só sem-vergonhice, como diria a mãe de Marcelo.
No ano seguinte, Khouri faria o filme que talvez seja a sua obra-prima máxima: EROS - O DEUS DO AMOR (1981), com câmera subjetiva e um elenco de beldades de dar água na boca. Eu, pelo menos, nunca esqueço da câmera se aproximando do corpo nu de Denise Dummont, dormindo de bruços na cama. Será que um dia alguma distribuidora vai se dispor a distribuir o filme em DVD? Os fãs continuam aguardando.
Agradecimentos ao amigo Sandro Ramos, que fez a gentileza de gravar o filme do Canal Brasil pra mim.
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